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No blogue escrevo meus próprios textos (contos, crônicas, poemas, prosa poética) e também sobre os mais variados assuntos: literatura, cinema, viagens, gastronomia, amenidades, humanidades, música. Tudo que me toca. E que possa tocar os leitores.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Quando os outros são os outros. E só.




Green Violinist (Violiniste), de Marc Chagall,
1923–1924. Óleo sobre tela.
Guggenheim Museum, Nova York.




Vincent van Gogh, Landscape with Snow, 1888. Óleo sobre tela, Solomon R. Guggenheim Museum, New York, Thannhauser Collection.

"O meu ministério da sensibilidade adverte": ler ouvindo "Os outros" (Leoni) no youtube torna este texto bem melhor:
http://www.youtube.com/watch?v=p8KGzJQq3Ik

Completar 49 anos, como eu completei (e bem, como estou me sentindo física e emocionalmente), é como desapertar um cinto muito apertado, cortante, no qual você se vê obrigado a estar dentro, fingindo estar à vontade -- por exemplo, por imposição social, como numa festa dos anos 60, em que você não podia desmontar até chegar em casa e apagar a luz... esse cintinho básico devia ser uma clausura.
Hoje, desaperto o cinto imaginário, digo tudo o que penso, se não digo com as palavras verbalmente, escrevo, se não escrevo, digo com a linguagem deliciosa do olhar, que às vezes é ambígua, o que me é muito mais divertido. Varro esse orgulho que me era cego para fora de mim e me fazia doer e calar, para muito longe, como algo impróprio, que não me serve mais. Tirar com prazer uma roupa apertada, que incomoda e não me serve mais. Eu usava outro número antes, hoje uso "49" -- na verdade uso 42, leitores. Com prazer. Meu corpo se acomoda muito bem a esse novo número. Apesar de eu estar muito magra, e chegando ao número 40, "49" me cai superbem.
Portanto, não há por que ocultar, por que fugir de certas verdades. Elas estão latentes em nós. E vivem sua vida, autônomas, atravessam ruas, tomam sorvete e vinho e cerveja, vão a livrarias e ao cinema, leem um livro sobre Godard, admiram e se emocionam com uma escultura num museu, compram um ticket de viagem, um presente, ou simplesmente habitam silenciosas uma caixa de e-mails, como as duas imagens que abrem este post, verdades trocadas em um momento de ternura. Elas habitam porões, ou galerias. A verdade, é que a verdade pulsa e não podemos fugir dela, pois estamos vinculados para sempre ao que vivemos.
Há muitas verdades dentro de nós, ocultas ou escancaradas, ou loucas para dar as caras ou submissas ao nosso sepultamento momentâneo, isso é um fato. Mas elas um dia surgem, atrevidas como a flor que rompe o asfalto do poema de Drummond.
A minha verdade, neste momento (quem diria que um dia eu transcreveria Kid Abelha?), é que: "Eu tenho mil amigos/Mas você foi o meu melhor namorado/(...)/Procuro evitar comparações/Entre flores e declarações/Eu tento te esquecer/A minha vida continua/Mas é certo que eu seria sempre sua/Quem pode me entender?/(...)/Depois de você, os outros são os outros e só..."
Antes eu não diria, mas aos 49 não tenho mais nada que me impeça de dizer nada. As nossas verdades estão aí, atravessando grandes avenidas. A minha simples menção aos fatos não irá atropelá-las. Nem a mim. Ao contrário, a verdade saiu de mim, bateu a porta, tranquila, atrás de si e tomou seu rumo no Universo. Foi como desapertar aquele cinto imaginário de que lhes falei no início. Alívio, alívio...

Os Outros

(Leoni)

Já conheci muita gente
Gostei de alguns garotos
Mas depois de você
Os outros são os outros

Ninguém pode acreditar
Na gente separado
Eu tenho mil amigos mas você foi
O meu melhor namorado

Procuro evitar comparações
Entre flores e declarações
Eu tento te esquecer
A minha vida continua
Mas é certo que eu seria sempre sua
Quem pode me entender
Depois de você, os outros são os outros e só

São tantas noites em restaurantes
Amores sem ciúmes
Eu sei bem mais do que antes
Sobre mãos, bocas e perfumes
Eu não consigo achar normal
Meninas do seu lado
Eu sei que não merecem mais que um cinema
Com meu melhor namorado

Procuro evitar comparações
Entre flores e declarações
Eu tento te esquecer
A minha vida continua
Mas é certo que eu seria sempre sua
Quem pode me entender

Depois de você, os outros são os outros e só
Depois de você, os outros são os outros e só

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