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No blogue escrevo meus próprios textos (contos, crônicas, poemas, prosa poética) e também sobre os mais variados assuntos: literatura, cinema, viagens, gastronomia, amenidades, humanidades, música. Tudo que me toca. E que possa tocar os leitores.

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Meu minilivro: 4a Estação

Uma estação estação-felicidade que me leva a 2012...

Transcrevo aqui os poemas das páginas do minilivro 4a Estação, que traz quatro poemas meus, com concepção e design de Raquel Matsushita, capas em serigrafia realizadas por Cesar (Arteoficina).


Capa de 4a Estação






Verão

Disseminação.
Recolha.
Tempo de recolher palavras
E disseminar sentimentos.
Momento de areia branca,
fundo azul, palavras sonoras:
sereia, farol, maresia, conchas.

Mas sou a mesma de sempre.
Essa mulher que quer ganhar
os mares e o mundo.


Outono

Dia de outono,
sol frágil
e delicado
faz o degelo.

Aquecido,
o coração
quer mais.
E há de ter...



Inverno

Dia inglês.
Dia vestido de cinza.
Lã delicada,
sensação de lareira.
O horizonte chumbo,
só me restam o recolhimento
e uma espécie
de oração silenciosa
ecoando ao mundo
esta felicidade clandestina.


Primavera

Leve torpor nos sentidos.
A natureza: luz delicada
e cores recém-nascidas.
No mundo dos homens, alvoroço.
Tudo pode acontecer ––

Ao chegar, estarei pronta.
E direi as palavras mágicas:
Pode entrar.
Na minha casa.
E no meu coração.

Dia de falar de amizade, trabalho e de meu minilivro. Hoje é dia de falar de Raquel Matsushita

Conheço Raquel Matsu -- no fundo, ela não gosta que eu a chame assim, mas quando digo isso ela fala: "ah, eu não ligo!" -- desde que Isadora tinha 5 anos. Ela já tem 24.
Raquel Matsushita fazia parte de uma turma para a qual eu, recém-separada, acabara de entrar, apresentada por Renata, que eu conhecera nos bancos da faculdade de Letras e de quem fui muito amiga durante anos, inclusive da família, de quem tenho muita saudade até hoje. Eles foram meu esteio durante muito tempo depois da minha separação.
Eu não tinha turma nenhuma nessa época, porque os amigos de meu ex-marido não queriam conversa comigo, já que fora eu quem decidira pela separação, portanto, tive que me apegar aos amigos mais jovens, universitários, tomar cervejas em botecos, participar de festas do 'brega', ir a bairros escusos em festas 'estranhas e gente esquisita', para poder voltar à vida naquela fase elo perdido em que me via. A turma era ótima. Meninos e meninas inteligentes, politizados, engajados, cinéfilos, gostavam de arte, música. Adorei e fiquei muito tempo ali. O elo perdido acabou se tornando um 'estar'.
Eu sei que todos adoravam Isadora, minha filha. Uma menina doce, quietinha, ia às festas e quando batia o sono não ficava manhosa nem chata, apenas desaparecia. Quando víamos, estava dormindo deitada atrás de um sofá, ou no colo de alguém no meio da festa, todos dançando, ela ali, como um anjo. Eu eu falava: "Vamos embora, filha". Ela não queria. Acho que gostava de dormir no meio daquela muvuca em que a mãe a levava. Acho que ela pensava: "Ao menos estou com minha mãe..."
Eu tinha um apelido na turma que era Chiquérrima, que foi Daniela quem me deu, e todos adotaram (de chiquérrima, eu não tinha nada naquele tempo -- nem agora. Duranguésima naquela fase inicial de separação, estava difícil manter até a escola da Isadora, imagine me manter chique!...).
Bem, sei que por razões que não revelarei aqui, todo mundo gostava da Chiquérrima, convidava pras festas e petit comitês, mas Raquel olhava a Chiquérrima de esguelha, e eu percebia claramente isso. Ficava na minha, que sei que é a melhor estratégia quando não gostam da gente ou têm alguma desconfiança de nós...
Mas o tempo passou, a vida foi tomando outros rumos, a turma foi tomando sua estrada. E um dia, cerca de uns três anos depois, recebi um telefonema: "Oi, tudo bom... É a Raquel!" Fiquei surpresa... "Foi a Renata quem me deu seu telefone." Eu não estava entendendo nada, afinal, ela não ia muito com a minha cara na época da turma, apesar de eu sempre ter simpatizado com ela e ter tido vontade de estreitar e fazer amizade. Ela parecia inteligente e cheia de vida, e gosto de pessoas assim. Além disso, bem mais jovem que eu, ela trabalhava já com design gráfico e livros, e isso a tornava bem interessante aos meus olhos, mas ela nunca me deixara aproximar.
Bom, sei que fiquei na moita esperando o que ela ia dizer naquele telefonema-surpresa. Aí ela, que é muito objetiva e chocantemente direta quando quer dizer alguma coisa, me disse assim: "Eu não gostava de você por isso e isso e isso... Mas eu quero ser sua amiga agora." Fui achando bonitinho e engraçado, porque eu pensei: "será que vamos conseguir depois de ela ter me esnobado tanto tempo..."
Sei que, leitores, não duvidem de um taurino: quando ele quer uma coisa, ele consegue essa coisa, custe o que custar. Marcamos um cinema, eu furei. Pensei, ela vai desistir de mim, e isso me entristeceu. Aí liguei pra ela e me desculpei. Ela desculpou e marcou um café. Fui e consegui chegar muito pouco atrasada (ela é muito pontual!).
A partir desse dia, nunca mais nos desgrudamos. Eu vi seu namoro desenvolver, crescer, a vi se casar, vi seus filhos nascerem, crescerem, seu estúdio iniciar, decolar, vi seu trabalho ser premiado, reconhecido, elogiado, aplaudido. Vi ela amadurecer, virar mulher. Ela viu toda minha separação recente, minhas dificuldades financeiras iniciais, minha falta de casa no começo, a compra da casa, a melhora significativa financeira depois de tempos, a chegada dos meus amores, e a partida deles também (pois que somos diferesntes, ela taurina, tem relações estáveis, fincadas no chão. Eu, sagitariana arisca, gosto de estabilidade -- por 4 anos, no máximo.), viu Isadora crescer, se tornar mulher.
E há o plus: por vezes, trabalhamos juntas. Não é sempre, mas há projetos em que acabou dando certo trabalharmos. Ela faz o design e eu, edito o texto, sejam projetos pessoais nossos -- uma agenda, ou o livro de Selma Perez, por exemplo, sejam livros de alguma editora, como O elefante infante, por exemplo, da editora Musa.
No trabalho também nos afinamos, porque somos detalhistas parecidas e criteriosas com resultado e estética. É uma delícia para mim, porque sou fã do trabalho dela.
Bem, eu poderia passar a tarde aqui falando dela, das suas qualidades, e dessa amizade, dos nossos trabalhos, desses anos todos, de coisas engraçadíssimas que já vivemos juntas, das coisas engraçadas que ela diz sem pensar e aí ela pisca como se fosse um mangá e pergunta: "Tuntis, é isso mesmo?..." E eu rio e digo: "Não... é outra palavra, não é esta! Mas eu entendi o que você quer dizer." E caímos na gargalhada.
Mas hoje especialmente tenho que falar de algo que selou nossa amizade, como aquelas cartas antigas seladas a cera quente com um carimbo belíssimo com iniciais de nome... Raquel me deu de presente a concepção e o design de um minilivro (meu primeiro) com quatro poemas meus que trazem no verso um calendário 2012, que enviei aos amigos, profissionais com quem trabalho, editores, autores e familiares e todos que acharem bonito e quiserem podem me pedir que posso enviar pelo correio.
Eu pedi a ela um calendário 2012 apenas. Mas ela pensou um pouco, piscou o olharzinho de mangá e falou animada: "Por que a gente não faz um livriiiinho seu com calendário junto..." Eu nem havia pensado nisso...
Ela pegou o guardanapo do café onde estávamos e fez rapidamente uma dobradura e me mostrou como ficaria o esboço. Pronto! Topei na hora.
Daí, foram alguns dias para minha ideia das estações que me levaram aos poemas, e ela foi atrás de parceria para as capas belíssimas em serigrafia, realizadas por Cesar, da Arteoficina. Uma ideia que tornou o livro ainda mais sofisticado e artístico. Um "brinco", como se diz.
Bem, foram dois meses de trabalho, ela desenhando o projeto gráfico, tratando com a gráfica, com a serigrafia, e enfim, o minilivro ficou pronto e o resultado não poderia ser outro para mim: belíssimo e delicado, como eu gostaria.
Um minilivro que vem pôr mais um degrau em nossa amizade de tantos anos, tantas coisas, tantos fatos; mas um degrau diferente, de mais estreitamento, se é que isso é possível numa amizade já tão estreita e comprometida como a nossa...
Raquel, torno público aqui meu obrigada pelo lindo presente que você me deu. Mais que o design, sei que o que está por trás do seu intento: seu desejo de que minhas palavras fluam pelo mundo. Eu sei...
(E que bom que elas toquem as pessoas acompanhadas do aspecto delicado e belo de seu desenho e de seu olhar sensível para o mundo...)
Nosso código: Tandandandandan



