Quem sou eu

Minha foto
No blogue escrevo meus próprios textos (contos, crônicas, poemas, prosa poética) e também sobre os mais variados assuntos: literatura, cinema, viagens, gastronomia, amenidades, humanidades, música. Tudo que me toca. E que possa tocar os leitores.

quarta-feira, 27 de junho de 2012

Invictus

Nelson Mandela


"Eu sou o senhor do meu destino, eu sou o capitão da minha alma." (verso do poema de Ernest Henley, que Nelson Mandela trouxe consigo ao longo dos seus anos de prisão)

Terei em mente este verso ao longo de minha vida. Não que não o tenha tido até agora, só que sem o saber. Mas agora o terei de uma forma concreta e consciente.
Mandela, Ghandi, Dalai Lama, Budha, Madre Teresa, Desmond Tutu, Betinho e tantos outros que não caberão aqui, então interromperei minha lista. Só uma grande convicção não interrompe nossa fé e nossa coragem. Invictus.

Invictus
(de William Ernest Henley)

Out of the night that covers me
Black as the pit from pole to pole
I thank whatever gods may be
For my unconquerable soul.

In the fell clutch of circumstance
I have not winced nor cried aloud
Under the bludgeonings of chance
My head is bloody, but unbowed.

Beyond this place of wrath and tears
Looms but the horror of the shade,
And yet the menace of the years
Finds, and shall find, me unafraid.

It matters not how strait the gate,
How charged with punishments the scroll,
I am the master of my fate
I am the captain of my soul.

Invictus

Noite afora que me cobre,
Negra como um breu de ponta a ponta,
Eu agradeço a quem quer que sejam os deuses
Por minha alma incansável.

Nas cruéis garras da circunstância
Eu não reclamei, sequer gritei.
Sob as pauladas da sorte
Minha cabeça sangra, mas não se rebaixa.

Além deste lugar de raiva e lágrimas
É iminente o horror da escuridão,
Mas o avançar dos anos
Encontra, e me encontrará, sem medo.

Não importa quão estreito seja o portão,
Quão carregado de castigos esteja o pergaminho,
Eu sou o senhor de meu destino;
Eu sou o capitão de minha alma.
(Tradução anônima - adaptada)

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Depois daquele beijo



No post de 12 de junho, o fatídico dia dos namorados (sim em minúsculas!) para o solteiros que não querem estar solteiros, e o glorioso dia para os que amam, e uma chatice para os que acham uma breguice tudo isso, eu escrevi este trecho:

"'O amor está fora de moda', me disseram. Mas quem não gosta de usar um modelito vintage? Fora de moda ou não. Artigo de brechó ou simplesmente fluxo natural daqueles que não têm medo de si nem do outro. Não importa o tipo de amor, ou a quem o dedicamos. Amar nos tira desse lugar de saara humano e nos eleva à condição de renascer, sempre, ampliar o sorriso e usufruir daquele brilho que só os que amam podem ter...
A primavera ainda não chegou para nós, mas para quem ama, como eu, você e tantos outros, ela tem seu lugar reservado o ano todo."


É inverno, mas algo aquece aquele ponto atrás do meu osso esterno, aquele osso que liga bem no meio do peito nossas costelas, protegendo nossos órgãos mais delicados, o coração inclusive. Esse é o ponto que nos eleva às alturas ou pode também nos derrubar. Quando sabemos que uma relação está em seus estertores, esse ponto dói, e intuitivamnente sabemos que caminhamos para o fim. Tentamos nos enganar, camuflamos, tentamos colocar diques, deter a onda que invadirá e derrubará toda a construção. Não adianta. Quando o esterno dói, meu amigo, aceite, tome um Rivotril diariamente por um tempo, e caminhe por essa estrada dolorosa do fim de um grande amor.
Mas, caros leitores, a vida não é feita só de luto. Ela é feita também de sol nascente. E então, atrás do esterno, surge um calor, um conforto inexplicável, uma espécie de esperança e de crença no futuro e na recuperação.
Pois é, meu esterno já doeu muito. Mas não é que ele anda há bastante tempo numa espécie de sol nascente? Primeiro, foi um tipo de libertação, e eu me vi centrada no mundo, de novo resgatando meu lugar devido na vida. Me perguntei: por que isso não se deu antes? Com o passar do tempo, veio aquela certeza de nossa autoestima de que todo merecimento traz na esteira, além de boa maré, um bom peixe. Eu confiei nisso. E na minha sorte. E meu esterno clicou um sinal.

