Quem sou eu

Minha foto
No blogue escrevo meus próprios textos (contos, crônicas, poemas, prosa poética) e também sobre os mais variados assuntos: literatura, cinema, viagens, gastronomia, amenidades, humanidades, música. Tudo que me toca. E que possa tocar os leitores.

sábado, 11 de fevereiro de 2012

Matt e Amy Winehouse em minha vida

O ministério adverte:
acesse o youtube em http://www.youtube.com/watch?v=GfC6CCtZjxk&feature=related
seus ouvidos vão agradecer...

Há certo tempo, Matthew, que foi namorado de minha filha por alguns anos, esteve hospedado em minha casa, cerca de dois meses.
Matt é daquelas pessoas gostosas e suaves. Você não ouve caminhando pela casa, não vê quando faz a refeição, ele lava a louça e põe no escorredor, se enturma na família latina que tenho, vai tomar cerveja quando você chama, trabalha em silêncio fazendo suas animações no quarto. Se você chama para tomar café, ele surge dizendo, "Ô", "Eh", "Sorry", Thanks", "O-bri-ga-do"... Caso contrário, se alimenta eternamente de corn flakes com leite e comidas veg em pequenas quantidades...
Ele também era engraçado e meio estabanado, então, era muito cômico ver Isadora cuidando por onde ele passava distraído para que ele não quebrasse minhas louças de família, minhas xícaras casca de ovo, alguma louça especial para mim quando dávamos jantares e eu descia coisas da cristaleira... Ela ia segurando peças por onde ele passava... Funny! Por esse motivo, ele fez um desenho de uma cena bem-humorada: eu e Isadora na janela conversando distraidamente sobre algo, de costas para ele; ele em pé, ao lado da mesa de jantar, esbarrando em um conjunto de chá e o bule está no caminho para o chão, e ele tenta desesperadamente pegá-lo... É muito criativo e tem um traço muito moderno, que descreve parte de minha sala, minha estante e minha sala de jantar. No alto, ele escreveu: "Obrigado"... Foi um presente que ele me deu quando voltou à Inglaterra... Guardo com carinho esse ímã de geladeira.

A pedidos, o desenho de Matthew Moore, um presente de despedida que ele me deu há alguns anos quando partiu para a Inglaterra, depois de ter ficado hospedado em minha casa por 2 meses. Me lembro de ter chorado ao me despedir, o que para um inglês é um mico-leão-dourado...

Matt esteve na minha vida em um momento especial. Especial de várias maneiras -- boas e ruins de certa forma. Mas a sua chegada foi muito bem-vinda, e sua presença delicada e suave era sempre 'a presença' e seu silêncio inglês discreto e particular era na maior parte das vezes algo que me fazia ter uma ligação muito forte com ele. Também eu muitas vezes gosto de me manter discreta em assuntos que não são meus. (Apesar de não ser inglesa...)
Naquele momento eu vivia uma revolução na minha vida, estava apaixonada, a vida corria pelas artérias como se fosse possível fazer 200 coisas ao mesmo tempo: trabalhar, viajar, planejar, namorar, cuidar da casa, da roupa, do filho, do genro, dos pais, do futuro, de tudo, e jamais estar cansada ou sem energia. A vida era uma seiva elaborada que corria pelo lenho e trazia uma vida nova, uma casca nova, olhos novos, tudo novo.
Matt participou dessa nova fase, discreto, como sempre. Durante as viagens constantes que eu fazia, eu cuidava da casa a distância: "filha, vocês comeram, o Matt está só comendo corn flakes... Faça compras para ele comer direito! Veja se ele se sente à vontade para lavar as roupas dele etc." Havia um cuidado meu a distância com aquele que cuidava de minha privacidade a distância também...
Enquanto eu ia vivendo o apaixonamento, o alumbramento, o novo, as coisas boas do sentimento que chega desavisado nessa fase madura da vida, como diz o poema de Drummond (o amor no tempo da madureza), quando podemos desfrutar, sem culpas, sem medos, sem não me toques, sem portas pela metade, sem meios mergulhos..., Matt fazia minha filha feliz. Eles estavam vivendo, ao contrário de mim, a maturidade de seu amor... Eu me atirava naquele abismo sem volta do paraíso do novo sentimento enquanto eles navegavam nos mares calmos do amor conhecido e esquadrinhado de uma longa relação.
Pois nessa nossa convivência diária, Matt me apresentou algumas coisas das quais não me esqueço, apesar de hoje ele e minha filha não serem mais um casal. Uma delas foi Amy Winehouse.
Me lembro quando ele pôs pela primeira vez o Cd para eu ouvir, fiquei impressionada com as canções: era Back to Black. Isso faz uns 5 anos, e Amy não havia ainda descido tão fundo na decadência das drogas e da deficiência de seu corpo magro e cheio de marcas, apesar de sua pouca idade.
Não deixei mais de ouvir e de buscar novas canções. Sempre gostando cada vez mais do que ouvia.
Hoje, ao postar no facebook Love is a losing game, me lembrei de Matt e de sua leve presença em minha vida, de sua discrição a distância e de como sinto sua falta. Quando enviei a ele meu minilivro em dezembro, recebi suas doces palavras de agradecimento em português.
Saudade dessa fase da minha vida. Saudade de Matt, de seu eterno corn flakes com leite e de sua comida veg.
Tem coisas que se registram não na nossa memória, mas no coração. Matt é uma delas. Matt e as coisas boas que ele me apresentou e me ensinou. Algumas delas são a bondade, a delicadeza, a sensibilidade extrema, a aceitação do outro, a leveza, mesmo nos momentos mais difíceis, quando, como um Atlas silencioso, sentimos e carregamos o peso do mundo em nossos ombros...

6 comentários:

  1. Gostei muito de "...como um Atlas silencioso, sentimos e carregamos o peso do mundo em nossos ombros", pois me fez pensar que quando se tem tanto peso pra carregar, o silêncio, de fato, é necessário, porque poupa energia e funciona como combustível! Me fez pensar no outro lado do silêncio... Bjo
    Alice

    ResponderExcluir
  2. Alice, que bom que você veio me visitar! Beijo!

    ResponderExcluir
  3. Sandrinha, esse ano estou me descobrindo de algumas formas diferentes.primeiro o fato de finalmente me render ao face.Também agora ao ver sua postagem,muito bem colocada. Foi um prazer essa leitura. leve. solta. tranquila. esse foi um momento calmo. um silêncio de muitas palavras.adorei.bjs...Helena.

    ResponderExcluir
  4. Helena, que bom você estar aqui, afinal, foi junto com você que, na adolescência, naveguei muitas coisas: a música -- você me apresentou a Ópera do Malandro , do Chico --, e a literatura -- Alberto Caieiro, que li inteiro, aos 14 anos, na sua casa em Ribeirão. Bom ter essa conexão renovada anos depois... Beijos.

    ResponderExcluir