Foto de capa
4a estação
Concepção e design Raquel Matsushita (Entrelinha Design)
Serigrafia (Arteoficina)


Minilivro-calendário de mesa.



Páginas internas do minilivro.



Verso do minilivro: o calendário 2012.


Contracapa: uma estação-felicidade para todos nós em 2012.

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Sem olhar para trás 2

Mão única

-- é proibido
voltar atrás
e chorar.

(Orides Fontela. In Poesia reunida. Cosac Naify-7 Letras, 2006.)

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Paciência

O Ministério adverte: ouvir o link do youtube torna este texto mais gostoso:
http://www.youtube.com/watch?v=sXmWAOIWg3w


Absorvida num sorveudoro, como se não conseguisse jamais voltar à superfície. Prazos, pressão, "até o dia 23.12, impreterivelmente, sem prorrogação", "você viaja no feriado prolongado das festas ou vai trabalhar?" é a pergunta mais frequente que me fazem desde o início de dezembro; "pode pegar 700 laudas até dia 2.1.2012?"; "consegue fazer 300 páginas em dois dias?"...
Motoqueiros chegam à minha portaria, exautos pela pressão que sofrem para entregar com urgência trabalhos -- que eu realmente não sei se tinha tanta urgência assim (que deu o start da urgência, alguém perguntou?...) -- que no prazo de algumas horas devem ser novamente desembocados como uma pizza numa fornalha tosca, como se não fossem tecidos de palavras, e frases, e ideias, e conceitos, e concatenações, e argumentações, e sentido, e ironias finas, ou simplesmente nonsense estabelecido. São textos, mas parecem pizzas, tamanha a velocidade que me pedem para imprimir à leitura, sobretudo nessa época do ano.
Os motoboys então vêm retirar o "urgente" pacote, o livro, cansados, exaustos e abatidos, eletrizados pelo trafegar no trânsito entre buzinaços e xingamentos e época de Natal. Um caos indiano de buzinas e carros apertados entre si, e motos em fileiras como num longo fio imaginário a pensar: "tenho urgência, tenho urgância" -- mas de que mesmo?...
Eu faço o que me pedem, mas vou "na minha valsa", como diz a música. Se é fora da realidade humana, ultimamente tenho dito não, ou proposto um prazo humano e cumprível, caso se queira que eu realmente faça o tal livro ou catálogo ou revista ou fôlder. Caso contrário, haverá outro trabalho me esperando no Universo, que seja cumprível humanamente, sem ultrapassar minha capacidade mental e intectual e física, como eu costumava fazer no passado, simplesmente para dar conta "daquele start", a tal urgência que alguém mencionou e ninguém sequer questionou por quê!
Vi muitas vezes profissionais que pressionaram um colaborador ao telefone por questão de um dia de entrega. O trabalho chegou. O colaborador se exauriu para cumprir. Mas o trabalho, observei, ficaria mais de uma semana parado sobre a mesa de quem pressionou a entrega urgente. Só depois de dias ele(a) abriria o pacote para afinal verificar o material trabalhado.
Minha paciência foi se estreitando para essas pequenas coisas do ser humano. Sobretudo se trabalhamos em uma empresa e vemos estas coisas com os próprios olhos.
Portanto, estabelecer minha própria empresa, do meu jeito, e aceitar ou não certas condições de trabalho, neste mundo neoescravagista, é minha forma de resistência a tudo isso e minha forma de me colocar no mundo. Eu "trabalho" para o capital (péssima e dolorida verdade e constatação) porque sobrevivo dele, infelizmente, mas não me rendo à sua roda de dentes ameaçadores, voraz, que rende almas, juventude, saúde, tempo com os filhos, com o namorado, marido, amigos, tempo para a caminhada e ginástica diária ou uma tacinha de vinho e conversa num fim de tarde (porque o capital impõe que você precisa produzir no mínimo 14 horas por dia...).
Se quero ganhar mais, me rendo a mais horas e a prazos mais estreitos por espontânea vontade. Quando não quero, "vou na valsa" do meu limite, e absorvo os trabalhos que quero fazer, da natureza que me interessa, no prazo que acho que conseguirei cumprir...

