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No blogue escrevo meus próprios textos (contos, crônicas, poemas, prosa poética) e também sobre os mais variados assuntos: literatura, cinema, viagens, gastronomia, amenidades, humanidades, música. Tudo que me toca. E que possa tocar os leitores.

domingo, 3 de junho de 2012

Quando se ganha uma joia, uma estrela


La vie, c'est dure, já diziam os franceses que deviam comer o brioche que o diabo amassou...
Meus doces leitores, a vida tem seus torrões cinza e negros, difíceis de descer e digerir; mas nos presenteia também com seus momentos belos e escorregadios, como palavras escorregadias que incitam felicidade e languidez, como em "(...) briluz. As lesmolisas touvas roldavam e relviam nos gramilvos. (...)"*. É assim!
E não é que a vida é assim mesmo? Como se fosse uma longa trança, sendo tecida ao longo do tempo, entremeada por torrões dificílimos, depois alguns mais contornáveis, outros "briluz". Uma felicidade lewiscarolliana se arrastando num jardim e sendo acompanhada por lesmolisas lânguidas de olhinhos pequenos a nos acompanhar com aquele corpinho nos "acolchoando" das estalactites que podem nos machucar... Apesar do tema bélico do poema do qual retirei estas palavras -- espadas, inimigos, a caça ao Jaguadarte --, as lesmolisas sempre martelaram em minha mente essa pequena felicidade que nos leva adiante, rasinha, na grama, e vamos nos arrastando em nosso cotidiano, sendo impulsionados para a frente por eses jatos de motivação: briluz.
O que pode ser briluz? Inúmeras, incontáveis situações. Cada ser humano tem o seu nível de exigência para briluz. E o mundo gira com essas tranças bem-feitas e sincronizadas de bons momentos e maus momentos.
Mas o que quero dizer é que a vida não dá só lambadas de serpente sem aviso, não! Ela nos presenteia de surpresa também. Outro dia, Gil Pinheiro, um amigo recente de quem sou 'mãe do blogue', me presenteou com uma tradução belíssima de um dos poemas de que mais gosto. Vou começar a me sentir vaidosa. Explico: há mulheres que se envaidecem ganhando joias, outras, como eu, se envaidecem ganhando estrelas e traduções.
Esse foi meu momento briluz, leitores. Obrigada. Gil.
Vou dividir com todos a bela tradução do belo poema de Paul Verlaine.

Ô triste, triste était mon âme
A cause, à cause d'une femme.

Je ne me suis pas consolé
Bien que mon coeur s'en soit allé,

Bien que mon coeur, bien que mon âme
Eussent fui loin de cette femme.

Je ne me suis pas consolé
Bien que mon coeur s'en soit allé.

Et mon coeur, mon coeur trop sensible
Dit à mon âme : Est-il possible,

Est-il possible, - le fût-il -
Ce fier exil, ce triste exil?

Mon âme dit à mon coeur: Sais-je
Moi-même que nous veut ce piège

D'être présents bien qu'exilés,
Encore que loin en allés?

[Paul Verlaine (Romances sans paroles)]


Ah triste, triste, a alma só quer
Chorar, chorar uma mulher

Que o coração abandonou,
Mas sem sossego me deixou.

E o coração e a alma sequer
Têm nem por perto esta mulher

Que o coração abandonou,
Mas sem sossego me deixou.

E assim o coração, sensível,
Pergunta à alma: será possível,

Será possível tamanha ânsia,
Tanto penar, mesmo à distância?

E a alma responde ao coração:
Sei lá o que causa esta ilusão

De, estando longe, estar tão perto,
Por mais que andemos no deserto.

(Tradução de Gil Pinheiro)



* Trecho do poema "Jaguadarte", de Lewis Caroll, tradução de Augusto de Campos. Transcito na íntegra a seguir.

JAGUADARTE

Era briluz. As lesmolisas touvas roldavam e relviam nos gramilvos. Estavam mimsicais as pintalouvas, E os momirratos davam grilvos.

"Foge do Jaguadarte, o que não morre! Garra que agarra, bocarra que urra! Foge da ave Fefel, meu filho, e corre Do frumioso Babassura!"

Ele arrancou sua espada vorpal e foi atras do inimigo do Homundo. Na árvore Tamtam ele afinal Parou, um dia, sonilundo.

E enquanto estava em sussustada sesta, Chegou o Jaguadarte, olho de fogo, Sorrelfiflando atraves da floresta, E borbulia um riso louco!

Um dois! Um, dois! Sua espada mavorta Vai-vem, vem-vai, para tras, para diante! Cabeca fere, corta e, fera morta, Ei-lo que volta galunfante.

"Pois entao tu mataste o Jaguadarte! Vem aos meus braços, homenino meu! Oh dia fremular! Bravooh! Bravarte!" Ele se ria jubileu.

Era briluz.As lesmolisas touvas Roldavam e relviam nos gramilvos. Estavam mimsicais as pintalouvas, E os momirratos davam grilvos.

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