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No blogue escrevo meus próprios textos (contos, crônicas, poemas, prosa poética) e também sobre os mais variados assuntos: literatura, cinema, viagens, gastronomia, amenidades, humanidades, música. Tudo que me toca. E que possa tocar os leitores.

domingo, 3 de março de 2013

Trocando o insulto pelo amor



Ando vendo este cartaz "Mais amor por favor" espalhado pela cidade, e tenho adorado, e parado diante, contemplado, e alguns apressados buzinam atrás de mim... Eles, sem dúvida, não leram o cartaz, tão estriquinados estão dos apressamentos sem sentido e urgências que não sabemos pra que desta cidade... Parar para contemplar é probido numa metrópole, vocês já perceberam... Você se torna um intruso no caminho demarcado das passadas apressadas que o ritmo do capital impõe, numa linha demarcada um giz imaginário, da qual vc não pode sair, com o risco de ser atirado fora do sistema. Vocês já assistiram a "Koyaanisqatsi: Life Out of Balance", imagino, filme de 1982, direção deGodfrey Reggio, música de Phillip Glass, obra-prima que mostra esse ritmo alucinante que nos coopta sem que percebamos num ritmo que não é nosso, e nos arrasta em algo que nos assemelha à máquina.
Já fui xingada até no bucólico jardim-calçadão de Santos, tão cultuado até no livro do Guinnes. Era um maluco-corredor. Eu caminhava no calçadão, conversando sossegadamente com minha filha há uns 4 anos, e nós demos uma diminuída para atravessar. Ele não queria diminuir o ritmo da sua corrida provavelmente programada por algum personal em alguma planilha de excel, mas eu e minha filha paramos a caminhada para isso, para com bom senso atravessar a rua. Ele, impaciente, falou para mim sem parar de correr e sem olhar para trás: "sai da frente, 'tia'"... num tom agressivo, cruel, jocoso até. E seguiu seu cronograma sem olhar para trás. Naquele momento eu estava muito fragilizada, e vivia os finalmente de uma depressão. Vivia fechada numa concha. As palavras dele demoraram a me atingir, a chegar aos ouvidos, ao cérebro. Minha filha, se condoeu por mim, e falou: que babaca! Eu não consegui dizer nada por alguns segundos, pois o tempo de quem passa por algum tipo de depressão é outro, tudo parece o som de um concha que se coloca no ouvido. Quando meu tempo chegou eu disse para minha filha: "Eu poderia ter dito a ele: senhor metido a jovem, vai tomar no cu..." Minha filha esboçou algo que não era riso nem risada. Ficou me olhando, porque sabia que dizer este tipo de palavrão é expressar minha mais alta indignação, mesmo estando deprimida. Demos um meio sorriso uma para a outra, e seguimos, calmamente nossa conversa, agora retomando por que as pessoas andam tão agressivas umas com as outras. Ali, em tese, é um lugar para as pessoas interagirem -- há redes, jogos, bolas, petecas, monitores, personais, professores -- para haver inclusão. Quando um babaca desse, exatamente da minha idade, urra "sai da frente, tia", quando o normal é vc diminuir seu ritmo, pois o calçadão não é seu, é democrático, é de todos, que têm vários ritmos -- uns caminham, uns de bike, uns de cadeira de rodas, outros correm como Forrest Gump --, há de se pensar o mundo.
Enquanto eu lia o cartaz "Mais amor por favor", que tenho visto coalhado nos muros de São Paulo desde ano passado, e já falei dele em meu blogue inclusive em 2012, e buzinaram atrás de mim, me lembrei desse episódio. Se fosse hoje, esqueceria aquele péssimo palavrão que disse, atrasado claro -- eu sei --, e que não combina, não resolve, só gera mais agressividade no mundo, e eu diria ao coroa com desejos de fonte de eterna juventude: "Ei, brother, mais amor, por favor!..."

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