***

Mas fazia frio naquela noite, e São Paulo tem dessas surpresas em meio a sua dureza. Havia uma belíssima lua minguante sobre veludo negro. Na fila do cinema ela pôde sentir o calor, não de um corpo, mas de algo mais profundo e além. A lua estava ali, testemunha silenciosa do descongelar do ponto amedrontado do seu esterno. Gota a gota, o ponto ia se entregando. E ela ia escorregando, delicada, como de um rochedo; uma sereia entregue a seu pescador. É preciso reconhecer quando se caiu numa rede. Não há como escapar; é se entregar e calar.
Pois a sereia deslizava sua cauda por uma calçada arborizada ao lado dele, totalmente presa em sua rede -- mas como diria Camões, "presa por vontade"... De repente, sob uma árvore, eles deram o primeiro beijo. Delicado, suave, diferente de tudo que ela tinha tido como primeira vez, sem aquela sofreguidão e volúpia que ela costumava provocar em outros homens do mar. Por um átimo, ela abriu os olhos, e viu por entre as árvores a lua minguante, leitosa, generosa, quase se liquefazendo tamanho o calor daquela cena. O toque suave e morno e sedoso dos lábios dele teve tamanho impacto nela que a lua testemunhou: aquela sereia, a partir daquele momento, se transformou em uma bela mulher.
Tudo, tudo por causa do beijo delicado daquele pescador.

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Desse doce amargo

"Vi todo o meu orgulho em sua mão
Deslizar, se espatifar no chão
Eu vi o meu amor tratado assim...
Do fundo do meu coração,
não volte, nunca mais"


"Elas cantam Roberto Carlos", 2009.
(Disponível em http://www.youtube.com/watch?v=z9ZLZpcUS0o&feature=endscreen&NR=1)

Pra quem não gosta de Roberto Carlos como eu, a canção tem que me tocar muito para eu postar aqui. A interpretação de Adriana Calcanhoto tornou essa música belíssima.

Do fundo meu coração
(Roberto Carlos)

Eu, cada vez que vi você chegar
Me fazer sorrir e me deixar
Decidido eu disse: nunca mais
Mas novamente estúpido provei
Desse doce amargo, quando eu sei
Cada volta sua o que me faz
Vi todo o meu orgulho em sua mão
Deslizar, se espatifar no chão
Eu vi o meu amor tratado assim
Mas basta agora o que você me fez
Acabe com essa droga de uma vez
Não volte nunca mais pra mim
Eu, toda vez que vi você voltar
Eu pensei que fosse pra ficar
E mais uma vez falei que sim
Mas já depois de tanta solidão
Do fundo do meu coração
Não volte nunca mais pra mim
Se você me perguntar se ainda é seu
Todo meu amor, eu sei que eu
Certamente vou dizer que sim
Mas já depois de tanta solidão
Do fundo do meu coração
Não volte nunca mais pra mim

