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No blogue escrevo meus próprios textos (contos, crônicas, poemas, prosa poética) e também sobre os mais variados assuntos: literatura, cinema, viagens, gastronomia, amenidades, humanidades, música. Tudo que me toca. E que possa tocar os leitores.

quinta-feira, 8 de março de 2012

8 de março: a Lucy e a Valentina, que há em todas nós

De Guido Crepax, a personagem Valentina, minha favorita dos quadrinhos

Se há uma coisa que eu sou, e somos todas -- vejo minhas amigas e colegas no trabalho --, é um ser eclético, que pode ser várias coisas e fazer várias coisas ao mesmo tempo.
Vejam: posso editar um texto, posso escrever um poema delicado, fazer uma tradução do francês ou do inglês, revisar uma tradução, ler um texto em espanhol (capengamente), fazer uma revisão de um texto de dramaturgia -- parece sofisticado? --, mas olhem que mundano o contexto: tudo isso, ao mesmo tempo, pondo roupas na máquina de lavar, separando no programa "delicados" aquelas de que mais gosto, tendo cuidado com as peças que paguei mais caro... Ou tirando congelados para preparar o almoço de minha filha que vai para a faculdade: ponho tudo pra fazer e me sento diante do PC para trabalhar. Quando ouço que a máquina terminou seu ciclo, vou lá, e estendo. O mesmo para a comida, que Isadora adora ter quentinha e pronta na mesa da sala de jantar numa mesa bonitinha que arrumo... O olho no relógio-despertador herança de minha avó (ela também à frente de seu tempo, avant-guarde), que fica na sala de jantar (tique-taque), porque às 12h40 tenho que sair correndo para o trabalho na editora com a qual tenho contrato até abril! (Ufa!) Vai dar tempo? Vai, claro que vai.
São três jornadas: os freelas pela manhã, a editora à tarde e o terceiro round à noite até umas 23h. É mole? Não... É bem duro, confesso, mas é assim que consigo os pequenos luxos femininos, por exemplo, comprar a nova edição de Valentina, de Guido Crepax... :-)
Mãe, profissional, dona de casa, leitora, mulher cheia de mimos, tudo ao mesmo tempo.
Também pode ser meio Chapolim-Colorado, quando no mercado de trabalho, mesmo hoje, século XXI, somos tratadas como 'bonequinhas de luxo', ou apenas como assistentes dos 'verdadeiros' profissionais, em geral, do sexo masculino. Como num episódio de I love Lucy -- o impagável seriado com Lucille Ball e Desi Arnaz, que me divertia muito na infância, e do qual tenho alguns episódios em DVD, e que confesso ainda me divertem muito! --, em que Lucy quer provar a Rick Ricardo, seu marido, que pode ganhar dinheiro fazendo comerciais de TV ao vivo! De um elixir...
No programa de TV que ele, Rick, apresenta! Ele, claro, é contra, mas ela insiste, e vai acompanhada de sua melhor amiga. Bem, não preciso dizer que é hilário o desfecho: o tal elixir tem uma dosagem de álcool, e como ela tem que entrar ao vivo muitas vezes, ela acaba se embebedando, e fim da carreira de moça de comerciais de Lucy, e de seu dinheirinho próprio!!
Tirando todos os excessos, os exageros cômicos, os maneirismos de época, podemos trazer a tragicomédia de Lucy para nossos dias: muitas mulheres se dão mal -- ou porque não conseguem ainda se libertar da imagem de mulher e mãe num casamento, ou porque quando se libertam o mundo lhe é hostil, como se dissesse: "Não era isso que você queria, liberdade? Tome, numa bandeja de prata, meu bem!"
Apesar de todas as mudanças, que ocorreram muito rapidamente se pensarmos dos anos 1950 para cá (é pouquíssimo tempo em relação à história da humanidade), e me sinto muito à vontade no mundo, muito mesmo, ainda o mundo é hostil com a mulher em algumas situações e em alguns lugares. Seja porque somos mais fracas e delicadas fisicamente, seja porque ainda sejam frescas e recentes nossas aquisições, portanto, muitas vezes sejam cumpridas apenas da porta para fora, ou apenas socialmente... Mas os ganhos são enormes, as liberdades são infinitas e inúmeras, apesar do preço. Temos muito o que comemorar.

Lucille Bal em um episódio de I love Lucy, "Lucy faz um comercial".


Mas apesar de tudo também há uma Sandra que é lânguida, como todas as mulheres, que frequenta a Jogê, e às vezes usa os emolumentos das edições, revisões, preparações, coisas que o valham, para estar bonita para si, para si(!) e se tornar aquela outra sandra, que é um pouco Valentina. Que não lava uma peça, que se lixa para comida na mesa, que dá uma banana para uma casa arrumada! Essa mulher é um replicante, e se destaca de nós, mesmo depois do cansaço do dia de trabalho exaustivo, e como uma leve nuvem desenhada de nossa silhueta, é outra, leve, em forma de desejo. Esta Valentina que que surge como fênix, apesar da mãe, da dona de casa, da profissional que teve uma jornada incessante, faz parte deste nosso ser ambíguo, que consegue ser vários em um.
No mínimo, somos duas, para podermos ser tudo isso que somos. E quase ninguém repara nisso, tão natural consideram que isso é: fazer 30 coisas ao mesmo tempo. E dar conta!
Dizer parabéns? Para quê? Nós mulheres sabemos a delícia de sermos o que somos... Esta mulher mezzo "I love Lucy", mezzo Valentina...

Valentina, de Crepax, em close

Um comentário:

  1. ....Somos sim.....mulheres guerreiras, Sensíveis,Extremamente capazes,Bonitas.....e mandonas.......rsrsrsr.Bjs..

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