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No blogue escrevo meus próprios textos (contos, crônicas, poemas, prosa poética) e também sobre os mais variados assuntos: literatura, cinema, viagens, gastronomia, amenidades, humanidades, música. Tudo que me toca. E que possa tocar os leitores.

domingo, 29 de julho de 2012

Um toque de Rio de Janeiro: uma dica de exposição no IMS na Gávea e duas dicas de gastronomia!

Quando a vida não está lá essas coisas, eu sempre tomo as rédeas e resolvo tudo com uma palavra: viagem! Afinal, o que pode um arqueiro fazer além disso?
A minha vida não está assim ruim, ruim, não não está... :-) Mas também não está um crème de la crème preparado por um grande chef francês... Então decidi que era hora de fazer uma viagenzinha mais "parada forte", manja? E lá fui eu. Maletinha retrô, as roupas mais descoladas que pude pegar no armário, tênis pras longas caminhadas, roupas pra dançar, talvez, pra jantar, sair para tomar drinks!, que o Rio merece todos os caminhos. Todos. Caminhos de sereia.
Eu adoro o Rio de Janeiro, então, achei que era o momento de pegar m eu arpão e zarpar e tocar de novo o Arpoador, meu velho conhecido. Lugar de sereia e de pescador...
Quem é meu leitor assíduo sabe que não sou assim uma formosura de convencionalismo, mas que também não sou assim totalmente outsider... Então, eu decidei fazer tudo diferente do que normalmente faço. Queria ir pro Rio de Janeiro, mas não para os mesmos lugares aos quais costumo ir! Não! E bingo! Tudo veio a calhar! Certinho como uma cama de gato bem-feitinha!
Desde a reserva de uma pousadinha maravilhosa em Ipanema, até os 3 dias de Rio de Janeiro, foi tudo "diferentão", como os próprios ali da terra falam.
A pousada fica bem perto da rua Nascimento e Silva, onde nasceu aquela bela canção de que vocês devem se lembrar: "Rua Nascimento e Silva 107/ Você ensinando pra Elizeth as canções de amor, amor demais/ Olha que tempo feliz/ Ai que saudade/ Ipanema era só felicidade (...)"...
Lembram? Portanto, fiz longas caminhadas ali, tentando imaginar a nossa belíssima Elizeth Cardoso sentadinha com sua linda tez morena chocolate em algum cantinho daquele apartamento da Nascimento e Silva, obediente aluna do mestre Tom... Imagine que tempo era esse, de bossa nova, musas, mulheres lindas e bronzeadas, homens que faziam poemas para essas mulheres, sol batendo na areia e no Dois Irmãos, um amor nascendo a cada segundo, nas esquinas, nas areias daquele mar da cidade de geografia abençoada. Sim, o Rio de Janeiro... Tudo lindo... Um tempo de saudade. Sim.
Também caminhei no calçadão. Ajoelhei metaforicamente para o Dois Irmãos no lusco-fusco daquele fim de tarde, e fiz uma oração silenciosa, pois Deus está ali, esculpindo a cada dia aquele morro que me lembra sempre como o Rio é abençoado... uma beleza divina. Fez calor todos os dias, céu azul... Fotografei apenas com meus olhos o mar verde batendo na areia branca de Ipanema, sorvi o ar de maresia, virei à direita e caminhei até o Leblon.
Depois, fiz o inverso, e quando vi estava diante do Arpoador, e algo quente me percorreu os sentidos: ali é lugar de segredos, sussurros, sereias, pescadores, arrebentação. Palavras de gente do mar, marujos, marinheiros, pesqueiros, embarcações. Todas essas coisas que me metem medo e propõem segredos e mistérios e me puxam como se fossem uma rede da qual não consigo me livrar... E que me seduzem a ponto de me fazer me perder... me perder... Toquei de leve o Arpoador, porque ali, pra mim, é território sagrado, sempre. Amém.


O Arpoador: lugar de segredos, sussurros, sereias, pescadores, arrebentação...

