tag:blogger.com,1999:blog-8215896781525334086.post5570502818774840110..comments2023-06-14T00:55:21.536-07:00Comments on De Safo para Cleis: Sobre nossas perdasSandra Brazilhttp://www.blogger.com/profile/08271541386858180473noreply@blogger.comBlogger3125tag:blogger.com,1999:blog-8215896781525334086.post-91114763363767654452012-06-19T14:40:19.786-07:002012-06-19T14:40:19.786-07:00Bom você fazer-me lembrá-lo... Beijo!Bom você fazer-me lembrá-lo... Beijo!Iorlandonoreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-8215896781525334086.post-44156938526037509462012-06-19T14:25:08.948-07:002012-06-19T14:25:08.948-07:00Eu adoro este poema do Drummond... é belíssimo. &q...Eu adoro este poema do Drummond... é belíssimo. "Dragão partido, flor branca". Lindo. Que bom vc fazer que eu o relembre... Beijo!Sandra Brazilhttps://www.blogger.com/profile/08271541386858180473noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-8215896781525334086.post-10262068750889573352012-06-19T13:32:38.832-07:002012-06-19T13:32:38.832-07:00Fez-me lembrar:
Resíduo
Carlos Drummond de Andrade...Fez-me lembrar:<br />Resíduo<br />Carlos Drummond de Andrade<br /><br />De tudo ficou um pouco<br />Do meu medo. Do teu asco.<br />Dos gritos gagos. Da rosa<br />ficou um pouco<br /><br /><br />Ficou um pouco de luz<br />captada no chapéu.<br />Nos olhos do rufião<br />de ternura ficou um pouco<br />(muito pouco).<br /><br /><br />Pouco ficou deste pó<br />de que teu branco sapato<br />se cobriu. Ficaram poucas<br />roupas, poucos véus rotos<br />pouco, pouco, muito pouco.<br /><br /><br />Mas de tudo fica um pouco.<br />Da ponte bombardeada,<br />de duas folhas de grama,<br />do maço<br />- vazio - de cigarros, ficou um pouco.<br /><br /><br />Pois de tudo fica um pouco.<br />Fica um pouco de teu queixo<br />no queixo de tua filha.<br />De teu áspero silêncio<br />um pouco ficou, um pouco<br />nos muros zangados,<br />nas folhas, mudas, que sobem.<br /><br /><br />Ficou um pouco de tudo<br />no pires de porcelana,<br />dragão partido, flor branca,<br />ficou um pouco<br />de ruga na vossa testa,<br />retrato.<br /><br /><br />Se de tudo fica um pouco,<br />mas por que não ficaria<br />um pouco de mim? no trem<br />que leva ao norte, no barco,<br />nos anúncios de jornal,<br />um pouco de mim em Londres,<br />um pouco de mim algures?<br />na consoante?<br />no poço?<br /><br /><br />Um pouco fica oscilando<br />na embocadura dos rios<br />e os peixes não o evitam,<br />um pouco: não está nos livros.<br /><br /><br />De tudo fica um pouco.<br />Não muito: de uma torneira<br />pinga esta gota absurda,<br />meio sal e meio álcool,<br />salta esta perna de rã,<br />este vidro de relógio<br />partido em mil esperanças,<br />este pescoço de cisne,<br />este segredo infantil...<br />De tudo ficou um pouco:<br />de mim; de ti; de Abelardo.<br />Cabelo na minha manga,<br />de tudo ficou um pouco;<br />vento nas orelhas minhas,<br />simplório arroto, gemido<br />de víscera inconformada,<br />e minúsculos artefatos:<br />campânula, alvéolo, cápsula<br />de revólver... de aspirina.<br />De tudo ficou um pouco.<br /><br /><br />E de tudo fica um pouco.<br />Oh abre os vidros de loção<br />e abafa<br />o insuportável mau cheiro da memória.<br /><br /><br />Mas de tudo, terrível, fica um pouco,<br />e sob as ondas ritmadas<br />e sob as nuvens e os ventos<br />e sob as pontes e sob os túneis<br />e sob as labaredas e sob o sarcasmo<br />e sob a gosma e sob o vômito<br />e sob o soluço, o cárcere, o esquecido<br />e sob os espetáculos e sob a morte escarlate<br />e sob as bibliotecas, os asilos, as igrejas triunfantes<br />e sob tu mesmo e sob teus pés já duros<br />e sob os gonzos da família e da classe,<br />fica sempre um pouco de tudo.<br />Às vezes um botão. Às vezes um rato.Iorlandonoreply@blogger.com