O amor, o aprendizado e enganos

Transcorrido o luto. Você já tirou o modelito preto, já não há lágrimas da perda, já não há lembranças, você já se divertiu em outros corpos e já descobriu que a vida pode ser mais bela e menos opressiva do que foi antes daquela morte. Você está em outra, feliz, caminhando na sua estrada de mão única sempre em frente, sem olhar para trás, que esse é um jeito seu de enfrentar a vida.
Não se visita o túmulo do morto, porque o otimismo não permite que a carne e a mente e o coração se lanhem e se tomem com vivências doloridas daquele durante difícil. Futuro colorido numa estrada de uma seta única, é que vc quer.
Mas há certos mortos que não se limitam a morrer apenas. Eles precisam dar o ar da graça, assombrar em certos momentos. E "estar na roda", para marcar sua presença.
Nesses momentos, quando tomada por essa energia de assombro, de aproximação, me lembro das mentiras, das tristezas e dos enganos do durante -- o fim de uma relação não é nada diante de um durante em que se revelaram tantos enganos depois.
Absorvido esse impacto, uma mulher feita de madeira de lei segue em frente, sem deixar de acreditar que existe algo na linha de frente que lhe será verdadeiro: e há! Uma mulher feita de madeira de lei tem lá seus encantos e qualidades, e isso a leva a um caminho em que a vida lhe oferece muitos presentes e surpresas boas e delicadas.
Há amores profundos e vulcânicos, que nos arrancam do mundo pequeno em que vivemos, para mais tarde nos revelar "enganos e mentiras". Impacto duríssimo na trama. Mas os amores pequenos, no rés do chão, que chegam mansos e humildes, sem levantar muita poeira, tentando nos conquistar devagar, nos levam serenamente pela estrada. Um amor aprendido, dia a dia. Eu cheguei a isso: um aprendizado amoroso.
A madeira de lei tem lá suas qualidades: "madeira resistente à ação do tempo, ao clima, às intempéries". Pode muito bem resistir à brutalidade, às mentiras e aos enganos, e chegar a esse patamar: um amor delicado, lento, que lhe devolve a tranquilidade e lhe dá o devido valor, que uma mulher madeira de lei merece.
Aos mortos, retornem a seu lugar, que é sua sepultura num país distante que se chama passado, pois não consigo pensar em nada que não sejam mentiras e enganos. Seu lugar é num país distante do que sou hoje: aquela mulher dos yellow cabs, que engolia as lágrimas e as respostas para não piorar situações, que silenciava em castelos, cujo coração disparava e se questionava se será que não tinha culpa daquilo tudo e se desculpava por erros que provavelmente não tivesse cometido, não existe mais. Ela também morreu. Ela se transformou numa estátua de sal naquela sepultura, e de dentro dela surgiu uma nova mulher, menos tolerante, ou nada tolerante com fatos que não merecem nem devem ser compreendidos.
E ela seguiu em frente à procura de uma nova vida. Portanto, aquele e-mail de meu aniversário jamais será respondido; considerei invasivo, o sinal está fechado para qualquer contato. Não há mais nenhum espaço na minha vida, mesmo que para um ingênuo e-mail de parabéns. Esse é meu inventário de tantas coisas que ambos sabemos que aconteceram. E que ficarão seladas entre nós.
Coisas boas? Sim houve, mas elas estão seladas comigo, com cera quente e um belo carimbo com minhas iniciais: elas são minhas.

Mentiras

Nada ficou no lugar
Eu quero quebrar essas xícaras
Eu vou enganar o diabo
Eu quero acordar sua família...

Eu vou escrever no seu muro
E violentar o seu rosto
Eu quero roubar no seu jogo
Eu já arranhei os seus discos...

[...]

Nada ficou no lugar
Eu quero entregar suas mentiras
[...]

Eu vou publicar os seus segredos
Eu vou mergulhar sua guia
Eu vou derramar nos seus planos
O resto da minha alegria...


[...]
(Adriana Calcanhoto)

Inverno: o dia em que fui mais feliz...

"No dia em que fui mais feliz/eu vi um avião/se espelhar no seu olhar até sumir..."

Agora o inverno no Leblon é quase glacial...



Disponível em http://www.youtube.com/watch?v=S6-ty_gjXQY

terça-feira, 19 de junho de 2012

Música de agorinha


Duke Ellington e John Coltrane

In a sentimental mood, composição de Duke Ellington, interpretada por ambos...
Ouçam. A vida é bela, o mundo tem jeito, o amor existe e o sentimento é um mood que merece abrir alas.
Disponível em http://www.youtube.com/watch?v=sR13ECD71xU

Mentiras


Adriana Calcanhotto ao vivo no Bimhuis de Amsterdã, 29.10.2010.

(Disponível em http://www.youtube.com/watch?v=mxR878pwXXM&feature=related)


Mentiras
(Adriana Calcanhoto)

Nada ficou no lugar
Eu quero quebrar essas xícaras
Eu vou enganar o diabo
Eu quero acordar sua família...

Eu vou escrever no seu muro
E violentar o seu rosto
Eu quero roubar no seu jogo
Eu já arranhei os seus discos...

