Quem sou eu

Minha foto
No blogue escrevo meus próprios textos (contos, crônicas, poemas, prosa poética) e também sobre os mais variados assuntos: literatura, cinema, viagens, gastronomia, amenidades, humanidades, música. Tudo que me toca. E que possa tocar os leitores.

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Um novo ano e uma nova vida

Um novo ano se inicia e com ele, na minha vida, tudo é novo, não só o tempo.
Minha filha entra numa nova fase, seu tempo de adulto, e com isso, eu entro num tempo de mais vagar, menos correria, sou uma mãe não mais em tempo integral. A distância, vou dando um help, sempre que necessário. Além disso, há outras mudanças para uma mulher que adentra o tempo. Há mudanças no corpo, na forma de ver e de calar por vezes. Ou de mergulhar de um jeito absurdo, como nunca antes. Há segredos que florescem no coração. Há que olhar ao redor e retomar nas mãos as células congeladas por motivos nobres, e com o calor de um novo olhar, derretê-las, fazê-las rever o mundo, reaprendê-lo, assimilar novas cores, novos tons, novas nuances. Tudo devagar, com calma, sem pressa. Pois tudo que se retoma tem que ser sorvido com a natureza espessada do tempo. Como uma bala de coco. Para ser feita, leva-se muito tempo, temperatura e horas de fogão. Depois, tem de ser esticada e compactada a dois, muitas e muitas vezes, até atingir certa consistência. Só então pode-se puxar a massa em fios grossos e cortar. Depois ela descansa e endurece. Daí, depois de horas, surgem aquelas balas de coco. Deliciosas. Sabor de ambrosia, deuses, Olimpo. Vi minha mãe fazer muitas vezes quando era pequena, por isso sei da necessidade do tempo para as coisas belas e doces de nossa vida.
Coisas belas e doces... pensando nisso, sempre penso em minha filha primeiro, então este primeiro texto de 2013 do blogue é dedicado a ela, para celebrar a chegada do seu tempo de adulto. Feliz ano-novo, minha filha.

Flores


Para minha filha, Isadora.


Uma tarde fria de maio. E o pressentimento de que nada mais será o mesmo.
O toque suave da intuição soprando letras decodificáveis. O sentimento prediz o rumo inevitável e delicioso da vida. Algo alterando para sempre o ritmo desse universo.
De uma dança feérica, palavras surgem, delicadas, confirmadoras. Todo um sistema de signos em prontidão. A certeza apenas como uma questão de tempo, a esperar, a esperar.
Quieta, encastelada, encapsulada nessa condição de mulher, à procura de um sinal, à procura de um sinal.
Violetas brotam em vasos coloridos. Uma primavera cor-de-rosa projeta três botões. Um cacto áspero rende-se a roliças suculentas. Nas vidraças, um masculino sol a aquecer os dias.
Como num roteiro, fotos em sépia prenunciam a continuidade do mundo. E a dor paradoxal dessas inevitáveis alegrias. O silêncio a emoldurar esse quadro.
Uma coreografia imaginária se insinua nesse cenário, trazendo consigo a sonoplastia mais pura – águas claras chocando-se nas pedras. Uma felicidade insuportável galopa num crescendo. Cascos batendo cada vez mais perto do coração. A felicidade, ambígua, faz doer vislumbres futuros. Um receio desobediente libera-se de um quarto escuro, e faz tremer essa certeza-tudo. Num átimo, sim. E o mergulhador atira-se do despenhadeiro. Bliss.
Imagens ancestrais a amparar o inconsciente. Como pinturas rupestres a narrar uma história, códigos virtuais perseguem em desespero a voz das origens. Uma presença mítica e urgente a flanar, pulverizando-se – apenas uma palavra, uma frase, e o rito de passagem cumprirá seu percurso encantado.
Uma locação onírica, e a câmera felliniana focaliza o luar leitoso a iluminar uma veste em opala branca, delicada e suave, abandonada num céu de estrelinhas cor-de-carne. Um elmo se revela em segundo plano; descansa seu brilho metálico à beira desse abismo entre dois mundos. Uma ponte salina, por vezes, liga brevemente esses dois universos, para em seguida ser desmanchada pelo vento.
Do outro lado do planeta, o sol antagonista cumpre, indiferente, seu destino. Despreocupado, evita sensibilidades lunares. Sequer terá ciência de que essa lua, que adormece Psiquê, despertará Afrodite.
Maio. E suas flores sob a luz do outono.

3 comentários:

  1. A tua palavra sempre me atinge com emoção. Lindo o texto, lindo o teu talento... a tua capacidade de tocar o núcleo, em nossos corações.
    Feliz 2013! Pra ti, pra Isa e para as borboletas que as sobrevoam... e que as tocam; azuis, cor de rosa, de toda cor. Sim, eu acredito na importância e na verdade de todas as cores, assim é o amor em nossas vidas... infinitas cores, em infinitos tons.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Gika, que bom vc escrever aqui, pq logo vai receber algo meu, que tem a ver com vc e mais gente... Feliz 2013! Pra vc, Clara, Iolanda e todos os seus! Bjs e me aguarde!

      Excluir