Moça no trigal, de Eliseu Visconti (1912)

Paciência... Eu tenho, leitores.
O mundo acelera e pede pressa, mas eu me recuso e vou na valsa, sou uma sagitariana resistente... O corpo pede alma, e eu dou a ele o que ele quer, sempre que posso.
Esta é uma aquisição recente. (Antes tarde do que nunca, diz minha mãe.) E escrever isso me traz um arrepio de felicidade. Amadurecer traz craquelares no corpo, mas traz ganhos para a emoção e a mente. É como despertar para algo completamente novo, mas que estava bem ali, diante de você.
A vida é rara.
Cara.
E curta.

domingo, 18 de dezembro de 2011

Quando o Rio de Janeiro é aqui

Fim de tarde. Domingo.
Enquanto meu vizinho aqui do lado não sobe e toma minha vista, que foi minha durante 15 anos, quase 180 graus totais de visão de avenidas ao longe, prédios, montanhas e parque e verde e céu azul -- às vezes chumbo --, eu ainda tenho a janela-moça-do-tempo e o céu só para mim...
Ele está ainda lá no chão, na terraplanagem, como dizem. Corro contra o tempo, fotografo minhas paisagens: dia de chuva, dia de sol, dia nublado, dia chumbo, dia triste, dia alegre, dias difíceis, dias fáceis como vaselina... (Eles existem, creiam.)
Aqui no meu escritório, corro contra o tempo: para entregar trabalhos de prazos incumpríveis, para entregar meu minilivro (assunto para outro post) que ficou pronto aos amigos por um correio nervoso e ineficiente e para aproveitar a minha moça do tempo até a última gota.
O fim de tarde, no verão, é belíssimo aqui. Por isso, inclusive, a escolha de colocar o escritório aqui. Fim de tarde, para-se tudo na pizzaria: toma-se um café ou capuccino, olha-se a janela e o sol dando adeus. É belísismo e refrescante.
Pois não é que hoje, tentando cumprir mais um prazo incumprível, como sempre, ouvindo a deliciosa voz de Paula Toller para aliviar minha ansiedade (cumprirei o prazo incumprível?), olhei pela janela moça do tempo e vi o parque, as árvores com a copa dourada pelo pôr de sol dourado, o céu avermelhado e uma imagem belíssima de um fim de tarde indescritível.
Tive que interromper meu prazo incumprível, tirar os óculos, e admirar a natureza me chamando: Sandra, a vida é bela e tem cores lindas, de aquarela. Pare e veja.
Parei tudo. Reverenciei a natureza e deixei a música amaciando meus ouvidos...
A suavidade da tarde me levou a um elevado que nos leva na entrada do Rio de Janeiro aos bairros da zona Sul carioca... Tantas vezes passei por ele, com aquela felicidade louca no coração. Sabendo que a vida aqueles dias seria deliciosa, sempre. Fosse com minha filha, com um namorado, solo, com uma amiga ou amigo, ou amigos, ou marido. Sempre o Rio é uma alegria pra mim. Eu adoro a geografia e aquele jeito dos cariocas de viver a vida.

Na foto, o Arpoador, no Rio de Janeiro.

E hoje à tarde, vendo esse pôr de sol dourado nas árvores e esse avermelhado no céu tudo me levou ao elevado-bala que me leva às deliciosas praias da zona Sul carioca, onde vivi tantas coisas boas, onde vi minha filha crescer feliz nas areias e nos cinemas e naqueles passeios debaixo da sombras das árvores em dias quentíssimos. Onde amei e fui amada, onde conheci tantas coisas boas e deliciosas da vida debaixo do sol e do Cristo redentor, do Morro Dois-Irmãos, do Calçadão e do Arpoador.
O Rio se transportou um momentinho para cá, para o meu coração.
Boa lembrança! Vou reservar já minha passagem! :-)))

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Hoje é dia de Biblioteca do Chacrinha! Vamos receberrrrrr: Orides Fontela!

Orides Fontela, a poeta selvagem

Foto de Juan Esteves

Orides Fontela é como um felino: semeia as palavras devagar, argutamente, olhar de tigre. De repente, nos damos conta, ela armou o bote e caímos em seu desfecho cruel.

Carta
Da
vida
não se espera resposta.

As trocas
Um fruto por um
ácido
um sol por um
sigilo
o oceano por um
núcleo

o espaço por um
silêncio

-- riquezas por uma
nudez

[Orides Fontela. "Carta" e "As trocas". In: Poesia reuinda. 7 Letras/Cosac Naify. 2006. (Coleção Ás de Colete).]


Conheci a poesia de Orides Fontela nos início dos anos 90, na época, por meio de meu amigo Davi Arrigucci, que me foi apresentado por meu outro amigo Osvaldo Ceschin, ambos professores da USP.
Davi então me apresentou aos poemas de Cacaso e Orides. Foi uma descoberta. Ele me contou histórias pessoais, biográficas de Orides. Algumas estão contadas nas biografias da própria, outras são histórias da amizade de ambos que não revelo aqui.
Sei que me apaixonei pela felina e selvagem poesia de Orides, a outsider Orides, suas complicações e seu gênio difícil que a faziam criar casos, se indispor com todos, inclusive seus amigos mais íntimos, e que geravam histórias tristes e desfechos melancólicos, e algumas vezes histórias cômicas e muito engraçadas, por ser trágicas, se tornavam cômicas.
NO entanto, sua poesia é de uma força incontestável. Orides constrói o corpo lírico mirando certo escárnio ao final, como se estivesse já espreitando atrás da porta a reação adversa do leitor. Tudo isso vem embalado num rio lexical sem grandes pretensões, em que Orides vai disseminando seu talento poético sem pressa, porque parece saber muito bem onde quer chegar. O desfecho, o bote armado. A armadilha onde Orides deposita todo seu engenho. Por isso selvagem. Por isso felina.
Sua obra reunida foi publicada em 2006 na Coleção Ás de Colete pela CosacNaify/7 Letras. Uma edição caprichada, impressa em papel pólen soft 80g (um charme), capa dura envolta em tecido e com ilustração colada na primeira capa, como nos livros da minha infância; uma guarda de folhas duplas com fundo texturizado abre e fecha a preciosa edição dessa coleção. Eu garanti meu exemplar. Vocês não vão garantir o seu? Nem que seja num sebo (caso não haja mais nas livrarias) e ter uma pérola como esta na sua estante:

Mão única

-- é proibido
voltar atrás
e chorar.


Então, leitores, eu os convenci?


A seguir, dois textos da Revista Agulha de literatura (disponível em: http://www.revista.agulha.nom.br/of.html#inicio)

Um pouco de Orides

Orides de Lourdes Teixeira Fontela nasceu em São João da Boa Vista, interior de São Paulo, em 21 de abril de 1940. Começou a escrever poemas aos sete anos de idade. Como ela mesma dizia, sua família "não tinha base cultural, meu pai era operário analfabeto, de modo que a cultura que peguei foi na base do ginásio, escola normal e leitura". Aos 27 anos, deixou sua cidade e veio morar em São Paulo, com dois sonhos em mente: estudar na USP e publicar um livro. Conseguiu realizar ambos: estudou Filosofia e publicou seu primeiro livro, Transposição, com a ajuda do professor de literatura brasileira Davi Arrigucci Jr., seu conterrâneo.
Depois de formada, foi professora do primário e bibliotecária em escolas da rede estadual de ensino. Publicou ainda Helianto (1973), Alba (1983), Rosácea (1986), Trevo 1969-1988 (1988) e Teia (1996). Com Alba, recebeu o prêmio Jabuti de Poesia, em 1983; e com Teia, recebeu o prêmio da Associação Paulista de Críticos de Arte, em 1996. Sempre com dificuldades financeiras, no final da vida, indo viver com sua amiga Gerda na Casa do Estudante**, um velho prédio na Avenida São João. De personalidade difícil, Orides muitas vezes se indispôs com seus melhores amigos. Faleceu em Campos de Jordão, aos 58 anos. (Texto adaptado.)