[...]

Nada ficou no lugar
Eu quero entregar suas mentiras
Eu vou invadir sua aula
Queria falar sua língua...

Eu vou publicar os seus segredos
Eu vou mergulhar sua guia
Eu vou derramar nos seus planos
O resto da minha alegria...

[...]

Eu vou derramar nos seus planos, o resto da minha alegria (...)"

Recado: do fundo do meu coração

Para aqueles que estão numa fase "dor de cotovelo", há algo melhor do esta canção?
Do fundo do meu coração
(Disponível em http://www.youtube.com/watch?v=z9ZLZpcUS0o&feature=related)


"Elas cantam Roberto Carlos", Especial da Rede Globo, Adriana Calcanhoto canta "Do fundo do meu coração", 2010

domingo, 17 de junho de 2012

Sobre nossas perdas

Diz Elizabeth Bishop, em seu belíssimo poema "Uma arte", que "perder não é nada sério (...) as coisas contêm em si o acidente de perdê-las (...)".
Realmente, saber perder é uma arte que a idade e o tempo vão esculpindo em nós.
Mas não há palavras eruditas e sábias ou líricas que amenizem esse acidente: o doloroso testamento feito em vida de todas as nossas perdas...

"Noite estrelada", de Vincent van Gogh, com Ferreira Gullar


Tela "A noite estrelada", de Vincent van Gogh, 1889.

A noite estrelada

(Ferreira Gullar)


Diante da tela em branco, tudo é possível e, por isso, nada é possível, a menos que se atreva a começá-la

Quando, em 1890, Vincent van Gogh (1853-1890) se dispôs a pintar uma noite estrelada e se pôs diante da tela em branco, nada ali indicava por onde começar. Mas acordara, naquele dia, decidido a inventar uma noite delirantemente estrelada, como imaginava frequentemente e não se atrevia a fazê-lo não se sabe se por temer errar a mão e pôr a perder o sonho ou se porque preferia guardá-lo como uma possibilidade encantadora, uma esperança que o mantinha vivo.

Aliás, já tentara antes expressar na tela seu fascínio pelo céu constelado. Um ano antes, pintara duas telas em que fixava a beleza do céu noturno -uma dessas telas mostra a entrada de um café com mesas na calçada e, ao fundo, no alto, o céu negro ponteado de estrelas; a outra tela é uma paisagem campestre sob as estrelas. Mas eram como ensaios, tentativas de aproximação do tema que continuava a exigir dele a expressão plena, ou melhor, extrema, como era próprio de sua personalidade passional.

Para alguns, possivelmente, a mesma personalidade que o impelira, dez anos antes, numa noite de Natal, a decepar a própria orelha e levá-la de presente a uma prostituta do prostíbulo que costumava frequentar. Por que fez isso, não há uma explicação plausível, embora haja muitas, desde a de sentir-se abandonado pelo irmão Theo, que preferia passar aquela noite de Natal com a noiva, até a de punir-se pelo ódio que alimentava contra sua mãe. Mas num ponto todos parecem concordar: só um louco seria capaz de mutilar-se daquela maneira.

Pode ser, mas Vincent van Gogh era uma personalidade difícil de explicar. Tenho dúvida quanto ao diagnóstico que o dá como louco. Sabem por quê? É que as pinturas feitas por artistas ditos loucos -como, por exemplo, Emygdio de Barros ou Fernando Diniz- mostram uma carga de subjetividade, uma estranheza (para não dizer anormalidade) que os quadros de Van Gogh não têm.

Pelo contrário, afora a sua primeira fase, marcada por uma espécie de realismo soturno, as demais, que dariam origem décadas mais tarde ao expressionismo, são de uma limpidez cromática incomparável. Refletem lucidez saudável, e não doença mental. A verdade, porém, é que, segundo consta, certo dia ele quase se envenenou ao espremer bisnagas de tinta dentro da boca. E, no final das contas, deu um tiro no peito e acabou com a vida.

Concordo. Muito bom da cabeça ele não era, mas um pintor genial ele foi, sem dúvida. E uma de suas obras-primas é, certamente, aquela "Noite Estrelada" de 1889.

