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No blogue escrevo meus próprios textos (contos, crônicas, poemas, prosa poética) e também sobre os mais variados assuntos: literatura, cinema, viagens, gastronomia, amenidades, humanidades, música. Tudo que me toca. E que possa tocar os leitores.

quarta-feira, 26 de março de 2014

De cara com o crime

O sol queima meus olhos. E não consigo desviá-los do corpo estendido no chão. Eu estava em alta velocidade. Fui avisada, tantas vezes, do perigo de dirigir de forma insensata, mas não ouvi. Em muitas das curvas mal desenhadas, eu derrapei e pus em risco quem estava comigo; mas fui descuidada, achando que a vida estava cuidando à distância. Confiei na sorte. Pois agora, num de meus piores deslizes, típicos do meu egoísmo, atropelo um corpo querido e o transformo em farrapos. Tamanho o impacto, ele se torna algo que desconheço. Seria essa obra a marca da minha maldade? Algo tão precioso atirado no asfalto sujo e quente. Agora, de frente para o crime, só tenho lágrimas, arrependimento e dor. O sol que queima me lembra o sol do Estrangeiro. Desplugada do possível, não presto socorro à vítima, pois não me permitem. Meu respeito é entender. Só o que me resta é seguir em frente apenas com os cacos que sobraram, e tentando reinventar. (Algo me puxa para trás: aquele corpo quente, que ainda pulsa sobre os estilhaços, esse calor eu jamais vou esquecer.) Ainda assim sigo: entre os cacos que recolhi, levo comigo um coração.

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