(** Gerda Scröder vive até hoje na Casa do Estudante e tem registrado seu depoimento em Elevado 3.5, disponível em: http://www.elevadotrespontocinco.com.br/elevado35/category/personagem/guerda/)

A felicidade feroz

(Ensaio escrito por Maurício Santana Dias, professor de literatura italiana na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP. Folha de São Paulo, 07 de maio de 2005.)


Aclamada por um círculo restrito, mas fiel, a escritora Orides Fontela tem lançada sua "Poesia Reunida"


Faz exatamente dez anos que o último livro de Orides Fontela (1940-98) foi publicado. De lá para cá, a autora morreu na miséria e as edições de seus poemas sumiram das livrarias, inclusive "Trevo" (ed. Duas Cidades, 1988), que reunia até então toda a obra poética. No entanto a escritora continuou sendo comentada por um círculo restrito de poetas, leitores de poesia e críticos.
Agora as editoras 7 Letras e Cosacnaify lançam o primoroso volume "Poesia Reunida - 1969-1996" (376 págs., R$ 55), que certamente será fundamental para o reposicionamento e a reavaliação de Orides dentro do quadro da poesia brasileira da segunda metade do século 20.

Orides está entre os raros escritores que têm força suficiente para trans-formar o ato de leitura de seus textos numa experiência poética e existencial

Contudo não se trata de fazer o elogio póstumo e compensatório de alguém que sempre viveu e fez questão de viver à sombra -mas sem água fresca. Desde já, é preciso dizer que nem tudo o que ela escreveu é excepcional ou excelente. Porém, depois de lido o livro, não resta dúvida de que Orides está entre aqueles raríssimos escritores que alcançam força suficiente para transformar o ato de leitura de seus textos numa experiência poética e existencial.
As razões para isso são muitas, e a citação de uns poucos versos seus será suficiente para dar uma idéia de sua grandeza.
Exemplo: "O fim/ limite íntimo/ nada é além de si mesmo/ ponto último.// A saída/ é a volta" (versos finais do poema "Caramujo"). Por aí já se vê o diálogo cerrado que a poeta estabelece com a "tradição moderna", daqui e de fora (Drummond, Bandeira, Cabral, Murilo, Rilke, Pessoa, Mallarmé).
Como nota o crítico Davi Arrigucci Jr., leitor e amigo de primeira hora, "o senso de transcendência é óbvio em sua poesia, assim como a reflexão sobre o ser, a busca da essência das coisas". Mas "transcendência vazia", circular e sem centro, típica da lírica moderna.
Nesse sentido, é muito reveladora a aproximação que Flora Sussekind faz entre Murilo Mendes e Orides: "Parece acontecer, no percurso poético de Orides Fontela, coisa semelhante à que descreve um poema de Murilo Mendes dos anos 40, "Idéias Rosas': "Minhas idéias abstratas/ De tanto as tocar, tornaram-se concretas/ São rosas familiares". E, como no texto de Murilo, essa poesia também se deixa percorrer por uma espécie de nostalgia da abstração. Os últimos versos de "Idéias Rosas" poderiam mesmo ser lidos como motes secretos do processo de criação literária de Orides: "Rosas! Rosas!/ Quem me dera que houvesse/ Rosas abstratas para mim'" (do livro "Papéis Colados", ed. UFRJ, 1993).
Há em Orides Fontela um permanente sentimento de insatisfação com as coisas, as palavras, a vida. Insatisfação que não se traduz em melodrama ou derramamento verbal, mas numa concisão extremada, que ela partilha com outros poetas contemporâneos seus, como Sebastião Uchoa Leite e Francisco Alvim, embora o humor destes seja substituído, na poesia de Orides, por algo entre a decepção e o espanto.

Deslocamento do "topos"

Trabalhando com um repertório extremamente reduzido -flor, pássaro, espelho, pedra, fogo, tempo-, esquiva-se do lugar-comum deslocando essas imagens de seu "topos" tradicional. É o que se vê, por exemplo, nas sete seqüências do "Poema do Leque", em que a poeta flerta com o conceptismo barroco: "Cultiva-se (cultua-se)/ em ato extremo/ a anti-rosa/ esplêndida/ apresenta-se (apreende-se)/ o árido ápice/ luz vertical/ extrema" (poema cinco).
Como observou Antonio Candido, a realidade concreta, natural e histórica, é a matéria que informa seus versos. Mas tudo é progressivamente arrastado num redemoinho de abstração que anula os objetos e estilhaça a forma:

"Os pássaros
retornam
sempre e
sempre.//
O tempo cumpre-se. Constrói-se
a evanescente forma
ser
e
ritmo.//
Os pássaros
retornam. Sempre os
pássaros.//
A infância volta devagarinho".

Outro aspecto forte de sua lírica que não pode deixar de ser mencionado aqui, ainda que de passagem, está na relação estreita com as artes plásticas, flagrante no poema "Composição". Nele os adjetivos circulam de um substantivo a outro como as tintas numa tela: "Cavalo branco em campo verde/ parado/ sereno/ branco corcel ao longe/ realidade e miragem.// (...) numa viagem branca, através/ de todos os verdes/ a forma se tornava/ em ritmo, delírio/ de forças desatadas/ impulso leve e forte/ que saltava horizontes/ que rasgava as tormentas/ e as dores...// Mas agora, parado,/ o ser cristalizou-se/ na imagem de si mesmo/ realidade lúcida/ e plácida miragem./...............".
O desencanto lúcido de sua poesia é também a espera de uma felicidade que não se cumpre, mas que persiste mesmo nas passagens mais desesperadas; ainda que seja uma felicidade feroz e terrível, como nos versos finais de "Fera": "O perigo da fera: falsa ausência no desarmado silêncio.// Intensa fera. De súbito, na selva o medo salta! Mas aparece o sentido".

Quando os outros são os outros. E só.




Green Violinist (Violiniste), de Marc Chagall,
1923–1924. Óleo sobre tela.
Guggenheim Museum, Nova York.




Vincent van Gogh, Landscape with Snow, 1888. Óleo sobre tela, Solomon R. Guggenheim Museum, New York, Thannhauser Collection.

"O meu ministério da sensibilidade adverte": ler ouvindo "Os outros" (Leoni) no youtube torna este texto bem melhor:
http://www.youtube.com/watch?v=p8KGzJQq3Ik

