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No blogue escrevo meus próprios textos (contos, crônicas, poemas, prosa poética) e também sobre os mais variados assuntos: literatura, cinema, viagens, gastronomia, amenidades, humanidades, música. Tudo que me toca. E que possa tocar os leitores.

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Dia de falar de amizade, trabalho e de meu minilivro. Hoje é dia de falar de Raquel Matsushita

Conheço Raquel Matsu -- no fundo, ela não gosta que eu a chame assim, mas quando digo isso ela fala: "ah, eu não ligo!" -- desde que Isadora tinha 5 anos. Ela já tem 24.
Raquel Matsushita fazia parte de uma turma para a qual eu, recém-separada, acabara de entrar, apresentada por Renata, que eu conhecera nos bancos da faculdade de Letras e de quem fui muito amiga durante anos, inclusive da família, de quem tenho muita saudade até hoje. Eles foram meu esteio durante muito tempo depois da minha separação.
Eu não tinha turma nenhuma nessa época, porque os amigos de meu ex-marido não queriam conversa comigo, já que fora eu quem decidira pela separação, portanto, tive que me apegar aos amigos mais jovens, universitários, tomar cervejas em botecos, participar de festas do 'brega', ir a bairros escusos em festas 'estranhas e gente esquisita', para poder voltar à vida naquela fase elo perdido em que me via. A turma era ótima. Meninos e meninas inteligentes, politizados, engajados, cinéfilos, gostavam de arte, música. Adorei e fiquei muito tempo ali. O elo perdido acabou se tornando um 'estar'.
Eu sei que todos adoravam Isadora, minha filha. Uma menina doce, quietinha, ia às festas e quando batia o sono não ficava manhosa nem chata, apenas desaparecia. Quando víamos, estava dormindo deitada atrás de um sofá, ou no colo de alguém no meio da festa, todos dançando, ela ali, como um anjo. Eu eu falava: "Vamos embora, filha". Ela não queria. Acho que gostava de dormir no meio daquela muvuca em que a mãe a levava. Acho que ela pensava: "Ao menos estou com minha mãe..."
Eu tinha um apelido na turma que era Chiquérrima, que foi Daniela quem me deu, e todos adotaram (de chiquérrima, eu não tinha nada naquele tempo -- nem agora. Duranguésima naquela fase inicial de separação, estava difícil manter até a escola da Isadora, imagine me manter chique!...).
Bem, sei que por razões que não revelarei aqui, todo mundo gostava da Chiquérrima, convidava pras festas e petit comitês, mas Raquel olhava a Chiquérrima de esguelha, e eu percebia claramente isso. Ficava na minha, que sei que é a melhor estratégia quando não gostam da gente ou têm alguma desconfiança de nós...
Mas o tempo passou, a vida foi tomando outros rumos, a turma foi tomando sua estrada. E um dia, cerca de uns três anos depois, recebi um telefonema: "Oi, tudo bom... É a Raquel!" Fiquei surpresa... "Foi a Renata quem me deu seu telefone." Eu não estava entendendo nada, afinal, ela não ia muito com a minha cara na época da turma, apesar de eu sempre ter simpatizado com ela e ter tido vontade de estreitar e fazer amizade. Ela parecia inteligente e cheia de vida, e gosto de pessoas assim. Além disso, bem mais jovem que eu, ela trabalhava já com design gráfico e livros, e isso a tornava bem interessante aos meus olhos, mas ela nunca me deixara aproximar.
Bom, sei que fiquei na moita esperando o que ela ia dizer naquele telefonema-surpresa. Aí ela, que é muito objetiva e chocantemente direta quando quer dizer alguma coisa, me disse assim: "Eu não gostava de você por isso e isso e isso... Mas eu quero ser sua amiga agora." Fui achando bonitinho e engraçado, porque eu pensei: "será que vamos conseguir depois de ela ter me esnobado tanto tempo..."
Sei que, leitores, não duvidem de um taurino: quando ele quer uma coisa, ele consegue essa coisa, custe o que custar. Marcamos um cinema, eu furei. Pensei, ela vai desistir de mim, e isso me entristeceu. Aí liguei pra ela e me desculpei. Ela desculpou e marcou um café. Fui e consegui chegar muito pouco atrasada (ela é muito pontual!).
