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No blogue escrevo meus próprios textos (contos, crônicas, poemas, prosa poética) e também sobre os mais variados assuntos: literatura, cinema, viagens, gastronomia, amenidades, humanidades, música. Tudo que me toca. E que possa tocar os leitores.

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Esse amor impossível

Ele pediu a um mensageiro que enviasse um bilhete certeiro: "Me encontre hoje, no fim da tarde. Quero te conhecer melhor."
Como isso aconteceu há muito tempo, o homem à moda antiga elogiou no bilhete a mulher em questão, tentando garantir o encontro antecipadamente. Elogiou sua cor branca que lembrava a neve, as formas arredondadas, a luz que ela irradiava quando estava presente entre outros. Tentou convencê-la de que aquele encontro seria definitivo para ambos. "Venha", ele disse no bilhete, "quero ser um com você".
Ao receber o papelzinho delicadamente dobrado, a alma feminina achou "fofo" aquele recado sutil. Entendia que os homens sabem exatamente onde "pegar" uma mulher pelas palavras, para dobrá-las e colocá-las nas costas, e levá-las consigo para onde quiserem... eles têm esse poder de dizer e nos "enganar" (mesmo que saibamos que estamos sendo enganadas e digamos "sim!"...). Ela leu o bilhete como se sorve lentamente um bom vinho, devagar, com prazer, querendo que não acabe.
Ela já tinha ouvido falar bastante daquela figura extremamemte masculina, cheia de vida, mas da qual ela nunca se aproximara. Um prazer percorreu a espinha: ela havia sido sua escolhida... Ela, e somente ela. Aquele bilhete deixara isso claro.
Ela então escreveu rapidamente uma resposta. Pediu a seu mensageiro que fosse rápido ao destino. "Encontro você no horário combinado. Aguardei muito por esse seu chamado." pronto. Nesta última frase estava lançado o anzol feminino. Ele havia escrito diversos elogios e palavras e derretimentos em forma de languidez para tentar conquistá-la; para a mulher, é necessário apenas deixar clara sua intenção: o anzol prenderá a presa. Ela o fez com sucesso: "Aguardei muito por esse seu chamado..." Ah! Mandou superbem, menina! Eu não teria essa ideia... Já mandei vários anzóis, mas este realmente foi o melhor que já vi.
Tanto foi o melhor anzol-resposta que, ao receber o bilhete das mãos do mensageiro, ele tremeu ao imaginar qual poderia ser o desfecho.
A noite prometia.
Ele não conseguiu trabalhar direito aquele dia, e ela não conseguiu se preparar direito para o que faria à noite. Uma escavadeira corroía o estômago de ambos, impossível ficar sentado por mais de 5 minutos. O dia permanecera nublado e a noite seria escura naquela dia. Uma dúvida: será que ela viria; será que ele viria...
À distância, ele já se apaixonara por ela, vendo sua graça passar. Ela já ouvira falar muito dele, e também à distância, nutria algo platônico, que esperava um dia realizar. Bem, chegara o esperado dia. O grande dia de ambos.
A escavadeira fizera grandes estragos no estômago de ambos, como seria possível disfarçar isso no momento do encontro> O lábio dela tremia de ansiedade e a boca estava seca. O estômago dava umas voltas estranhas... Ele, como todo exemplar masculino, tinha as entranhas corroídas, como se ácido tivesse sido jogado ali, mas tentava manter-se aparentemente calmo. E de certa forma conseguia, usando sua racionalidade Y.
Faltavam trinta minutos para o encontro. Eles foram se encaminhando para o lugar combinado, que só ambos sabiam.
Foram chegando, e começaram a ver um ao outro ao longe, um sorriso foi se esboçando: "Ela é mais linda ainda de perto"; "Como eu não havia percebido melhor ele antes> Gato!"... Foram se aproximando, e o coração, aquele tambor interno, nosso termômetro da paixão e dos sentimentos, foi marcando cada vez mais rápido aquela frase "É ela", "É ele", que trazemos dentro de nós e sinaliza o objeto do desejo.
Quando estavam bem próximos um do outro, sorriram, ela nervosa, ele, triunfante em sua masculinidade. Ela estendeu as mãos, generosa, como qualquer mulher. Ele foi trazê-las para junto de si, mas uma força aterradora puxou-o para trás.
Ela gritou. Tentou correr em sua direção, mas não o alcançou. Cada vez mais rapidamente ele era alçado para trás e para trás, para longe dela. Ele ficou mudo, apenas olhando para ela e ainda com as mãos naquela gesto de trazê-la para perto de seu corpo.
Ela então parou de correr. De repente, tudo ficou escuro. E ele se tornou apenas um ponto de luz na escuridão.
Nesse dia, Sol e Lua descobriram a impossibilidade de seu amor.

(Sandra Brazil. Acho que depois de ver tantos ocasos aqui da janela, só poderia surgir uma história assim.)

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