Completar 49 anos, como eu completei (e bem, como estou me sentindo física e emocionalmente), é como desapertar um cinto muito apertado, cortante, no qual você se vê obrigado a estar dentro, fingindo estar à vontade -- por exemplo, por imposição social, como numa festa dos anos 60, em que você não podia desmontar até chegar em casa e apagar a luz... esse cintinho básico devia ser uma clausura.
Hoje, desaperto o cinto imaginário, digo tudo o que penso, se não digo com as palavras verbalmente, escrevo, se não escrevo, digo com a linguagem deliciosa do olhar, que às vezes é ambígua, o que me é muito mais divertido. Varro esse orgulho que me era cego para fora de mim e me fazia doer e calar, para muito longe, como algo impróprio, que não me serve mais. Tirar com prazer uma roupa apertada, que incomoda e não me serve mais. Eu usava outro número antes, hoje uso "49" -- na verdade uso 42, leitores. Com prazer. Meu corpo se acomoda muito bem a esse novo número. Apesar de eu estar muito magra, e chegando ao número 40, "49" me cai superbem.
Portanto, não há por que ocultar, por que fugir de certas verdades. Elas estão latentes em nós. E vivem sua vida, autônomas, atravessam ruas, tomam sorvete e vinho e cerveja, vão a livrarias e ao cinema, leem um livro sobre Godard, admiram e se emocionam com uma escultura num museu, compram um ticket de viagem, um presente, ou simplesmente habitam silenciosas uma caixa de e-mails, como as duas imagens que abrem este post, verdades trocadas em um momento de ternura. Elas habitam porões, ou galerias. A verdade, é que a verdade pulsa e não podemos fugir dela, pois estamos vinculados para sempre ao que vivemos.
Há muitas verdades dentro de nós, ocultas ou escancaradas, ou loucas para dar as caras ou submissas ao nosso sepultamento momentâneo, isso é um fato. Mas elas um dia surgem, atrevidas como a flor que rompe o asfalto do poema de Drummond.
A minha verdade, neste momento (quem diria que um dia eu transcreveria Kid Abelha?), é que: "Eu tenho mil amigos/Mas você foi o meu melhor namorado/(...)/Procuro evitar comparações/Entre flores e declarações/Eu tento te esquecer/A minha vida continua/Mas é certo que eu seria sempre sua/Quem pode me entender?/(...)/Depois de você, os outros são os outros e só..."
Antes eu não diria, mas aos 49 não tenho mais nada que me impeça de dizer nada. As nossas verdades estão aí, atravessando grandes avenidas. A minha simples menção aos fatos não irá atropelá-las. Nem a mim. Ao contrário, a verdade saiu de mim, bateu a porta, tranquila, atrás de si e tomou seu rumo no Universo. Foi como desapertar aquele cinto imaginário de que lhes falei no início. Alívio, alívio...

Os Outros

(Leoni)

Já conheci muita gente
Gostei de alguns garotos
Mas depois de você
Os outros são os outros

Ninguém pode acreditar
Na gente separado
Eu tenho mil amigos mas você foi
O meu melhor namorado

Procuro evitar comparações
Entre flores e declarações
Eu tento te esquecer
A minha vida continua
Mas é certo que eu seria sempre sua
Quem pode me entender
Depois de você, os outros são os outros e só

São tantas noites em restaurantes
Amores sem ciúmes
Eu sei bem mais do que antes
Sobre mãos, bocas e perfumes
Eu não consigo achar normal
Meninas do seu lado
Eu sei que não merecem mais que um cinema
Com meu melhor namorado

Procuro evitar comparações
Entre flores e declarações
Eu tento te esquecer
A minha vida continua
Mas é certo que eu seria sempre sua
Quem pode me entender

Depois de você, os outros são os outros e só
Depois de você, os outros são os outros e só

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Sobre nossas tristezas...

"O coração será partido,
e mesmo partido seguirá vivendo."

(Lord Byron)

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Almeida Júnior e a porrada da beleza de Xico de Santos

Xico Santos, quem lê o blogue, sabe que é meu amigo e editor da resistente Altana.
Em resposta a meus post "Um dia só para mim e "Saudade", de Almeida Júnior", de 17 de novembro de 2011, ele comentou (algo que ele já tinha escrito havia muito tempo, ele me contou) com um belo texto, que divido com vocês.

"Deixa te contar:

Sabe essa coisa da “Força da Beleza”... Da “Porrada da Beleza” onde a Elisa Lucinda é magistral?

Então...

Naqueles anos verdes... enquanto crescia e via o mundo... aquele mundinho de menino... aquelas pequenas coisas todas...

Havia algo diferente... que eu não sabia... mas que era diferente!

Umas figuras...

Todos os anos (que àquela época demoravam de fato 365 dias!), a gente ganhava uma “Folhinha de Ano Novo”... Todo ano!

Não mudavam as figuras... elas eram sempre as mesmas... ano após ano, acompanhando minha trajetória de menino pra rapaz... aqueles dias tão iguais...

Aquelas figuras!

Aquela de que mais gostava, não parava de ler o nome... ali... tipograficamente... manchando o papel de baixa qualidade:

Caipira picando fumo Almeida Jr.

Impregnada em minha memória, aquela imagem fazia parte integral e absoluta dos meus dias... da minha vida simples!

Passaram-se os anos... e, embora não goste muito, o outono chegou... trouxe com ele muitas coisas boas, eu sei, estou sendo ingrato...

Ganhei até uma Pinacoteca, reformadinha...

Fui vê-la no primeiro dia de sua reabertura... por motivos que não devo contar aqui... pelo menos, agora.

Entramos... eu e minha companheira... e lá estava “aquilo” – Meu Deus!

Pendia desde o teto, segura por grossas cordas (dessas com que se prendem navios!)... a minha figurinha de infância!

Enorme!... Majestosa!... Indescritivelmente bela!... Quase divina!

A minha figurinha de infância!

Meu Deus! Eu gritei... assustei minha companheira... e chorei... e chorei... e chorei...

Quando consegui me recompor, descobri com espanto, que ao meu redor havia uma dúzia de pessoas que também choravam...

Minha companheira me abraçou com carinho e perguntou: “– O que foi isso?”... Não respondi... porque não sabia.

Hoje, de repente, lhe diria com paz no coração:

“A porrada da beleza!”

xico santos

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Ruth e Raquel

**
Numa nova fase da vida, há de se tentar encarar as fissuras. A maior delas em mim é a rigidez. Já está sendo combatida nas sessões de falação, mas há de se lutar contra ela ainda mais.
Pois tenho de fugir de verdades como as de Groucho Marx, por exemplo, que evitaria um clube em que fosse admitido... ou ironias duras, ou tantas outras coisas que me façam caminhar pelo fio agudo de uma navalha, perigo iminente de me ferir feio em uma pequena escorregadela.
Como disse minha amiga Márcia, sacaneando sobre a foto em duo de Paula, me chamando de Ruth e Raquel, de Mulheres de areia -- grotesca sacanagem comigo! --, tenho que tentar o equilíbrio das forças, menos dura, mas menos complacente também. Sendo duas, talvez seja mais fácil receber e absorver, digerir e retornar.
Duas Sandras nessa nova fase talvez dessem conta da longa caminhada que tenho pela frente: combater fissuras, me tornar melhor, aceitar as pessoas como são, dizer mais o que penso na hora e no momento certos, ser mais tolerante e menos impositiva.
Tudo isso é muito coisa para uma Sandra só. Por isso preciso da ajuda de Ruth e Raquel, as tais que Marcinha mencionou para me sacanear...
Boa lembrança, Marcinha, vou aproveitar e começar minha lição de casa: não ficando brava com você por esta 'sacanagem' comigo... :-)

** Foto de Paula Marini, novembro de 2011.

Pra fechar o dia de aniversário: The voice

Adoro esta foto de Frank Sinatra...

Descobri nova versão de "They can't take that away fom me", com Frank Sinatra, em 1975, num show em Jerusalém:

http://www.youtube.com/watch?v=BhxuhguyV4k&feature=related

Embalem-se ao som Da VOZ e dos olhos azuis mais famosos da música.

