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No blogue escrevo meus próprios textos (contos, crônicas, poemas, prosa poética) e também sobre os mais variados assuntos: literatura, cinema, viagens, gastronomia, amenidades, humanidades, música. Tudo que me toca. E que possa tocar os leitores.

terça-feira, 16 de março de 2010

Retrô

Ontem tive uma experiência muito além do meu cotidiano. Eu, que queria surpresas, me vi surpreendida pelo que há de melhor em mim. Algo aqueceu uma brasa adormecida, calada e resignada. Nada como uma centelha tomando formas de labaredas, ganhando espaço e descortinando nossa rotina.
Eu que não esperava nada de novo no front, agora piso o chão com pensamentos leves, uma vontade de celebração, de amor humano, esse amor por tudo e por todos que se perdeu em algum lugar do caminho.
Num transe imperceptível, fui ao encontro de uma menina que estava sobre uma duna dourada pelo sol. O abraço infinito e carregado de um tempo que não se conta me levou ao princípio de tudo. Nesta imagem, eu tinha 18 anos, e um mundo pela frente, uma vida para sonhar. A leveza foi tomando conta de mim, de meus pensamentos.
Como num filme, esse meu transe me levou a outro cenário. Um sítio, um caminho entre árvores, chão batido de terra, um portão verde. Um homem me olhou com aqueles olhos que só eu sei. Eu disse 'sim, você está em mim'. E eu estava lá, de pé, 18 anos e toda pureza e inocência do mundo, toda tolerância e paciência. Minha alma de 47 pôde tocar a leveza da juventude. 
Ali naquele portão eu recebi meus pais, sorrindo. Meus irmãos, abraçando-os com a ternura dos meus sentimentos. Então chegaram meus amigos de todos os tempos. Recebi-os um a um. Uma alegria de passado, presente e futuro dourava esse cenário, que era de confraternidade. Eles foram entrando de novo em minha vida -- os que ainda estão comigo, os que já se foram, aqueles que um dia magoei, aqueles que um dia me magoaram. Estavam todos ali, sorrindo e celebrando.
Havia alguém onipresente nisso tudo: minha filha. Sempre. Tudo. Todas as palavras que abarquem o sentimento mais profundo e delicado. Ela está sempre comigo, onde eu for e estiver.
Depois de todos terem entrado, eu fechei aquele portão verde-esmeralda. Como se ali fosse o Taj Mahal, e ele, uma pedra preciosa a se incrustar naquela locação. Embelezando-a, ornando-a, brilhando para tornar ainda mais precioso aquele momento.
Encerrada nesse átimo no tempo, pude ser feliz por alguns minutos, uma felicidade absoluta e verdadeira, todo um mundo de verdades e alegrias. Encerrada nesse lugar confortável pude revelar o que há de bom em mim.

***

Hoje acordei retrô, ainda pulverizada por esse encantamento. A epifania do que aconteceu me leva a repensar situações e a própria vida. Acordei pensando no passado, os meus 18 anos, aquela força de quem espera sorver tudo, todos. O sonho de uma geração. 
Enquanto escrevo este texto, sincronicamente rola uma Elis de "Casa no campo". Não pude deixar de pensar como esta canção fez parte de minha adolescência.
Eu dedico este texto a minha filha, a meus pais, irmãos, cunhados, sobrinha, amores e ex-amores, amigos, amigas, e a todas as pessoas que deixaram e que ainda deixam uma marca indelével no meu caminho.

Casa no campo
Eu quero uma casa no campo
Onde eu possa compor muitos rocks rurais
E tenha somente a certeza
Dos amigos do peito e nada mais
Eu quero uma casa no campo
Onde eu possa ficar no tamanho da paz
E tenha somente a certeza
Dos limites do corpo e nada mais
Eu quero carneiros e cabras pastando solenes
No meu jardim
Eu quero o silêncio das línguas cansadas
Eu quero a esperança de óculos
Meu filho de cuca legal
Eu quero plantar e colher com a mão
A pimenta e o sal
Eu quero uma casa no campo
Do tamanho ideal, pau-a-pique e sapé
Onde eu possa plantar meus amigos
Meus discos e livros
E nada mais.

(Zé Rodrix e Tavito)

4 comentários:

  1. 18 ou 47, o mundo está todo aí, à sua frente, minha irmã. Sempre que encontrar o "portão verde", pode ter certeza que entrarei para compartilhar seus sentimentos.

    Grande beijo, do Beto.

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  2. Sou muito feliz por fazer parte deste seu transe, mesmo que tenha sido em momentos bons e outros nem tantos. Torço muito pela sua felicidade porque quem conhece Sandra Brazil sabe que ela merece, antes de tudo, ser feliz. Adorei seu texto. Beijão

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  3. "As palavras deveriam ser medidas por peso, e não por quantidade" - Provérbio Idishe

    Quatro parágrafos e um pequeno complemento... lindo de ver, doce de ler... San, obrigada!
    Meu beijo e um terno abraço amigo seguem daqui, e através de trocentos bytes hão de te alcançar, djá, djá!

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  4. E tanta coisa boa que ainda será extraída da vida! Continue linda e amorosa! Bjocas!

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