Mais tarde, fui conhecer o Zazá Bistrô, ali em Ipanema mesmo, um chuchu. Eu já havia tomado duas caipirinhas na pousada, e estava... hum... não bêbada, não! Mas leve... solta. Dando continuidade àquele toque do homem que cura e me destinou sua reza sagrada, e da qual sou extremamente grata. Então, leve, parti para o Zazá, e lá pedi algo inusitado (já que não sou de bebidas...): "Zazá Fresco": Absolut vanilia e água de coco, com raspas de coco fresco e folha de hortelã.
Leitores: indico! É de-li-ci-o-so! Meeeiiismo! Como dizem os cariocas!
Minha filha deixou seu drink de lado, que parecia saboroso, vermelho, e acabou tomando comigo o Zazá Fresco... Quando vi, estava mais que solta, estava uma Leila Diniz.
Fazia calor, eu vestia um pretinho básico bem descoladinho. Ele está largo para mim, e eu havia esquecido minhas sapatilhas que combinam com ele. Conclusão: tive de ir de All Star preto, com cadarços multicoloridos. Estava totalmente outsider. Para minha idade, sobretudo! :-(


O bistrô Zazá, em Ipanema.


Acordei no sábado. Uma ressaquinha na têmpora esquerda... Mas o sol continuava a clarear a minha viagem. Eba! Corri pro café da manhã. Foi então mister visitar outro solo sagrado: Santa Teresa! Um dos lugares de que mais gosto no Rio, foi lugar de muitas emoções na minha vida e no meu passado. Hoje restam as lembranças, e o presente, que é muito mais forte: Santa Teresa é belíssimo, seus casarões, fincados sobre morro e mato e florestas, só falta agora retomar o fluxo de bondinhos...
Depois da tragédia anunciada -- eu mesma tomei o bondinho tantas vezes, mas fiz a viagem sempre achando que morreria, ou por falta de freio, ou porque ele despencaria lá de cima dos arcos da Lapa por se desgovernar, isso era claro pra mim... muitas vezes rezei no trajeto pra Nossa senhora, pedindo pra não morrer porque Isadora ainda era muito jovem pra ficar órfã de mãe! --, que levou vidas, inclusive do simpático condutor que me levou algumas vezes a Santa Teresa e um dia me pediu: "Senhora, venha aqui de pé, bem pertinho de mim...", com aquele sorriso, sotaque e ginga sedutores que só o carioca.
Não resisti, fui e fiquei encantada com a graça, a ginga e a caioquice de Nelson Correia, que descrevi aqui no blogue em um post em homenagem a seus encantos. Hoje ele é o símbolo do bondinho que não mais circula nos trilhos das ladeiras do bairro. Quando voltarão? Ninguém sabe... Mas a imagem de Nelson Correia povoa as paredes e muros de Santa Teresa.
Santa Teresa é bucólico. Me lembra sempre os contos de Machados de Assis: mulheres nas janelas, janelas com cortinas esvoaçantes, ladeiras preguiçosas, o sol que toma conta do verde das encostas, balcões e varandas e alpendres, comidas em marmitas, gente que anda vagarosa num tempo de século XIX...

Bem, agora é hora de arte: zarpamos pra Gávea, Instituto Moreira Salles!! Estaciono na Marquês de São Vicente e vejo a pedra da Gávea, imponente, lá ao fundo. Parece um totem nos lembrando que não somos nada diante da beleza e da força da natureza.
Vou chegando na entrada do Moreira Salles, cuja sede é a casa onde morou a família, e vejo que a exposição é: Raphael e Emygdio: dois modernos no Engenho de Dentro... Não é possível!? Ainda está aqui! Eu trabalhei no livro-catálogo desta exposição há uns 3 meses... Entro na casa e logo na entrada vejo um exemplar do livro, pronto, lindo. Eu o havia visto só em prova, antes de ser impresso...
Entro no anexo e vejo a linha do tempo de Nise da Silveira, e depois as obras de Raphael e Emygdio, os dois artistas que passaram boa parte da vida no "manicômio" de Engenho de Dentro, onde Nise da Silveira revolucionou a instituição inserindo o setor de terapia ocupacional.
Ali surgiram obras magníficas, como destes dois grandes artistas, que ficaram ocultos sob o rótulos de "internos manicomiais'. É belíssimo no livro o texto de Rodrigo Naves, que apresenta a obra de Emygdio. Em um trecho ele menciona que Emygdio é um dos maiores artistas modernos, e só não foi assim considerado em vida, por ter ficado restrito à imagem e ao rótulo manicomial.
Em outro momento de seu texto, Naves cita Nise da Silveira: ela diz que em nenhuma das exposições de ambos os artistas ninguém jamais perguntou 'Onde estão estes artistas maravilhosos que estão sendo expostos?'.
Eu me emocionei muito ao ver na linha do tempo de Nise uma de suas falas: Raphael costumava desenhar no ar, fazia gestos de desenho no ar durante muito tempo antes de partir para o papel ou para a tela. Isso eu havia lido no livro já, mas a novidade é: ele fazia gestos no ar, mas quando as pessoas conhecidas se aproximavam,, ele fazia pequenos tracinhos na roupa das pessoas, como se estivesse desenhando nelas. Um gesto delicado, delicado como seu traço fino em seus desenhos e telas. Uma delicadeza de um artista que não fosse Nise e sua quipe jamais seria propagada para o mundo.


