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No blogue escrevo meus próprios textos (contos, crônicas, poemas, prosa poética) e também sobre os mais variados assuntos: literatura, cinema, viagens, gastronomia, amenidades, humanidades, música. Tudo que me toca. E que possa tocar os leitores.

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Texto encontrado numa garrafa 3

Eu estava zapeando no Facebbok. Como disse a meu amigo recém-adquirido Pereira, sou uma analfabeta digital: nem fuço no Face, seque vejo as fotos de minha filha, mal posto as minhas próprias, apesar de saber fazer isso e bem... Ele afirma que não. Mas eu, em nossas conversas diárias, que são deliciosas graças à sua rapidez de neurônios e ideias e palavras e insights, vou abrindo minhas fissuras, que são muitas. Vou derramando minha autoimagem equivocada mas com mancha de humor sarcástico, irônico, que eese é meu jeito de me projetar no mundo: tiro o véu, mas tem que ser um 'devoiler' irõnico, senão, não seria ru... Para fechar minhas fissuras abertas, deposito mensalmente o metal com que tento suprir minhas perdas que levaram a essas rachaduras.
O metal serve para semanalmente, num bla-bla-blá incessante, tentar preencher essas microfissuras com um cimento delicado e, assim, curar minhas feridas, minhas faltas, meus bloqueios, meus erros, minha rigidez que me cansa e extenua, minha timidez infinita, minha atrapalhação afetiva que não me deixa chegar àquele lugar onde todo atleta emocional deseja: o topo da vida.
Pereira parece ser alguém descolado, e eu sempre admirei esse jeito secretamente a distância (agora não mais secretamente... dado que expresso isso publicamente aqui no blogue), agora escancaro aqui neste blogue minha admiração: ele parece deslizar pela vida assim como desliza pelas ideias brilhantes que jorra em meu Face, as palavras surgidas como se fossem de uma máquina de fazer ideias com brilho de purpurina logo pela manhã, assim como levanta meu astral logo cedo com uma mensagem-resposta a ontem, com a delicadeza de quem parece levantar o astral de seus inúmeros amigos -- que ele tem, isso é claro para qualquer um. Também parece saber de tudo um pouco, ou muito, não sei direito ainda, mas já saquei isso logo de cara.
Pois na minha analfabetice digital, eu vi um post de minha amiga Sandra Regina, a poeta do livro Haicaos... E me pareceu, a mim, a esta mulher que escreve agora este post aqui neste blogue simples, pessoal, um texto encontrado numa garrafa, boiando no mar, pronto para satisfazer minhas sensações.
Eu, que já escrevi aqui em meu blogue dois textos intitulados "texto encontrado numa garrafa"... Agora presenteio vocês, leitores, com este belo texto de Marla de Queiroz, postado por Sandra:

SOBRE A RENÚNCIA

Renunciar a algo que amamos muito e que desejamos com toda a força do coração, é uma das decisões mais cruéis de se tomar que conheço. Porque a perda equivale a uma morte dupla: morrer para alguém e matar a pessoa na gente. É como se sobrasse por dentro apenas um casarão vazio com um jardim morto. E,
de repente, tudo tão subitamente anoitecido sem previsões de dia novo. É um caminhar lento e arrastado numa espera sombria de que as horas passem e o tempo leve essa febre alta sem medicação possível. É preciso que haja tanta paciência e firmeza por dentro para não entrar em desespero, que a sensação que se tem é de estar meio fora do ar, por causa do esforço. E até chorar fica difícil, teme-se que nunca mais o choro cesse.
Há muitas perdas quando se termina algo que não se queria ter terminado: muda-se a autoimagem, alegrias ficam suspensas, sonhos desaparecem por um tempo e nenhuma cor na paisagem. O cotidiano fica obscurecido por aquela lacuna aberta no meio do que era a parte mais interessante dos dias.
Com o tempo, você analisa que abrir mão de algo muito importante, só se faz quando se tem um motivo maior que esse algo: seja um propósito, uma crença, um valor íntimo, uma obstinação qualquer que te oriente para essa escolha que já se sabia tão dolorosa. É um sacrifico voluntário por algo mais pleno, mais grandioso em Beleza. E, nestas análises, você descobre outras perdas que são positivas: perde-se também a ansiedade, a insegurança e a ilusão. E você aprende a recomeçar agradecendo por vitórias tão pequenininhas... Como quando é noite e, antes de dormir, você se enche de gratidão:
“Deus, obrigada, porque é noite e eu tenho o sono... Que venha um sonho novo, então.”


(Marla de Queiroz)

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