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No blogue escrevo meus próprios textos (contos, crônicas, poemas, prosa poética) e também sobre os mais variados assuntos: literatura, cinema, viagens, gastronomia, amenidades, humanidades, música. Tudo que me toca. E que possa tocar os leitores.

sábado, 20 de agosto de 2011

Este sábado inglês

Não é possível que neste sábado deliciosamente inglês, em que terei a oportunidade depois de tanto tempo de abrir um ou dois textos meus num sarau entre amigos, que não eu consiga pagar meu cartão de crédito!
Eu, boa pagadora que sou, que aprendi com meu pai e com minha mãe a pagar em dia minhas contas, jamais dever a ninguém e nunca me apropriar daquilo que não é meu...
Não é possível que neste sábado em que me sinto tão bem por dentro, aquele ânimo renovado pelo dia chuvoso e cinza lá fora, eu não consiga pagar pelo Bankfone uma mera fatura de cartão de crédito...
Não quero abater meu ânimo jovial de sagitariana poliana. Quero me enganar que na Inglaterra as coisas funcionam, ou funcionaram um dia, e que me sinto numa terra do tamborim quando pago tão caro pelo serviço de um banco que se diz o maior conglomerado da América Latina, e sequer conseque manter três ligações minhas apenas para eu pagar por telefone um cartão, já que, explico, também não consigo pagar pela internet, por problemas técnicos do site...
Sim, o banco em questão é o mesmo do texto Logomarca, que postei também aqui no blogue há alguns dias...
Tudo é sincrônico, tudo é decadente, tudo me lembra Invasões bárbaras, o filme. As corporações não têm rosto, não tem RG, não têm identidade. Não temos na verdade a quem reclamar, por mais ombusman que tenhamos. Temos alguns pobres manés contratados para dar a cara a bater, fazendo as vezes de muros medievais. Você não tem ideia do que há lá dentro, de quem é o dono daquilo tudo. Você só sabe que é uma "entidade" trilhardária que lhe oferece o pior serviço, mas cobra caro por ele.
Bem, depois de três tentativas e linha interrompida, desisto. Vou pagar com juros, não vou ligar para o ombusdman, não vou reclamar, cansei.
Quero paz.
Vou escolher, nesse delicioso dia inglês, uma crônica, um poema em prosa e um poema para ler no sarau entre amigos. Vou ver: se estiver muito longo, houver muitas pessoas para ler, escolho apenas um dos três.
Hoje quero ler apenas coisas boas, nada de pessimismo nem de dor nem de tristeza nem de luto nem de amargura. Nada baudelairiano.
Nesse dia que me lembra Charles Dickens (Ah! Boa dica e lembrança para iniciar a leitura do livro do próprio que ganhei durante a viagem que fiz a Londres há três anos. Pouco dinheiro, economia, mas as livrarias lá são generosas com os desendinheirados como nós. Os livros são muito baratos e leves para carregar de volta na mala). Aproveito e pego o livro que está na gaveta e ponho na minha cabeceira. Infelizmente vejo que está sem dedicatória. Fosse há 40 anos, jamais alguém presentearia um livro sem dedicatória. Detesto esses tempos modernos nesse aspecto.
Bem, a vidraça está toda respingada da chuva. Gosto disso. Simbolicamente, é como se lavasse não só vidro da janela, mas todas as coisas que não nos fazem bem. Os respingos chamam minha atenção, que acaba indo mais longe. Lá no horizonte onde consigo chegar com o olhar, o céu está dividido em duas porções à inglesa: embaixo um cinza claro transparente, em cima uma massa compacta chumbo. Parece que paira sobre a cidade um pudim gigantesco na cor cinza-escuro.
Isso me lembra, claro, os romances ingleses. Repetindo meu comentário de ontem, os romances ingleses lembram minhas leituras de adolescente: Charles Dickens e tantos outros autores. Imagino as mocinhas segurando a ponta do longo vestido de época, ingênuas e apaixonadas, e correndo pelos campos, pelas charnecas. Aqueles moços de casacos até o joelho e uma gravata meio ridícula para nós, formais até o topo, vinham tomar chá com as donzelas, e uma senhora fazia tricô enquanto eles tentavam burlar a vigilância vitoriana... Eu devorava o livro em três dias, e voltava à biblioteca para pegar outro. Mas um dia, encontrei Cem anos de solidão, de Grabriel García Marquez, aquele realismo fantático, que eu não sabia o que era aos 14 anos, me desvirtuou do caminho das doces heroínas românticas. Quando vi, estava lendo Zero, Inácio Loyola Brandão, que tinha sido proibido no Brasil e lançado na Alemanha. Daí em diante, pra se ter uma ideia, eu falsifiquei minha carteirinha de escola e fui assistir com uma amiga de escola O ovo da serpente, do Bergman, e daí foi um pulo para Império dos sentidos, o filme japonês que até hoje é cultuado (e que diante de tudo que vemos hoje e dos asquerosos reality shows, se tornou inocente).
Bem, tudo isso não era premeditado, eu nem sabia direito para onde estava indo, ninguém em casa incentivava essas minhas maluquices de adolescente. Acho que era uma coisa da minha geração mesmo; nós tínhamos sede de conhecer. E lá íamos nós. Era isso.
Voltando ao dia inglês deste sábado, se esfriar mais, vou adorar, pois o cinza escuro vai se sobrepor a este cinza tranparente, e o dia londrino ficará perfeito.
Bom, preciso urgentemente fazer minha sessão semanal feminina de vanitas vanitatis. Também preciso comprar uma camiseta. Vou sair correndo porque o dia é curto. Afinal hoje é sábado. E um sábado não é um dia como outro qualquer para uma sagitariana que acorda num dia inglês como esse e retoma sua leitura de Charles Dickens...

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