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No blogue escrevo meus próprios textos (contos, crônicas, poemas, prosa poética) e também sobre os mais variados assuntos: literatura, cinema, viagens, gastronomia, amenidades, humanidades, música. Tudo que me toca. E que possa tocar os leitores.

segunda-feira, 17 de março de 2014

Dias de ressaca

Eu sempre comparo a vida ao movimento das marés. Tem dias que o mar está pra peixe, e o sol brilha e todos os peixinhos vêm à superfície dar o ar de sua graça. Há dias de tanto encanto em que é possível mesmo imaginar que uma sereia passou por ali, e o mar reverencia a beleza e a sedução. Há dias raros, aqueles que cada um de nós guarda dentro daquela caixa oculta; algo que só nós sabemos, aquela lembrança única, e só de vir à tona, é tanta emoção, que é melhor tampar a caixa, e guardar tudo aquilo a sete chaves de novo. Os segredos de todos nós formam essa maré das grandes emoções do mundo.
Mas há dias de maré baixa, dias difíceis, dias de ressaca, como Machado descreveu os olhos de Capitu. Em dias assim, o estômago fecha, não há comida deliciosa que desça, não existe um doce que apeteça, sequer o vinho abre espaço nas vontades. Nesses dias, parece que há uma ferida dentro da gente, e que nunca vai fechar. E por mais racionais que sejamos, não há pensamento racional que retire este gosto amargo de ressaca e cabo de guarda-chuva de dentro de nós. Nada se bebeu, mas é como se fosse um porre homérico: o mal-estar sem-fim.
Em dias de ressaca, eu sempre peço que se atenue a dor, porque em mim tudo ou é alegre demais, ou dói demasiado, é tudo muito intenso em mim. Em dias assim peço aos deuses do Olimpo que me enviem Hermes e que ele traga consigo além do frescor da sua viagem alada uma boa surpresa. Pode ser uma coisa simples: uma boa notícia, uma carta, um bilhete, um telegrama, um e-mail, um telefonema, um torpedo, uma estrela que caia do céu.

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