Obra de Emygdio, da Exposição "Modernos de Engenho de Dentro".


Obra de Raphael, da mesma exposição.

Tive que sair da sala, e ir chorar lá fora, tamanho foi o impacto dessa frase em mim. Os tracinhos de Raphael nas roupas das pessoas me pareceram algo infantil, ingênuo, delicado, puro, um ato de confiança de alguém que trazia consigo tanta dor... Minha filha me procurou, e foi me encontrar lá fora, emocionada ainda com essa imagem. Não fosse Nise da Silveira, essa mulher grandiosa, eu jamais saberia...
Partimos então para as obras de ambos e depois fomos à livraria comprar o livro-catálogo da Mostra "Dois Modernos de Engenho de Dentro", que virá a São Paulo também.
Entramos no café do IMS, e folhemaos nosso livro, belíssimo e vimos nos créditos meu nome. Pedimos café e docinhos. Um banzo só.... Um primor tudo o que o Moreira Salles faz. A música de fundo era do CD de Chet baker que adoro: Let's get lost. Nada mais a caráter para uma mostra de Engenho de Dentro!


Sede do Instituto Moreira Salles no Rio de Janeiro, na Gávea.


Pulamos dali direto para a pousada. Deixamos livros e compritchas e fomos pro calçadão. Fim de tarde é sempre lindo no Rio de Janeiro. O céu ecurecendo, o mar avançando, aquele chiado do sotaque dos cariocas nos meus ouvidos (que eu adoro, confesso!) e a vida estava uma delícia com aquela brisa de mar no rosto.

Bem, um banho, um breve descanso. Era a hora de conhecer o Restô! Vamos a ele!
O Restô tem um cardápio cheio das comidinhas deliciosas! Você tem a opção de pedir pratos pequenos que mais parecem meia porção, que eles denonimam "Comidinhas". Eu indico o nhoque de batata baroa, uma delícia, numa porção pequenina, que para os magrelas ou para os que comem pouco como eu é ótima! O vinho em taça é honesto e climatizado na medida certa, ótimo! Preço honesto também. Indico.

O Restô, em Ipanema.


Agora é hora de uma jovem senhora como eu descansar... Vou dormir com a sensação de que gostaria de ir dançar, mas minha filha está megacansada, percebo. Ela diz: "Mãe, eu nasci velha, não tenho sua energia!" Por ela, teríamos feito muito menos do que fizemos. Por mim, eu teria feito muito mais, mas respeitei o ritmo da minha pequena, que é muito menos acelerado que o meu, sempre foi, eu sei.
Dançar ficará para a próxima.

Acordamos, e temos de dar o check-out às 12h. Então, só dá pra pegar uma praia e calçadão. Pena...
Mas deus é brasileiro, e faz sol e céu azul, parece verão, e não inverno. E lá vamos nós em direção ao Leblon. Voltamos, pegamos mala e cuia e zarpamos pra casa, marginais, céu cinza, que é meu lugar.
Um dia, ainda nasço no Rio de Janeiro. E aí poderei todos os dias fazer aquela oração silenciosa ao ver o Dois Irmãos e me lembrar que Deus está ali, esculpindo diariamente essa peça divina da natureza.
Tudo isso, sempre, ao som de bossa nova.


Para quem quiser visitar:

Exposição: Raphael e Emygdio: dois modernos no Engenho de Dentro
Nise da Silveira: caminhos de uma psiquiatria rebelde
de 15 de julho a 7 de outubro de 2012
De terça a domingo, das 11h às 20h
Instituto Moreira Salles – Rio de Janeiro
Rua Marquês de São Vicente, 476, Gávea
Tel.: (21)3284-7400/(21)3206-2500


Restô Ipanema
Rua Joana Angélica, 184 Ipanema Rio de Janeiro
Tel 21 2287-0052 info@restoipanema.com.br

Zazá Bistrô
Rua Joana Angélica, 40 Ipanema Rio de Janeiro
(0xx)21 2247-9101 contato@zazabistro.com.br

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