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No blogue escrevo meus próprios textos (contos, crônicas, poemas, prosa poética) e também sobre os mais variados assuntos: literatura, cinema, viagens, gastronomia, amenidades, humanidades, música. Tudo que me toca. E que possa tocar os leitores.

domingo, 22 de julho de 2012

As lembranças, "Star Dust" e "Embraceable You"

Acabo de postar a canção "Embraceable You", interpretada por Ella Fitzgerald, e "Star Dust", interpretada por Frank Sinatra quando cantava na Harry James Orchestra nos anos 1930-1940, no Facebook.
"Embraceable You" é uma música de George Gershwin e com letra Ira Gershwin. Foi escrita em 1928 para uma opereta, mas acabou sendo lançada apenas em 1930 e incluída num musical da Broadway, Girl Crazy, estrelada por Ginger Rogers, em coreografia de Fred Astaire. Billie Holiday gravou a canção em 1944.
"Stardust", por sua vez, de Hoagy Carmichael, é considerada a música mais gravada da primeira metade do século XX, e, talvez, de todo o século XX. A versão mais conhecida e clássica, ou as versões são as interpretadas por Nat King Cole e Frank Sinatra. Mas confesso que a de que mais gosto é do iniciante Frank na big band Harry James Orchestra. Amo. Quem me apresentou esta pérola foi meu ex-namorado Claudio Cavalcanti, grande conhecedor de música e literatura, e amante de jazz. Foi dele também um presente do qual não me esqueço: um CD que ele gravou na Argentina de um amigo, numa de suas viagens para visitar o filho Leo -- a grande diva Sheila Jordan.
Ele foi para lá. Já não éramos mais namorados. Eu comentei en passant com ele sobre um show de Sheila que eu havia visto aqui e adorado, mas não estava conseguindo acesso ao CD. Ele foi para lá, viu o CD na casa de um amigo e pediu para gravar... Foi um superpresente. Pois é: "Stardust" com Frank e Harry James também me chegou num CD assim, presenteado por ele.
Postar no Facebook estas duas canções me levou longe. Fiquei pensando nas inúmeras músicas interpretadas pelas big bands, pelas divas do jazz, ou nas vozes masculinas (não consigo descolar de Frank Sinatra, The Voice), o rosto colado noite adentro, o romantismo, o terno com um lenço despontando no bolso do paletó, o vestido bem cortado e o salto sempre alto, a bolsa toillete ou pequenina para acompanhar o estilo "ir ao baile"...
O homem sempre tinha em mente o par certo para dançar com ele a noite toda, porque um dos maiores objetivos era dançar, com uma mulher que fosse boa dançarina, claro! E que fosse de seu estilo! E, se possível, bonita...
Claro que no fim do baile os objetivos eram os mesmos de hoje, que Sodoma e Gomorra sempre houve, pois assim sempre caminhou a humanidade. Mas, antes disso, dançar em grande estilo era o must, e os casais, casados, namorados ou não, estavam ali eretos, hirtos, adranalizados, prontos para aquelas baladas, entregues para aquela pista deslizante.
Minha mãe nunca gostou muito de dançar, então não me conta muitas coisas sobre isso. Mas meu pai sempre foi um pé de valsa. Ele me conta que no fim de semana, terno com lencinho no bolso, brilhantina dando um trato nos cabelos, sapatos com brilho para mostrar cuidado com a aparência, lá ia ele com um grupo de amigos.
Cada final de semana eles iam a um salão de baile diferente para mudar de ares. O bacana segundo ele era sempre ter um lenço à disposição caso a moça precisasse dele. Uma maquiagem que borrasse, ou caso num término de namoro ela chorasse, ou se ela fosse beber algo e caísse no vestido armado pelo saiote de arame, o rapaz sempre teria aquele lenço branco imaculado apenas para a moça tentar uma limpeza a seco ali às pressas... Isso mostrava elegância.
Também havia naquela época segundo ele a prática de se namorarem algumas moças ao mesmo tempo. Por isso a ida a freguesias diferentes (eu suponho)...
Meu pai não devia ser flor que se cheirasse (esta expressão antiga não sei de onde surgiu, preciso descobrir). Aquele rostinho angelical de lobo em pele de cordeiro que vejo nas fotos não me engana nem um pouco (sou desconfiada por natureza)... Devia ficar fazendo tipo bom mocinho em cada salão de baile, conseguindo uma namorada aqui e outra ali, e elas sonhando com aquele italianinho noites a fio. E ele, livre, leve e solto, como era dado aos homens daquela daquela, ia dançando "Embraceable You" com todas, todos os finais de semana, meses a fio, livremente, fiando suas contas coloridas de meninas e mocinhas que ia colecionando na sua história... "Embraceable You" e tantas músicas que devem ter composto sua trilha sonora ao longo da juventude.
Hoje ele tem 79 anos e foi diagnosticado portador de Alzheimer. Temos feito de tudo, minha mãe e toda família, para que a doença refreie e possamos ter o máximo dele conosco enquanto sua memória permite.
Então, eu vou juntando suas contas coloridas, vou perguntando sobre suas histórias de juventude e rindo muito de seus casos engraçados, tipo o presente inóspito que deu pra uma namorada de uma freguesia distante: um abajur enorme que levou de ônibus!! E outro que presenteou minha mãe logo no começo do namoro e ela jogou no lixo: flores de plástico! E vou tecendo suas memórias como posso, já que a dele está se esgarçando devagar.
Eis-me aqui contando suas coisas engraçadas e seus passos deslizantes ao som das big bands, brilhantina no cabelo, lencinho no bolso, alguma menina chorando e enxugando os olhos num branco imaculado... Contas coloridas que dançaram ao som de alguma bela canção.
"Embraceable You" e "Stardust" me fizeram lembrar disso.

Meu pai e eu em foto feita por Isadora Brazil em outubro de 2011.

4 comentários:

  1. Isso é o verdadeiro....isso é "Embraceable You",sinto um pouco dessa história....em algum momento nossas vidas cruzaram e porque não dizer,nossa história também! Amo de paixão meu Tio, sem dizer da minha Tia (que passou a ser minha mãe!) Amo vc.....amo vcs..isso é verdadeiro.Tive o previlégio e o prazer de poder estar com eles,recente, em minha casa, coisa que tô esperando por vc tbém, a hora e o momento que vc achar ser.....Bj grande....sua prima, Hê!

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  2. que lindo! Muita sorte do seu pai ter você, que vai tecendo as memórias dele por meio das suas. beijo grande.

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