Taking five, lembranças e flores

Toca a campainha. O mensageiro está encoberto pelas flores maravilhosas que recebo! Lindas. Elas vêm acompanhadas de um belo poema de Francisco Alvim:

"Recuo de meu dia para ver-te
e toda a claridade que me trazes

Não te busco
Não saberia encontrar-te
Estás onde o acaso te situa
e és a mesma embora outra me apareças
sempre a resgatar-me
com a vida que vem de tua face."

Me emociono, com as flores e o poema belíssimo que não conhecia. Já antes recebi dois botões belíssimos de rosas cor-de-rosa profundo. Eu, que postei reclamações no inferno astral sobre não receber flores!
Parece que o Take five está dando certo, e estão taking five e me paparicando! E estou, como boa sagitariana, adorando...
E como não sou sempre da minha opinião, como já postei aqui em outro momento, muitas lembranças me vêm agora, num jato, num jorro, em meio a essas flores, palavras, poemas, sentimentos, tudo!... Me confundo em meus sentimentos... Aproveito a confusão 'pra sangrar', como diz meu amigo Xico Santos. Caso contrário, serei inglesa daqui a 15 minutos.
Aquela estrada sem volta, sem visitar o corpo de algumas lembranças, esqueçam. É possível uma estrada de mão dupla na memória e nos sentimentos, e como num filme, lá estou de volta degustando imagens de outros continentes, viagens, momentos, sentimentos profundos, surpresas, emoções que só nós sabemos e entendemos.
É tempo de aniversário, de bons sentimentos, alegria,boas lembranças, perdão e de ser perdoado, de voltar num tempo que deve sim ser delineado na memória. Na minha memória, e na sua. Ninguém pode tirar isso de mim. Nem de você. They can't take that away from me...
Retorno então, e posto novamente a deliciosa canção de Ira e George Gershwin, entro nesse mood, e sou a Sandra Brazil de sempre, cheia de memórias, jazz, palavras, risadas e histórias. Como se pode esquecer como alguém segura a faca e o garfo ao comer, ou usa o chapéu, ou como toma seu café, ou eventualmente, como é o caso, como mudou a sua vida enquanto esteve com você?... Não, não se pode. E ninguém pode tirar isso de nós...

Ella e Louis, no doce embalo de "They can't take that away from me": http://www.youtube.com/watch?v=ma91kie8G3A

They can't take that away from me
(George e Ira Gwershwin)

The way you wear your hat
The way you sip your tea
The memory of all that
No, no they can't take that away from me

The way your smile just beams
The way you sing off key
The way you haunt my dreams
No, no they can't take that away from me
We may never, never meet again
On the bumpy road to love
Still I'll always, always keep the memory of
The way you hold your knife
The way we danced till three
The way you changed my life
No, no they can't take that away from me
No, they can't take that away from me

We may never, never meet again
On that bumpy road to love
Still I'll always, always keep the memory of
The way you hold your knife
The way we danced till three
The way you change my life
No, no they can't take that away from me
No, they can't take that away from me

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

É meu aniversário: just take five!...



Adentro o dia do aniversário... E preparo algo para mim, que na verdade é para todos nós.
Peço que todos os meus amigos, filhota, irmão e irmã, meu pai e minha mãe, todos que trabalham comigo, que me conhecem, aqueles que gostam de mim, os leitores que (porventura) gostem deste blogue (nem sempre? às vezes?) reservem cinco minutos de seu tempo, nesse dia que é meu/nosso, e façam algo que adorem fazer: passear com o amigo mais fiel do homem; tomar sorvete; pegar o filho mais cedo na escola e dar um passeio; fugir no horário do almoço e fazer aquela sessão beauty parlor que você há tanto tempo queria fazer nas madeixas e nas mãos; sair um pouco mais cedo do trabalho e comer aquela pizza que nunca dá certo com seus pais ou com seu filho(a), no caso de você ser separado(a); ir a uma livraria ou a um café ou, simplesmente, caminhar pela cidade observando o céu ainda claro desse verão; encontrar um amigo que há tempos pede uma conferência com você, que nunca tem tempo para vê-lo.
O trânsito está horrível? Foda-se! A vida é curta, passageira, rasteira e ligeira demais. Quando se percebe, já se passaram dez horas, e nem se deu conta disso. Dez anos, e o filho nem precisa mais de você... Vinte anos, e ele já nem mora mais conosco e não temos tempo de vê-lo e nem ele de nos ver.
Faço aniversário hoje, faço tantas coisas... faço terapia, faço média quando necessário, faço caminhadas no parque da Água Branca, tonalizo os cabelos, faço as mãos, faço meditação, faço compras de supermercado, cuido eu mesma das coisas da minha casa, entre um texto e outro que leio, faço coisas grandes e pequenas, opero mudanças radicais na minha vida, portanto, peço que tenham seu tempo nesse dia que lhes dedico, a vocês todos. E ofereço a mim e a vocês "Take Five", uma canção de Paul Desmond e interpretada por The Dave Brubeck Quartet em seu álbum de 1959, Time Out.

Na foto, Dave Brubeck Jazz Quartet (1959).

Em 1961, Dave Brubeck e sua mulher, Iola, escreveram a letra para a canção, interpretada por Carmen McRae. No Youtube: http://www.youtube.com/watch?v=Pu8n4n8BlkE&feature=fvsrtempo

Cartaz da apresentação do Quarteto de Brubeck, com performance de Carmen McRae (1961).

Espero vê-los então por aí, amanhã, curtindo seu tempo,
just taking five...
Vocês certamente me encontrarão taking five,
porque, tenham plena certeza: I am alive.



O homem "por trás" da canção...
Paul Desmond.


Take five
(Paul Desmond/Dave e Iola Brubeck)
Won't you stop and take
A little time out with me
Just take five
Stop your busy day
And take the time out
To see if I'm alive

Though I'm going out of my way
Just so I can pass by each day
Not a single word do we say
It's a pantomime and not a play

Still, I know our eyes often meet
I feel tingles down to my feet
When you smile, that's much too discreet
Sends me on my way

Wouldn't it be better
Not to be so polite
You could offer a light
Start a little conversation now
It's alright, just take five
Just take five

23h13: Gene Ammons, pré-presente de aniversário de Gil Pinheiro

Ganho no facebook um pré-presente de aniversário de Gil Pinheiro, um link de Gene Ammons, Moito Mato Grosso.
Quem gosta de jazz não pode perder esse... swing...

http://www.youtube.com/watch?v=icnnNy5NWFE&feature=share

Sem privacidade e sem olhar para trás

(Imagem disponível no blogue de Nizo Neto http://bloglog.globo.com)

