O pêssego
Na textura da fruta
afundo minha unha:
estará madura?
Desponta na abaulada penugem
a meia lua
impressão digital do meu gesto
indeciso
entre afeto e arranhadura.
Que sente a fruta?
Do poço da sua seiva
um calafrio perplexo me reconhece
na gota que se liberta.
Transpira o pêssego o pensamento mais denso
(o último)
porque
entrementes
(e ainda úmido de queixa)
tudo deixa contra o brilho dos meus dentes.
(Livro dos possuídos. Iluminuras, 2002.)
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