Imagino o momento em que se dispôs a pintá-la: tem diante de si a tela em branco e pode ser que esteja ao ar livre em plena noite, com velas acesas presas ao chapéu. Mas a noite real é pouca. A noite que deseja pintar é outra, mais bela e mais feérica que a real. Por isso, a tela em branco à sua frente é um abismo. Um abismo de possibilidades infinitas, já que a noite que deseja pintar não existe, mas deveria existir, pois o seu sonho a deseja.

Como começar a pintá-la, se ela não existe? Diante da tela em branco, tudo é possível e, por isso mesmo, nada é possível, a menos que se atreva a começá-la. E assim, num impulso, lança a primeira pincelada que, embora imprevista, reduz a probabilidade infinita do vazio e dá começo à obra -ou seja, transforma o acaso em necessidade.

E assim foi que a sucessão de pinceladas, de linhas e cores, aos poucos definiu uma paisagem noturna que era mais céu que terra: um pinheiro que liga o chão ao céu e, lá adiante, a pequena vila sobre a qual uma avassaladora tormenta cósmica se estende, como se assistíssemos ao nascer do Universo.

(Texto disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrada/49195-a-noite-estrelada.shtml)

Amores expressos, via Skype

Um homem, uma mulher, o Skype

Tela do PC:
trim! trim!
Cadê você???
Por aí?

(Arrumando a parafernália, áudio, fones, ajustando a velocidade de internet... Skype é foda, leitores!)


Na tela do lado de cá do Atlântico:
Ei! Me pegou de surpresa, eu tava saindo...
Que saudade!... Tudo bem aí?

Do outro lado do Atlântico:
Saudade tb. Td ótimo! vc bem que podia ter vindo... teimosa!
Mas não vou repetir: se quiser, venha, há hotel reservado pra dois.
Vc ta bem? Muito trabalho?
...

Do lado de cá do Atlântico:
Não estou te ouvindo direito... está cortando. ESSA PORRA DO SPEEDY!
teimosia não é bem a palavra, eu não podia perder este trabalho aqui...
Vc sabe, com ele poderei fazer 4 viagens e ainda poupar algum! Paciência, iremos na próxima. Sim, muito trabalho, não tenho muito tempo sequer pra pensar em lavar os cabelos...
... Ta dificílimo te ouvir. Um ruído péssimo.

Do outro lado do Atlântico:
Eu te ouço bem, Estela... Mas Skype é assim mesmo. Tecnologia serve para deixar a gente de pau na mão quando mais gostaríamos que ela não fizesse isso!
Eu volto em 5 dias. Tô louco pra te ver. E vc, já me esqueceu??? Hein?

Do lado de cá do Atlântico:
ahahahahah tandandandandan Que menino carente! Preciso dizer? Claro que não, minha vontade era estar aí, com vc, "ouvindo estrelas"... Mas vontade e desejo nem sempre são o suficiente pra se fazer algo, né?
Vou te esperar por 5 dias, passa rápido... hum... exceto se algum rabo de saia te prender por aí! Hum...! Não se atreva! Vc é um homem morto! ahahahahah E eu, viúva! Que triste!
Vamos pular o rabo de saia do Velho Mundo. Voltemos aos trópicos!
Quer q te pegue no aeroporto? Mande torpedo com voo e horário, e vou. Com piaccere, sinhorino!


Do outro lado do Atlântico:
Poxa, vou adorar! Mas só se não der trabalho... Bem, o Skype falhando por aqui e vc tem q sair, né? Aliás, onde vc vai a esta hora???

Do lado de cá do Atlântico:
Eu sou uma agente secreta! Namorada no Maxwel Smart... ele ta me esperando para uma missão secretésima! kkkkkkkkkkk
Jantar com as meninas. Só isso. Tô atrasada aliás, preciso ir!
Um bj e volta logo. Vc faz falta aqui, sabia?

Do outro lado do Atlântico:
Um beijo, Estela. Se cuida. Mando torpedo pra falar do voo. Até o aeroporto. Beijos sub-reptícios (lembra?)


