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No blogue escrevo meus próprios textos (contos, crônicas, poemas, prosa poética) e também sobre os mais variados assuntos: literatura, cinema, viagens, gastronomia, amenidades, humanidades, música. Tudo que me toca. E que possa tocar os leitores.

sábado, 3 de janeiro de 2015

Para entender o quebra-cabeça da vida: Lição 1

1981. Eu tinha 19 anos. Assisti a "Um homem, uma mulher" numa dessas mostras retrospectivas que povoavam a cidade. Acho que foi esse o divisor de águas entre minha vida de menina e o primeiro passo na estrada de verdadeiramente ser mulher. Aquilo me tomou de um jeito e me enlouqueceu: a estética, a direção, os atores, o tema, a música. Fui à caça do velho e bom Long-Play da trilha sonora. Apesar da dificuldade, acabei encontrando! Foram dias, semanas, meses de "Samba Saravah" e "Aujourd'ui c'est toi, aujourd'ui c'est moi" se repetindo na vitrola.
Em casa, ninguém mais suportava a tal da música "daquele filme". Eu fazia a faculdade de medicina então. Mas algo revirou dentro de mim, um tornado, um terremoto. Decidi abandonar tudo. Quando dei por mim estava na faculdade de Letras. Por essas coincidências ou acasos (as peças do quebra-cabeça), eu acabei me graduando em francês. Isso tornou mais sutil minha compreensão daquele mundo dos filmes franceses, da nouvelle vague, dos cahiers du cinéma, da fotografia e arte, daquela literatura impressionante, daquele mundo de cultura e história. Um universo abriu-se diante de mim, como um mar se abre para permitir que alguém possa chegar a outro lugar diverso. Pois em mais um dos acasos, no ano em que fui estudar em Paris, estreava nos cinemas franceses "Un homme et une femme: 20 ans après" assim como a "Ópera do malandro", de nosso Chico Buarque. Me sentei naquelas salinhas deliciosamente opressivas, antigas e pequenas que eram -- um ar de cinéma partout... Quando voltei para casa tempo depois, apesar do CD player, eu havia guardado meu toca-discos. Ao chegar em casa, a primeira música que ouvi foi "Samba Saravah"... Eu estava definitivamente de volta. E agora, eu era uma mulher. Um ano e três meses depois disso, Isadora recém-nascida dormia tranquila em meus braços.

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