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No blogue escrevo meus próprios textos (contos, crônicas, poemas, prosa poética) e também sobre os mais variados assuntos: literatura, cinema, viagens, gastronomia, amenidades, humanidades, música. Tudo que me toca. E que possa tocar os leitores.

segunda-feira, 4 de março de 2013

Retrato

O travo amargo dos dias arrasta o melhor dos sabores do amor e das delícias. A maior das paixões. O amor mais doce e mais sutil. Mesmo que não se queira, o chamado à vida é cruel, e o fruto doce do prazer vai sendo relegado pouco a pouco. Um processo subliminar. Como numa centrífuga, estilhaços de nós são arrastados para as bordas pelas demandas do cotidiano, somos separados à nossa revelia. Vez por outra apenas nos encontramos, para abruptamente ser arrastados de novo, sem aviso prévio. Mas um dia, uma manhã, uma manhã de sol, em que ele, insolente, invade quebrando o bloqueio da cortina, você verá a foto dela no criado-mudo, aquela foto que você fez naquele dia em que estavam tão apaixonados naquela viagem... Naquela viagem em que descobriram o prazer, o amor, que descobriram que se conheciam antes mesmo de se conhecerem, que estavam na mesma sessão proibida de cinema anos antes de imaginarem a existência um do outro, que frequentaram os mesmos cinemas e cineclubes, a mesma livraria anos a fio talvez ficando de costas um para o outro e jamais se esbarrando, que compraram o mesmo cartão erótico e jamais deram de presente a ninguém. Nesse dia, você pedirá para ela ficar. Para sempre.

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