Do lado de cá do Atlântico:
Ah! Claro que lembro, fui eu quem te lembrou disso. Para! E me dá o crédito. Um beijo.

quinta-feira, 14 de junho de 2012

Amores expressos, via I-phone

Um homem, uma mulher, um sentimento, uma grande cidade, fragmentos que tentam se conectar. Amores expressos, como o filme.

E-mail:

E aí? Vc quer sair hj? noite fria. Jantar, talvez?
Me dá um toque. Afinal, é o dia! ;-))

V.
via I-phone


E-mail-Resposta:
Ah. Não sei... Vc tinha dito que hj não íamos comemorar pq tinha plantão... Eu meio que desencanei, deixamos pro sábado? O q vc acha?
Hummm... ou vc tem plantão de novo?! Oh Lord... q saco esse negócio de plantão...
S. (via tablet)

E-mail:
Nâo tenho, O plantão de hj furou. te vejo no sábado tb, mas quero tb hj.
Ah! já sei. os arrastões.... rsrs Se tiver arrastão, pronto: te jogo na rede: digo que é minha sereia... eh-eh eles te levam.
Vamos, como faço pra t convencer? Bar jantar e esticar...
Gata arisca de areia...
BJ
V.
via I-phone


E-mail-Resposta:


Gatão,
Se vc me jogar na rede de arrastão dos assaltantes, vão ter dificuldade de arrastar os meus 66 kg! ahahahahah Todos os tablets, iPads, iPods, iPhones e outros 'is' da vida eles deixarão pra trás por dificuldade de carregar junto com meu traseiro... só irei eu na rede... eh-eh
Não sei, deixamos pro sábado, ta bem? Eu cheguei agora do trabalho, nem me arrumei pro nosso dia... E um gato como vc merece uma gatona. Estou mais pra esqueleto de sardinha. Não tava esperando essa mudança de planos... vou 'pular', ta bem? Não fica chateado.
Mas te gosto. Muito. "Tá ligado no movimento?" ;-))
S.

E-mail:
Pena. queria sua risada (gargalhada, melhor.). O dia foi difícil no hospital, duro. Teu humor ia cair bem hj, e depois 'outras coisas prateadas' -Adélia Prado -- vc me mostrou-- tb. vc me mostrou(gostou?).
"Estela", me rendo. bj, bom... . sábado então.
V.
via I-phone

E-mail-resposta:
"Recuo súbito da trama!" Ops (mostro mais esta: Ana Cristina cesar, ou simplesmente Ana C.). Tô convencida! Um homem que cita Adélia Prado merece mais que três dias de espera.
Tõ pondo os sapatos e o casaco. Vou fazer um modelito rápido. Na verdade, a maquiagem tava pronta...
Onde te encontro? (Ah! Leva meu presentinho... clicks! Clocks! :-)))) )
S.

E-mail:
Vai entender uma mulher... rs Não sei se fico :-) ou :-(
Última chamada: esquina do bar Balcão, 22h,.
usa aquele seu perfume Chance e um casaco por cima. E só. Entendeu? Presente? Não comprei, caralho! Mulheres...
Teve arrastão lá ontem, não é possível ter hj! ;-)
Bj, (e plz: não atrasa muito..., não tô a fim de esperar 55 minutos, tô falando sério, "tá ligada"? ;-)
V.
via I-phone

E-mail-resposta:
Última chamada: Estação-felicidade. Rumo ao bar Balcão, se possível, sem arrastão.
estarei lá, sem atrasos hj, promiss you! envolvida em Chance. me aguarde! vc não sabe, além do Chance, sob o casaco, o q te espera.
S.

* Foto: Marylin Monroe, na campanha do perfume Channel n. 5. Numa entrevista, quando se perguntou a ela o que vestia ao dormir, ela respondeu algo como: "Apenas duas gotas de Channel n. 5".

terça-feira, 12 de junho de 2012

Roland Barthes, a Primavera e o amor

"(…) No encontro, maravilha-me o fato de ter achado alguém que, com pinceladas sucessivas, e cada vez mais bem-sucedidas, sem falhas, conclui o quadro da minha fantasia; sou como um jogador cuja sorte não se desmente e faz com que ele ponha a mão na pequena peça que vem, já na primeira tentativa, completar o quebra cabeça de seu desejo. É uma descoberta progressiva (e como que uma verificação) das afinidades, cumplicidades e intimidades que poderei manter eternamente (…)" (Roland Barthes, in Fragmentos de um discurso amoroso)