O mundo cibernético e moderno é um mundo sem nenhuma privacidade. Depois de um incidente no meu prédio, instalaram câmeras por toda parte, inclusive garagem e elevadores. Meu porteiro agora sempre sabe, apesar do insufilm dos vidros do carro, se subo da garagem sozinha para meu apartamento, ou se chego acompanhada, ou se candidamente chego com minha filha de um programa familiar... ;-)
Sinto a invasão dominar meu mundo, que é um mundo protegido, pois costumo ser discreta, apesar de não precisar esconder nada de ninguém, pois sou livre.
Pois os blogues têm esta ferramenta cruel e ótima ao mesmo tempo, que aponta para os blogueiros as estatísticas. A ferramenta mostra número total de entradas no blogue; número de visualizações de cada post; que países entraram em seu blogue; e por aí vai...
Digo cruel porque acho que quebra de privacidade também em relação a quem entra no blogue... apesar de eu gostar de saber que a Rússia e a Alemanha todos os dias batem ponto no blogue desde setembro, assim como Estados Unidos (quer dizer, acho que batem ponto, porque vejo a entrada diária desses países mais ou menos no mesmo horário), me parece invasivo eu saber disso... Um pensamento dicotômico, porque gosto de saber, e não gosto ao mesmo tempo.
Bem, pois soube hoje, pelas estatísticas, que houve duas entradas hoje mesmo num texto de que gosto muito, no post: quarta-feira, 5 de outubro de 2011, "A vida como ela é".
É um texto que escrevi como se diz "numa sentada", rapidamente, acho que nuns 10 minutos. Revela muito de mim, e um bocado de tristeza por algo que se perdeu. A ambiguidade da mulher alegre que segue o fluxo da vida, determinada a seguir, mas que de repente estanca e ouve seu coração, e então percebe que é muito difícil esconder de si o som dos sentimentos no silêncio...
Mas, leitores, o que seria de nós sem o clamor que gera essa ambiguidade de tristezas e alegrias de nossa vida? Não haveria literatura. Não haveria arte. Não haveria cinema nem as grandes obras. Estamos o tempo todo em luta para ser felizes, para amar, ser amados, conquistar, ter as coisas com que sonhamos, a pessoas que desejamos, a vida que sonhamos... Isso requer energia, certo suor, cansaço, algumas lágrimas, mas ao fim e ao cabo, há sempre uma espécie de alegria de fim de túnel, não importa o desfecho. E é aí que mora nossa felicidade, seja ela enorme, seja ela pequena. Não importa.
Nós vivemos desses quinhões que a vida vai nos oferecendo ao longo do caminho, como se fossem torrões de açúcar, e ela -- a vida -- nos estivesse adestrando: desta vez você mandou bem: três torrões de alegria. Desta vez, foi meia-boca: um torrão!
Pois nesse post de 5 de outubro eu falava de algo que se esgarçava devagar em minha memória, mesmo que a minha revelia... Às vezes, mesmo que queiramos guardar alguma lembrança boa de algo vivido, não é possível. Temos que seguir em frente e deixar aquilo enterrado lá atrás. Não é possível sequer visitar o morto em sua sepultura. Porque seguimos uma estrada sem volta, cujo destino é olhar apenas para a frente e seguir adiante.
Eu em meu post de hoje falei de lembranças de infância e coisas delicadas que não queremos e não podemos perder, que não podem tirar de nós...
Mas há coisas que é melhor esquecer, por melhor que tenham sido. Não importa por quê. Pois cada um de nós sabe bem a dor e a delícia que permeiam seu destino.

Não tem pré-Carnaval? Pois tem pré-presente de aniversário: lembranças... E isso ninguém me tira

Pois quando eu era bem mocinha, eu fazia de tudo e mais um pouco para brincar o Carnaval e o pré-carnaval, que a gente chamava de "grito" de carnaval...
Meu pai falava assim pra minha mãe: "Essa menina não tem sossego,que história é essa agora de grito de carnaval? No meu tempo só tinha carnaval!"
Tudo isso porque ele tinha aqueles olhos de mar calmo e se propunha sempre a levar e buscar de carro a mim e todas as minhas amigas, morassem onde morassem. Então, eu sempre estava acompanhada por todas elas. E lá íamos nós, em bloco, e passávamos dias antes fazendo a fantasia. Sem grana, tingíamos de preto as cortinas antigas que minha mãe sabiamente havia guardado (se quardava tudo antes), aproveitávamos o véu de noiva da mãe de outra e tingíamos de preto também, um leque pra lá de duvidoso, coxas que ajudavam muito (de fora) e... tcham! Éramos um bloco de viúvas negras...!
Bom, foram anos assim, e fui uma adolescente que deu muito trabalho e ao mesmo tempo pouco, porque era superestudiosa, e por outro lado, às vezes deixava de sair um final de semana todo para ficar estudando literatura ou física! Sem problemas, eu adorava estudar. E ainda gosto. tanto que adoro ler. Até hoje. Não fosse isso, não teria essa profissão...
Tudo isso pra dizer que assim como nos velhos carnavais de minha juventude, hoje é dia 5/12, dia de grito de aniversário, que é amanhã.
Vou me presenteando com pequenos mimos, coisas bem pequenas, mas que me deixam muito feliz. Ontem, me presenteei num post com uma foto do Cartier Bresson: crianças correndo e brincando numa praia.
Me lembrei que meu pai, apesar de durango quando éramos pequenos, sempre nos levava passear, fosse onde fosse, nada disso de ficar fechados nos finais de semana ou férias. Às vezes, sem carro, uma vez me lembro, fomos de trem a Santos... Nada de farofas, que minha mãe era bem estilosa, mesmo viajando de trem, ela fazia a gente ficar no salto. Fomos, e eu era muito pequena mesmo, mas tenho uns flashes... Minha mãe se vestia bem chique, mesmo naquela viagem São Paulo-Santos, apesar da grana curta.
Muito caprichosa, ela desenhava seus vestidos, e os meus também. Tudo costurado nos melhores tecidos e acabamentos, que ela me dizia que tudo tinha sempre que ter ótimo acabamento e ser de boa qualidade, mesmo que fosse simples. Aprendi isso com ela. Se não temos dinheiro pra comprar agora, espera-se e depois se compra algo um pouco melhor. Era assim lá em casa; pouca grana quando eu era pequena, mas tudo bem organizado e arrumado. Havia um planejamento bélico para gastar e usufruir do salário.

Foto de Henri Cartier Bresson.

Mas nunca deixava de viajar nas férias, ou sair nos finais de semana, ir à praia, coisas de criança.... Quando vejo crianças trabalhando penso no quanto foi boa minha infância, só brincar, brincar, correr, quebrar vasos da minha mãe -- e pagar caro por isso! --, andar de bicicleta, brincar de boneca e conjunto de chá...
E a praia... ah a praia... as ondas derrubando e a areia de castelos.

Ella Fitzgerald e Louis Armstrong, na foto.

Então, hoje, no grito de aniversário, me dou de presente uma canção belíssima, de George e Ira Gershwin, numa interpretação que acabei de descobrir no youtube, com Ella Fitzgerald e Louis Armstrong. Quem quiser ouvir a pérola: http://www.youtube.com/watch?v=ma91kie8G3A&NR=1&feature=endscreen
É muito cool, parece que você está sendo levado pela mão pelos dois...
Assim como nesta canção, essas lembranças todas que descrevi, e mais outras tantas de minha vida, que não menciono aqui neste post, ninguém pode tirar de mim, elas estão guardadas aqui, comigo.
Este não é um belo pré-presente de aniversário? Eu digo que é.
They can't take that away from me...

