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No blogue escrevo meus próprios textos (contos, crônicas, poemas, prosa poética) e também sobre os mais variados assuntos: literatura, cinema, viagens, gastronomia, amenidades, humanidades, música. Tudo que me toca. E que possa tocar os leitores.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Ao meu pai

Uma homenagem a meu pai, seu Heitor Brazil, que com sua Lupa, recortes de jornal, fotos antigas, documentos antigos, notas fiscais dos anos 50 que contêm selos antiquíssimos, mapas e atlas, vai compondo o mosaico da sua memória, construindo a seu modo aquilo que nós perdemos dia a dia. (E não apenas os portadores de Alzheimer como ele.)
Ele não tem mais espaço, então destina a mim uma parte de seu museu... E mesmo que eu não tenha espaço aqui no meu apartamento, e minha mãe diga a ele que eu não quero estas coisas -- o que não é verdade, porque sou como ele, gosto de guardar relíquias... --, eu faço questão de trazer, por vários motivos: quero manter estas pequenas coisas que são importantes pra ele. A nota fiscal da mobília de seu casamento tem um belo selo e carimbo no verso, e ele me pediu pra guardar aqui em casa e não jogar fora... (Claro que não!) É feito de um papel grosso, e tinta de impressão gráfica azul forte; o selo, belíssimo! O ano? 1961. Quando perguntei por que ele destinava a mim e não a outra pessoa suas relíquias, ele me respondeu: "porque sei que você gosta dessas antiguidades, vai guardar e isso vai se manter no tempo. Não vai jogar fora".
Seu Heitor é um tipo discreto. Quer guardar um segredo? Conte pra ele. Ele levará para o túmulo, e nem sob tortura arrancarão dele. Quer manter um retrato de família bem guardado? Entregue em suas mãos. Ele vai catalogar, pôr numa pasta, fichar, e lhe infernizar até descobrir data, estúdio, nomes dos personagens, fazer uma cópia (claro! Ele faz cópia de tudo!) etc. Outra coisa: não deixará ninguém ter acesso à privacidade de sua peça. Outra característica, que herdei dele. Resultado: quando você decidir tê-lo de volta, terá uma peça "de museu", entregue numa pasta de cartolina verde-água amarrada com fita preta, que era ainda da época em que ele trabalhou no Fórum. Tem um cheirinho de infância pra mim. Dentro, todas as anotações para qualquer museólogo não botar defeito! Resultado: terá valido a infernização inicial do seu Heitor!
Para o meu pai, com todo carinho deste mundo, mais o carinho que ele destinou a mim e a meus irmãos e a suas duas netas, que ele ama, de paixão, Anabela e Isadora, para quem ainda faz as mesmas brincadeiras que fazia para nós -- brincar de cavalinho, por exemplo, e de esconde-esconde. Pai, nós amamos você dobrado e triplicado. Receba o texto da Lupa -- da postagem anterior. Ele é seu. Este é o pouco que posso lhe retribuir do muito que você me deu e me ensinou para que eu seguisse em minha vida.
A Lupa é sua, os mapas são seus, mas a alegria é nossa de tê-lo conosco.

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