É inverno. Incólumes a qualquer estação, sentimentos calorosos neste exato momento estão nascendo pueris, ou terminando, morrendo, ou em crise, numa pausa estratégica ou simplesmente há aqueles que querem estar solteiros por opção.
Não importa: dentro de nós há sempre uma senda, uma fissura, uma fenda, uma fechadura, e por ela transitam nossos melhores sentimentos -- os afetos que dedicamos aos outros. Seja namorado. Seja um ficante. Seja um amante. Seja companheiro eterno. Seja pai e mãe. Seja filho ou filha (que é o meu caso, não é doce dádiva, Isadora, o presente de Ísis?). Sobrinha (como é meu caso, não é Anabela querida?). Irmão ou irmã (minha doce Mary e sua delicadeza e constância). O nosso dog ou cat ou bird. Estamos sempre renascendo por meio do amor. E do cuidado que ele faz que tenhamos para com o destinatário desse nosso sentimento. "O amor está fora de moda", me disseram. Mas quem não gosta de usar um modelito vintage? Fora de moda ou não. Artigo de brechó ou simplesmente fluxo natural daqueles que não têm medo de si nem do outro. Não importa o tipo, ou a quem o dedicamos. Amar nos tira desse lugar de saara humano e nos eleva à condição de renascer, sempre, ampliar o sorriso e usufruir daquele brilho que só os que amam podem ter...
A primavera ainda não chegou para nós, mas para quem ama, como eu, você e tantos outros, ela tem seu lugar reservado o ano todo.





Primavera

Leve torpor nos sentidos.
A natureza: luz delicada
e cores recém-nascidas.
No mundo dos homens, alvoroço.
Tudo pode acontecer --

Ao chegar, estarei pronta.
E direi as palavras mágicas:
Pode entrar.
Na minha casa.
E no meu coração.

(Do meu minilivro 4a estação, de dezembro de 2011. Projeto gráfico, claro: Raquel Matsushita.)

Por um futuro melhor

"(...) Caminhante, não há caminho, o caminho se faz ao caminhar."
(António Machado (1875-1939), o poeta sevilhano.)

domingo, 10 de junho de 2012

Mais um poeta escondido nas areias... Ronaldo Brito

"Fala a palavra
ignara
diz o isto
do nada
poema mudo
com critério de sono
cala a fonte
funda
o branco no papel
sem fundo
e asma, asma"

(RONALDO BRITO. Asmas. São Paulo: Duas Cidades, 1982.)

Falei?


* Ronaldo Brito é crítico de arte e poeta.

segunda-feira, 4 de junho de 2012

Amor, amor, minha estação

"Os mensageiros

Palavra de lesma numa lâmina de grama?
Não é minha. Não aceite.

Ácido acético numa lata selada?
Não aceite. Não é genuíno.

Anel de ouro com reflexo de sol?
Loas. Loas e mágoa.

Geada na folha, o caldeirão
Imaculado, estalando e falando

Sozinho no alto de cada um
Dos nove Alpes negros.

Distúrbio nos espelhos,
O mar estilhaçando seu cinza --

Amor, amor, minha estação."

(Sylvia Plath. Poemas. Trad. Rodrigo Lopes e Maurício Mendonça. Iluminuras, 1994)

domingo, 3 de junho de 2012

Encruzilhada

Temos duas opções, a estrada bifurcou, e em vez de ficarmos felizes de termos opções, e brincarmos com a boa e velha sorte, paralisamos. Este é o pior tipo de paralisia. A do medo de escolher.

