Daqui a alguns dias será outono... Nem acredito como 2010 está passando tão rápido diante de mim. Pisco os olhos preguiçosos: era reveillon, foi carnaval, e lá se foram algumas semanas. Já completei n trabalhos, e já tenho outros tantos aqui diante de mim para terminar.
A velha pergunta: por que corremos tanto? Para quê? Para onde? Será que precisamos acelerar assim? Se fôssemos mais devagar não chegaríamos no mesmo lugar? O que perdemos ao longo do caminho nessa velocidade cibernética? O que ganhamos? Jamais paro pra pensar nisso. Não tenho tempo. Aliás, não me dão tempo.
Mal me entregam um trabalho, e alguém já me liga e pergunta se conseguirei entregar no prazo, pois já está atrasado, e é preciso fechar o arquivo para impressão, e o livro tem de ficar pronto para o lançamento, que já está anunciado na mídia, e não há como esticar o prazo, e... e... Fico ouvindo em silêncio, pensando por que um livro não pode ser feito no seu tempo, no seu tempo de livro -- não de produtos fabricados em série --, não pular etapas, não pressionar os colaboradores, fazê-lo com calma, imprimi-lo sem matar do coração o técnico da gráfica com tantos telefonemas pressionando para que dê "nó em pingo d'água". Eu mesma já sofri desse mal: com a sorte de que ninguém morreu do coração por conta dos meus apelos, e que um dia desci desse bonde amalucado tendo noção de que não queria mais viver assim.
É difícil responder a certas perguntas, e eu não entendo por que corro tanto, deixo pequenas coisas prazerosas de lado para dar conta do trabalho, pulo um cinema aqui e ali para finalizar um projeto, deixo de jantar com minha filha, ou amigos, ou família, namorado, porque estou sempre com a sensação de estar atrasada. Mas não interrompo o processo para entender: estou atrasada mesmo? Ou alguém deu um start e eu comecei a correr sem me dar conta?
Bem, é outono quase, a deliciosa estação. E falando de tempo, tenho pensado em aproveitar mais a luz dourada que o sol trará nos próximos dias, andarei mais pelo parque, irei mais à Pinacoteca, serei mais vezes espectadora do pôr do sol, verei as ruas de Perdizes com mais poesia e encanto, caminharei pela Paulista com olhos de quem quer ver o que há de melhor. Isso é um comprometimento que tenta responder àquelas perguntas e mudar o curso dessa história, ao menos, da minha história e daqueles que estão ao meu redor.
Aqui da minha janela de trabalho, posso ver o verde, coberto de azul, e edifícios que são meu skyline paulistano, tudo amarelando no final de tarde. Uma onda de sentimento invade, inexplicável, uma ternura em relação ao tempo, ao conforto e aconhego que esse dourado traz consigo. Sorte, muita sorte a minha trabalhar neste lugar e ter esse cenário tingido pelo outono que está chegando. Estarei pronta quando ele vier e direi as palavras mágicas: "pode entrar". Na minha casa e no meu coração.
"Os mensageiros
Palavra de lesma numa lâmina de grama?
Não é minha. Não aceite.
Ácido acético numa lata selada?
Não aceite. Não é genuíno.
Anel de ouro com reflexo de sol?
Loas. Loas e mágoa.
Geada na folha, o caldeirão
Imaculado, estalando e falando
Sozinho no alto de cada um
Dos nove Alpes negros.
Distúrbio nos espelhos,
O mar estilhaçando seu cinza --
Amor, amor, minha estação."
(Sylvia Plath. Poemas. Trad. Rodrigo Lopes e Maurício Mendonça. Iluminuras, 1994)
Poxa, que lindo isso!
ResponderExcluirSabe, Sandra? O tempo é uma ficção sacana!
Consegui fazer aquela minha caminhada anual pela Paulista... Ela muda é no minuto seguinte... Rápido demais para nossos olhos...
Um ótimo outono pra vc!
Beijos,
xico santos