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No blogue escrevo meus próprios textos (contos, crônicas, poemas, prosa poética) e também sobre os mais variados assuntos: literatura, cinema, viagens, gastronomia, amenidades, humanidades, música. Tudo que me toca. E que possa tocar os leitores.

quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

As porcelanas e o barro pesado e adaptável dos dias

Eu coleciono xícaras antigas. De todo tipo. Pequenas, muito simples, de porcelana chinesa, ou francesa, inglesa, daquelas de porcelana pesada de tomar café em cozinha de fazenda. Gosto também das canecas de ágata que acompanham bules brancos, e aqueles açucareiros grandes antigos que nem se usam mais. Também coleciono colherinhas de café. De todo tipo. Me agrada vê-las na gaveta da cozinha. O tlim-tlim que elas fazem quando vou pegar algo ali me remete ao "estar viva", às visitas, ao açucareiro que será posto sobre uma toalhinha de linho n bandeja de café. O bule de prata e cabo de madeira que levei anos pra comprar numa feira de antiguidades. (Este é um caso à parte. Eu vi ao visitar uma amiga que tinha sido operada e fazia francês comigo na Aliança. Eu cheguei e ela tinha uma governanta. O apartamento tinha dois andares; Isadora tinha 5 meses. Levei o bebê comigo. Coloquei Isadora sobre um cobertorzinho sobre um daqueles persas maravilhosos. Pois não é que a pequena percebeu o berço de ouro onde estava? Tomou a mamadeira sozinha com as mãozinhas enquanto eu conversava, deitadinha nas asas do Oriente. Depois tomou suco de beterraba, quietinha e ficou olhando meio vesguinha pra um brinquedinho que dei a ela pra se distrair. Mas eu, eu fiquei totalmente tomada por aquele bule de prata. Cabo de madeira. O brilho era tão intenso que eu podia ver meus cabelos longos e escuros nele, presos por uma faixa. Governanta? Jamais teria uma governanta mesmo se tivesse muito dinheiro. Mas aquele bule eu desejei um dia encontrar um parecido. Ele percorreu meus dias anos a fio. Há uns 6 anos, fui à feira da Benedito Calixto, e lá estava o bule me esperando, por uns R$ 30,00. Cheguei em casa, lavei, poli. Ficou lindo. E mesmo quando estou sozinha, me sirvo de café com ele. Um jeito de dizer: eu mereço ser bem servida.
Mas além de colheres e xícaras, eu coleciono presépios. Não é possível nascer numa família de portugueses e italianos e fugir de um presépio montado naquele papel que tem padronagem de pedra. A gruta do menino Jesus era feita nesse papel na casa da minha avó Hermínia... E eu acabei gostando de ver Jesus, Maria, José, os reis magos, as ovelhas, o anjo da Anunciação. Mesmo depois de me tornar cética, aquele cenário sempre me foi confortador, os animais e os anjos ao redor, todos celebrando aquela presença serena.
Um dia, sem sequer saber, meu amigo Osvaldo Leonardi Ceschin nos deu de presente um presépio feito de vidro numa base pedra, lindo... Também ganhei outros presépios, são muito bonitos.
Domingo, ganhei um presépio belíssimo feito de madeira, folhas de palmeira e outros materiais de reciclagem; é grande e a cobertura onde fica o menino Jesus é alta e grande o suficiente para abrigar bem os personagens. É o presépio mais original e natural que já tive. Madeira pura e telhado feito de palmeira. Tudo isso fez me lembrar do presépio napolitano do Museu de Arte Sacra. Levei Isadora para ver quando ela era ainda pré-adolescente. Fomos as duas ao museu e ficamos encantadas com as milhares de peças do presépio.
Fiquei pensando que nossa vida não é nada, nada além dessas pequenas coisas que ficam apenas na lembrança: o papel de pedra da gruta de Jesus do presépio meio mambembe de minha avó, do presépio de vidro que Osvaldo nos trouxe, do presépio grande de teto de palha que minha mãe me deu faz anos e que deixo montado aqui em casa no buffet da entrada, dos pequenos presépios sul-americanos que ganhei de presente, do presépio que vem dentro de uma caixinha que imita uma capela e tem portas, deste novo presépio que ganhei no domingo.
A vida e essas pequenas lembranças: xícaras na cristaleira, pequenas colheres na gaveta, presépios feitos de madeira, de vidro, de porcelana, de cerâmica, barro... O barro simples, por vezes pesado, mas sempre moldável e adaptável dos dias.

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