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No blogue escrevo meus próprios textos (contos, crônicas, poemas, prosa poética) e também sobre os mais variados assuntos: literatura, cinema, viagens, gastronomia, amenidades, humanidades, música. Tudo que me toca. E que possa tocar os leitores.

sexta-feira, 9 de março de 2012

Não importa onde eu vá

"O meu ministério adverte: acesse o youtube, Vivaldi será boa companhia neste post: http://www.youtube.com/watch?v=eH4oGJcCzdM"

As doces asas da juventude me levaram longe. Fui uma adolescente sonhadora, ágil, sorridente, rapidíssima para executar coisas, vida fluindo e pulsando, amigos, livros, discos, teatro, cinema, um futuro que doía na ponta do osso esterno. Não sabia por quê.
Eu corria, fazia mil coisas, estudava mais do que podia, vivia mais do que podia. Adorava o românticos da literatura. Minha ficha na biblioteca se preenchia em semanas. Elas eram grampeadas umas às outras, cheias de títulos... Achava que morreria cedíssimo como Castro Alves. E deixaria poemas a ser publicados. Olhava o céu à noite, e pensava que seria uma cientista da medicina que moraria em Londres. (Ué? Eu não ia morrer cedíssmo? -- A ambiguidade da juventude e do ser...)
Algo gritava dentro de mim, e minha alma corria mais veloz, ia na frente, adiante de meu corpo. Queria mais do que eu podia lhe dar... Então, havia uma cisão. E havia uma dor. Quando a alma arrasta seu corpo e quer que você vá mais rápido do que você consegue; e dói. Na mente. No coração. E naquele ponto do osso esterno que eu mencionei. Parece que ali é onde a alma se prende no corpo, e ali é o ponto.
Quando doía, eu não me importava, eu tinha 16 anos e um mundo diante de mim. Os livros todos para ler. As músicas todas para descobrir. O teatro a assistir e o cinema... O mundo. Aos 30 anos, doía, mas havia uma filha que precisava das necessidades básicas de uma mãe, e eu tentei me manter de pé e viva. E mandei minha dor passear um pouco com minha alma, para acalmá-la um pouco. Talvez um pouco dos ares de Campos de Jordão lhe fizessem bem...
Aos 40, a vida era toda uma dor estranha, mas eu pensei que eu poderia ir morar em Londres enfim, aquele velho projeto dos 16 anos... Enfim estudar a literatura inglesa in loco. Aquilo que eu não pudera fazer antes por inúmeras questões. Algo palpável, literário, para aquietar a minha dor... Mas pulei este plano. Preferi acompanhar a terceira idade de meus pais, a faculdade de minha filha, investir mais na minha carreira, e me aquietei.
Hoje, enquanto escrevo este texto, a dor no esterno cutuca a alma que quer cruzar o Atlântico, quer voar, quer inúmeras coisas... O esterno é meu termômetro. Era já quando eu tinha 16 anos e era uma adolescente já madura que sabia já algumas coisas da vida. Ele doía, mas eu tinha aquele horizonte azul límpido das doces asas da juventude que nos confortam na tenra idade... Parecia que havia saída, eu me safaria.
Mas agora, sabendo tudo que sei, tendo visto tudo que vi, encastelada, agora, eu sei que não importa onde eu vá, não importa o que eu faça, essa dor estará sempre comigo.
Há coisas que nascem conosco e nos acompanham. Como essa minha dor no esterno, e essa minha alma que me escapa, que tenta ser mais, muito mais do que consigo.

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