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No blogue escrevo meus próprios textos (contos, crônicas, poemas, prosa poética) e também sobre os mais variados assuntos: literatura, cinema, viagens, gastronomia, amenidades, humanidades, música. Tudo que me toca. E que possa tocar os leitores.

quarta-feira, 16 de abril de 2014

Aconteceu naquele dia

Era 4 de novembro de 1987, e fui à USP fazer uma prova de literatura francesa, prova bem difícil e complexa. Caxias que eu era, para não ter que refazer o semestre, pedi a todos os professores se poderiam antecipar trabalhos e provas para que eu não perdesse o semestre. Como eu era uma boa aluna, deu certo... E como dei conta não sei, mas fazia natação para gestantes, fazia curso para pais de primeira viagem, fazia Aliança Francesa duas vezes por semana, fazia faculdade de manhã, e ainda saía pra dançar com minhas amigas à noite. Além de tudo isso, estudava duplicado para deixar tudo fechado naquele semestre (só fiquei em recuperação em duas matérias, porque Isadora nasceu uma semana antes do que imaginava, e estas provas não consegui fazer). Bem, eu fui fazer a prova de francês, a professora Cecilia me disse que seria melhor fazer na sala dela, que ela precisava corrigir provas, fazer burocracias. Lá fui. Durante a prova, que foi logo depois dessa foto, eu comecei a não me sentir muito bem, como se eu tivesse com uma cólica menstrual. Por mais advertida que eu estivesse, por mais que estivesse bem orientada por meu médico, e tivesse feito cursos de como seria quando entrasse no processo de parto, eu era apenas uma menina de 24 anos, distraída, aérea, focada nos estudos, que não ouvia muito os sinais de seu corpo. Pois eu fui até o fim da prova de Cecilia, e a nota foi excelente. Me lembro bem disso. Mas aquela coliquinha estava muito chata. Fui dirigindo para casa. Pra se ter uma ideia de como eu era aérea, à noite meu ex-marido falou: "Sandra, você ainda não tem camisolas para levar pra maternidade, não é melhor comprar?" Falou assim meio receoso, porque eu poderia achar que ele estava se intrometendo nas minhas coisas, e então eu poderia ficar brava... Eu falei "vamos". Às 6h da manhã, acordo com a materialização de tudo aquilo: o tal tampão. Não me senti nervosa, nem ansiosa. Fui tomar um banho, eu mesma liguei para o médico relatando o dia anterior até aquele momento. Calma, fiz um pedido a ele: "Dr. Motaury, por favor, não esqueça de levar aquela linha de sutura que não é preciso tirar os pontos depois..." (Este tinha sido um tópico debatido nas consultas, meu medo de pontos, agulhas etc., retirada de pontos... Afinal, eu havia abandonado um curso de medicina por não suportar essas coisas... Ele me disse que havia a linha de sutura que o organismo absorvia, que eu ficasse tranquila. Era só eu lembrar no dia que ele levaria.) Depois de combinado tudo com o médico, fui chamar o pai de Isadora, que até então estava dormindo. Eu disse: "Então, está na hora, já avisei o médico e minha mala está pronta, é só você se arrumar e irmos pro hospital." Jamais vi o pai de Isadora nervoso durante todo o tempo em que estivemos casados, exceto nesse momento. Ele se levantou como um raio, quando foi se vestir, todo atrapalhado e nervoso a calça se rasgou de cima abaixo, e eu acabei gargalhando... Ele não riu e pediu pressa pra mim, e eu disse: "Calma, eu não estou sentindo nada." Eu sou uma pessoa tensa, que tenta se controlar o tempo todo. Mas nesse dia uma paz e uma calma tomaram conta de mim por completo. Acho que eu sabia que estava para ser presenteada pelo Universo com o que me faria crescer, ser verdadeiramente feliz e me tornar alguém muito melhor. Bem, nesse dia, às 19h40, veio ao mundo uma menina, que ganhou o nome de bailarina. Sou grata aos deuses e ao Universo que ela tenha sido destinada a mim.

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