Quando se ganha uma joia, uma estrela


La vie, c'est dure, já diziam os franceses que deviam comer o brioche que o diabo amassou...
Meus doces leitores, a vida tem seus torrões cinza e negros, difíceis de descer e digerir; mas nos presenteia também com seus momentos belos e escorregadios, como palavras escorregadias que incitam felicidade e languidez, como em "(...) briluz. As lesmolisas touvas roldavam e relviam nos gramilvos. (...)"*. É assim!
E não é que a vida é assim mesmo? Como se fosse uma longa trança, sendo tecida ao longo do tempo, entremeada por torrões dificílimos, depois alguns mais contornáveis, outros "briluz". Uma felicidade lewiscarolliana se arrastando num jardim e sendo acompanhada por lesmolisas lânguidas de olhinhos pequenos a nos acompanhar com aquele corpinho nos "acolchoando" das estalactites que podem nos machucar... Apesar do tema bélico do poema do qual retirei estas palavras -- espadas, inimigos, a caça ao Jaguadarte --, as lesmolisas sempre martelaram em minha mente essa pequena felicidade que nos leva adiante, rasinha, na grama, e vamos nos arrastando em nosso cotidiano, sendo impulsionados para a frente por eses jatos de motivação: briluz.
O que pode ser briluz? Inúmeras, incontáveis situações. Cada ser humano tem o seu nível de exigência para briluz. E o mundo gira com essas tranças bem-feitas e sincronizadas de bons momentos e maus momentos.
Mas o que quero dizer é que a vida não dá só lambadas de serpente sem aviso, não! Ela nos presenteia de surpresa também. Outro dia, Gil Pinheiro, um amigo recente de quem sou 'mãe do blogue', me presenteou com uma tradução belíssima de um dos poemas de que mais gosto. Vou começar a me sentir vaidosa. Explico: há mulheres que se envaidecem ganhando joias, outras, como eu, se envaidecem ganhando estrelas e traduções.
Esse foi meu momento briluz, leitores. Obrigada. Gil.
Vou dividir com todos a bela tradução do belo poema de Paul Verlaine.

Ô triste, triste était mon âme
A cause, à cause d'une femme.

Je ne me suis pas consolé
Bien que mon coeur s'en soit allé,

Bien que mon coeur, bien que mon âme
Eussent fui loin de cette femme.

Je ne me suis pas consolé
Bien que mon coeur s'en soit allé.

Et mon coeur, mon coeur trop sensible
Dit à mon âme : Est-il possible,

Est-il possible, - le fût-il -
Ce fier exil, ce triste exil?

Mon âme dit à mon coeur: Sais-je
Moi-même que nous veut ce piège

D'être présents bien qu'exilés,
Encore que loin en allés?

[Paul Verlaine (Romances sans paroles)]


Ah triste, triste, a alma só quer
Chorar, chorar uma mulher

Que o coração abandonou,
Mas sem sossego me deixou.

E o coração e a alma sequer
Têm nem por perto esta mulher

Que o coração abandonou,
Mas sem sossego me deixou.

E assim o coração, sensível,
Pergunta à alma: será possível,

Será possível tamanha ânsia,
Tanto penar, mesmo à distância?

E a alma responde ao coração:
Sei lá o que causa esta ilusão

De, estando longe, estar tão perto,
Por mais que andemos no deserto.

(Tradução de Gil Pinheiro)



* Trecho do poema "Jaguadarte", de Lewis Caroll, tradução de Augusto de Campos. Transcito na íntegra a seguir.

JAGUADARTE

Era briluz. As lesmolisas touvas roldavam e relviam nos gramilvos. Estavam mimsicais as pintalouvas, E os momirratos davam grilvos.

"Foge do Jaguadarte, o que não morre! Garra que agarra, bocarra que urra! Foge da ave Fefel, meu filho, e corre Do frumioso Babassura!"

Ele arrancou sua espada vorpal e foi atras do inimigo do Homundo. Na árvore Tamtam ele afinal Parou, um dia, sonilundo.

E enquanto estava em sussustada sesta, Chegou o Jaguadarte, olho de fogo, Sorrelfiflando atraves da floresta, E borbulia um riso louco!

Um dois! Um, dois! Sua espada mavorta Vai-vem, vem-vai, para tras, para diante! Cabeca fere, corta e, fera morta, Ei-lo que volta galunfante.

"Pois entao tu mataste o Jaguadarte! Vem aos meus braços, homenino meu! Oh dia fremular! Bravooh! Bravarte!" Ele se ria jubileu.

Era briluz.As lesmolisas touvas Roldavam e relviam nos gramilvos. Estavam mimsicais as pintalouvas, E os momirratos davam grilvos.