They Can't Take That Away From Me

(George e Ira Gershwin)

The way you wear your hat
The way you sip your tea
The memory of all that
No, no, they can't take that away from me

The way your smile just beams
The way you sing off-key
The way you haunt my dreams
No, no, they can't take that away from me

We may never, never meet again
On this bumpy road to love
Still I'll always, always keep the memory of...
The way you hold your knife
The way we danced till three
The way you've changed my life
No, no, they can't take that away from me
No, they can't take that away from me

domingo, 4 de dezembro de 2011

Dica gastronômica: Restaurante Così

Hoje é domingo, dia nacional de almoçar fora!
Saí tarde, como sempre. Ia aos Jardins, mas a muvuca do jogo Corínthians X Palestra me desanimou no meio do caminho. Cortei caminho pelo meio de Higienópolis, quando vi, estava no meio de Santa Cecília.
Que coisa esquisita é São Paulo... Você está no chiquérrimo e endinheiradíssimo Higienópolis e uma rua já te joga na degradada e antiga Santa Cecília, de bares caídos e restaurantes de garçons tão decadentes quanto... Mais um tiquinho e você já está com o pé na lama: o mais que duvidoso Minhocão, que hoje resolve questões de trânsito, mas é uma peça de guerra em meio à cidade... Assunto dos mais controversos entre engenheiros e arquitetos e cidadãos paulistanos, esse viadutíssimo que é assunto de derruba ou não derruba divide a região em duas: o lado bom e o lado tranqueira...Tudo que fica pra cima dele é melhor; o resto é ladeira abaixo...
Eu já morei muitos anos ladeira acima -- tudo de bom e sofisticado. Mas já morei dois anos ladeira abaixo também. :-( Não queiram saber o que é morar ladeira abaixo. É assunto para um post enorme. Um dia certamente contarei. Não o lado ladeira acima. Esse não tem graça, todo mundo sabe e gosta do gosto do ladeira acima. Mas o gosto do ladeira abaixo ninguém conta seu quinhão; esconde debaixo do colchão, finge que não passou, esquece como se não fosse consigo. Eu não. Me lembro bem. Mas não lembro para o mal. Lembro para continuar 'me lembrando' de que não somos nada nesta vida: um dia eu estava sofisticated lady na parte bacana acima do Minhocão, no dia seguinte lá estava eu ladeira abaixo, do lado debaixo nada sofisticado do Minhocão. Andava quarteirões a pé com Isadora no colo, o guarda-chuva aberto, carregando também a lancheira, a mochila com os livrinhos, uma boneca, minha bolsa, tudo isso para ela poder dormir mais um pouquinho sem se molhar -- afinal a gente acordava 5h da manhã, e eu entrava às 7h30 na editora. Tinha que deixá-la às 7h na escola e voar! Portanto, um dia estamos Higienópolis, no outro estamos Santa Cecília, Barra Funda, ou qualquer outro bairro que o valha, para cima ou para baixo do Minhocão, tanto faz. Isso me fez aprender na pele e doloridamente que não sou nada nesta vida. Estou. De passagem, aliás.
Onde eu estava mesmo?...
Bem, no meio de Santa Cecília -- bairro que adoro e que meu ex-marido, que morava em Higienópolis, me fez conhecer como a palma da mão --, a caminho dos Jardins, quebrei numa rua e me lembrei de estalo de um restaurante que abriram ali há uns dois anos e que adoro: o Così.
O Così tem cara de Higienópolis e de Jardins, não sei o que está fazendo ali. Parece um enclave em meio daquele bairro cheio de coisas decadentes, cortiços e pensões, em que você ainda lê hoje: "Aluga-se [sic] quartos para rapazes"... Aqueles casarões antigos que certamente virão ao chão. Pena.
Não tenho preconceito, não é isso. Ao contrário, frequento bares e restaurantes de Santa Cecília há anos e adoro, confesso. Gosto desse ranço do bairro decadente, dessa sequela de uma boemia meio caída. Mas o Così é diferente de tudo que há ali. Como se fosse um mundo costurado no miolo de um outro mundo.
Fica num lugar escondido. Mas é muito charmoso, e além do mais, pode-se sentar no terraço, tomar um café e ler seu jornal num sossego e com uma brisa deliciosa.
Bem, chego lá e tentamos pedir salada, mas as opções não são muitas, então preferimos um risoto. Ali, são deliciosos. Podem pedir sem receio. Pedi o meu risoto de amêndoas e aspargos, e creiam: é muitoooo bom! O serviço é ótimo, rápido, e o lugar é elegante, mas simples, sem afetação... A comida é deliciosa, adoro!
O vinho em taça italiano também estava ótimo e voltei para casa com uma sensação boa de ter feito uma boa troca ao não ter ido aos Jardins e tentar estacionar etc. etc...
Preciso me Lembrar mais vezes de que morar em Perdizes tem a vantagem de se ter gastronomia variada e muito perto. Preciso só me lembrar disso, em vez de ficar correndo pela cidade, pegando trãnsito, tentando estacionar...
É só andar alguns quarteirões próximos de minha casa.

Così
Santa Cecília
Rua Barão de Tatuí, 302
11 3826-5088

Domingo friozinho e uma vontade de não sei o quê

Foto de Henri cartier Bresson

Ontem foi o lançamento da agenda que a Raquel Matsu desenhou (fez o design) e fui. Lá na Feira Moderna. A agenda ficou linda, belíssima, e mais uma vez, e sempre, tive o prazer de ter feito a leitura. Sugiro inclusive para quem ainda não tem agenda 2012 que dê uma olhada no blogue que Raquel montou e veja, porque é uma agenda de arte. Totalmente diferente da maioria das agendas que vemos por aí à venda. O design é da Raquel e os desenhos são de Edith Derdik. Um detalhe, os desenhos são impressos num papel destacável, portanto, podem ser transformados num cartão, num postal, quadrinho, ou qualquer outra coisa. O blogue: www.agenda2012entrelinhaedith.wordpress.com
Depois, vinho, que ninguém é de ferro nesses tempos ferrenhos.
Bom, hoje é domingo, está friozinho do jeito que eu gosto. Mas tenho que trabalhar o dia todo para terminar algo aqui, que me lembra meus tempos de medicina, o que eu detesto... De Florence Nightingale não tenho nada, nadinha...
Portanto, para conseguir terminar isto sem sofrer muito, fechei os olhos e tentei pensar em algo que pudesse me dar algum alívio... Pensei: o que costuma me tirar do sufoco, da angústia, da monotonia, da rotina opressiva? Me veio à mente: a arte.
Pois pensando nisso, fui buscar uma foto na internet para presentear uma amiga que faz aniversário hoje. Cheguei a Henri Cartier Bresson.
Pois me presenteio também com a foto que me leva à beira do mar, num lugar qualquer, meus tempos de criança, quando não tinha que pensar em nada, só brincar, correr, nadar, estudar e, no máximo, (talvez já coisa de sagitariana com faro para viagens) pensar que um dia eu queria ser 'aeromoça' para poder viajar e conhecer os lugares do mundo que eu via na revista Manchete...
UMa vontade de não sei o quê... Eu sei o quê.
Quero mais coisas boas na minha vida.