Um dia, há muito tempo, ele chegou atrasado ao nosso encontro. Eu não sabia. Ele não sabia. Mas era um encontro marcado. Havia uma bicicleta caída no gramado. O script era roubarmos e fugirmos juntos, pedalar pela vida. Eu chegara cedo à sessão censurada e proibida. Míope, aterrei meus óculos bem lá na frente para assistir. Ele só chegou muito tempo depois, atrasado, como sempre, conseguiu lugar na última fila. A bicicleta ficou esquecida. Eu assisti toda a sessão, caxias. Ele sumiu por um beco qualquer, nos perdemos.
Os ombros esbarraram nas livrarias, nos cafés, nas filas de cinema, mas não sabíamos que a vida é um sorvedouro. Despercebemos e seguimos cursos e fluxos, e abriram-se sendas.
Muito tempo depois, tentando fugir do sorvedouro atroz, ele pinçou um pôr de sol que eu lamentava numa tarde de outono. Deu de presente a distância. Sem sequer saber do gramado, da sessão proibida, da bicicleta, do tudo que o acaso concertara em suas mãos.
arte imita vidas
ResponderExcluirpalavras lindas
idas e vindas
infinitas partidas