A partir desse dia, nunca mais nos desgrudamos. Eu vi seu namoro desenvolver, crescer, a vi se casar, vi seus filhos nascerem, crescerem, seu estúdio iniciar, decolar, vi seu trabalho ser premiado, reconhecido, elogiado, aplaudido. Vi ela amadurecer, virar mulher. Ela viu toda minha separação recente, minhas dificuldades financeiras iniciais, minha falta de casa no começo, a compra da casa, a melhora significativa financeira depois de tempos, a chegada dos meus amores, e a partida deles também (pois que somos diferesntes, ela taurina, tem relações estáveis, fincadas no chão. Eu, sagitariana arisca, gosto de estabilidade -- por 4 anos, no máximo.), viu Isadora crescer, se tornar mulher.
E há o plus: por vezes, trabalhamos juntas. Não é sempre, mas há projetos em que acabou dando certo trabalharmos. Ela faz o design e eu, edito o texto, sejam projetos pessoais nossos -- uma agenda, ou o livro de Selma Perez, por exemplo, sejam livros de alguma editora, como O elefante infante, por exemplo, da editora Musa.
No trabalho também nos afinamos, porque somos detalhistas parecidas e criteriosas com resultado e estética. É uma delícia para mim, porque sou fã do trabalho dela.
Bem, eu poderia passar a tarde aqui falando dela, das suas qualidades, e dessa amizade, dos nossos trabalhos, desses anos todos, de coisas engraçadíssimas que já vivemos juntas, das coisas engraçadas que ela diz sem pensar e aí ela pisca como se fosse um mangá e pergunta: "Tuntis, é isso mesmo?..." E eu rio e digo: "Não... é outra palavra, não é esta! Mas eu entendi o que você quer dizer." E caímos na gargalhada.
Mas hoje especialmente tenho que falar de algo que selou nossa amizade, como aquelas cartas antigas seladas a cera quente com um carimbo belíssimo com iniciais de nome... Raquel me deu de presente a concepção e o design de um minilivro (meu primeiro) com quatro poemas meus que trazem no verso um calendário 2012, que enviei aos amigos, profissionais com quem trabalho, editores, autores e familiares e todos que acharem bonito e quiserem podem me pedir que posso enviar pelo correio.
Eu pedi a ela um calendário 2012 apenas. Mas ela pensou um pouco, piscou o olharzinho de mangá e falou animada: "Por que a gente não faz um livriiiinho seu com calendário junto..." Eu nem havia pensado nisso...
Ela pegou o guardanapo do café onde estávamos e fez rapidamente uma dobradura e me mostrou como ficaria o esboço. Pronto! Topei na hora.
Daí, foram alguns dias para minha ideia das estações que me levaram aos poemas, e ela foi atrás de parceria para as capas belíssimas em serigrafia, realizadas por Cesar, da Arteoficina. Uma ideia que tornou o livro ainda mais sofisticado e artístico. Um "brinco", como se diz.
Bem, foram dois meses de trabalho, ela desenhando o projeto gráfico, tratando com a gráfica, com a serigrafia, e enfim, o minilivro ficou pronto e o resultado não poderia ser outro para mim: belíssimo e delicado, como eu gostaria.
Um minilivro que vem pôr mais um degrau em nossa amizade de tantos anos, tantas coisas, tantos fatos; mas um degrau diferente, de mais estreitamento, se é que isso é possível numa amizade já tão estreita e comprometida como a nossa...
Raquel, torno público aqui meu obrigada pelo lindo presente que você me deu. Mais que o design, sei que o que está por trás do seu intento: seu desejo de que minhas palavras fluam pelo mundo. Eu sei...
(E que bom que elas toquem as pessoas acompanhadas do aspecto delicado e belo de seu desenho e de seu olhar sensível para o mundo...)
Nosso código: Tandandandandan



Foto de capa
4a estação
Concepção e design Raquel Matsushita (Entrelinha Design)
Serigrafia (Arteoficina)


Minilivro-calendário de mesa.



Páginas internas do minilivro.



Verso do minilivro: o calendário 2012.


Contracapa: uma estação-felicidade para todos nós em 2012.

Um comentário:

  1. Querida Tuntis, fiquei emocionada ao reviver, aos seus olhos, essa nossa trajetória que já tem história (e que histórias), uma amizade crescente, sincera, dolorosa (é assim, Tuntis? rsrsrs) e com muito amor. Amiga, que de tão amiga, virou irmã. Um presente que a vida nos dá e a gente agarra pra gente! Te adoro, minha querida amiga, do fundo do meu coração. Fiquei muito, muito mesmo, feliz por você compartilhar com o mundo seus belos poemas. A gente, o mundo merece! E sei que muitos ainda estão por vir!

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