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No blogue escrevo meus próprios textos (contos, crônicas, poemas, prosa poética) e também sobre os mais variados assuntos: literatura, cinema, viagens, gastronomia, amenidades, humanidades, música. Tudo que me toca. E que possa tocar os leitores.

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Vejo você no próximo verão

Saí do cinema realmente surpresa com a primeira direção de Philip Seymour Hoffmann em Vejo você no próximo verão. Nada estonteante como os grandes diretores do cinema clássico, mas a delicadeza pairou ali, certo cuidado se percebia a todo instante. Começou pequeno, tímido e os personagens cresceram, não para se agigantar como nos grandes filmes, mas o suficiente para simpatizarmos com Hoffmann e querermos o melhor para os personagens.
A vida pequena, cotidiana, dura, marcada pela invisibilidade dos hardworkers de Nova York tem uma fatia pequenina contada ali, sob os rigores do inverno. Os amigos Jack e Clyde dirigem as limos que carregam os endinheirados pelas ruas de Manhattan enquanto Lucy e Connie se desdobram para vender uma espécie de serviço funerário sob a administração do bossal doutor Rob. Sem dúvida, no miolo de tudo, o que se tentou mostrar foram a amizade, a solidariedade, os vínculos entre quatro pessoas que vivem numa metrópole duríssima como a big apple.
Mas o ápice do filme para mim teve um sabor inimaginável: toda uma sequência belíssima acontece no maravilhoso hotel Waldorf Astoria, no saguão art déco, onde confeiteiros vestidos de branco desfilam em câmera lenta iguarias doces. A própria arquitetura é locação onírica. A cena emociona.

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A primeira vez que fui a Nova York, quis ao menos tomar um café no salão de chá do histórico hotel, que vi nas revistas de minha infância. Qual! A grana era curtíssma. Acabei trocando os bucks que seriam gastos ali por uma ursa polar branquíssima de chachecol verde com filhote para Isadora. Isa amou e dormia agarrada com ela durante anos. A ursa existe até hoje, guardada aqui em casa, lavada e bem cuidada. (Quando os filhos vão morar sozinhos, eles legam às mães suas memórias. E as mães fazem questão de guardá-las, porque as memórias são delas também.) Na segunda vez, não houve tempo para a visita tão desejada ao longo dos anos. Eis que recentemente aconteceu! Pisei naqueles mármores repletos de história, aquele hall belíssimo, arte transpirando em cada recorte. Não vou esquecer. Pra quem gosta de arquitetura, história, arte, cinema, belle époque, art déco, aquilo foi uma taça transbordante, repetida.
Nessa estada, nos dias dias que me hospedei ali, aproveitei além do êxtase diante de cada detalhe da edificação, um pouco da história que fui lendo e recolhendo aqui e acolá. e contarei em outro post. A primavera em Nova York torna a cidade diferente do que nas outras estações: menos arredia, me parece. Menos hostil. Nem o calor opressivo do verão, nem o frio difícil de enfrentar no inverno para quem não está acostumado, como nós, latinos. Nesses dias, aproveitei a exposição (póstuma) de Alexander MacQueen no MET, caminhei pelas ruas sem pressa, observei ao longe as pontes sobre o Hudson, visitei com calma os museus da cidade, tudo o que Nova York oferece de melhor nessa estação deliciosa, cheia, repleta de flores.

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Em Vejo você no próximo verão, como as estações do ano, Connie e Jack vão percorrendo devagar o caminho que leva ao encontro; Clyde e Lucy, ao contrário, seguem sua curva descendente e vertiginosa em sua relação, um caminho sem volta. Vamos testemunhando a teia muito delicada do sentimento que une de um modo meio desajeitado, mas simpático, Jack e Connie, e paralelamente somos metralhados pela violência e o desdém impregnados no fim da relação do casal de amigos. A conclusão é simples como a vida: é preciso que algo morra, para que o que é novo possa nascer e florescer. Assistam, vale a pena. Além de um excelente ator, Hoffmann se mostra nessa primeira direção direção um "maestro" delicado e sutil.

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