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No blogue escrevo meus próprios textos (contos, crônicas, poemas, prosa poética) e também sobre os mais variados assuntos: literatura, cinema, viagens, gastronomia, amenidades, humanidades, música. Tudo que me toca. E que possa tocar os leitores.

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Quando o trabalho é prazer

Muita gente sabe que adoro a culinária japonesa, aquela arte milenar de decorar o prato com montinhos pequenos de vegetais cortados pequeníssimos, ervas raladas e aromáticas ao lado perfumando o prato, um peixe cortado de um modo diferente e grelhado de uma forma ou cru no meio disso tudo.
Meu ex-marido gostava muito do Suntory, e íamos às vezes lá quando sobrava um extra. Mas era algo raro, só em dias de festa ou comemoração.
Quando namorávamos, nosso namoro-relâmpago, logo que começamos ele me levou lá (para me impressionar, eu acho -- deve ter gastado grande parte de seu salário, tadinho... na época), e nunca mais se cansou de contar a história de que me assustei quando me ofereceram a toalha quentíssima para higienizar as mãos.
Bem, eu fui gostando cada vez mais da culinária japonesa. Infelizmente isso não ocorre com a chinesa.
Ainda casada, fizemos uma viagem ao Japão, e lá pude realmente conhecer de perto muitos pratos que não conheceria aqui. Na casa das pessoas que conheci, elas cozinhavam aqueles pratos típicos, que aprenderam com a família. Pasteizinhos recheados de alho, tempuras dos mais variados peixes e legumes e camarões. Tudo muito aromático e bonito, porções pequenas, tudo arranjado delicadamente nos pratos. As sopas então, aquele gosto forte de peixe seco em flocos, eu gosto. Os bentôs (uma espécie de "marmita, uma caixinha de madeira, com compartimentos, e alguns tipo de comida nela) que se compram no metrô ou na estação de trem, e pode-se se comer no vagão sem nenhum problema.
Lembro de um shopping em Tóquio, todo subeterrâneo, eram muitos os andares. Na área da gastronomia, cada andar era dedicado a um tipo de comida. Por exemplo, me lembro bem: um andar inteiro desse shopping era todo devotado a sobremesas. Mas, caros leitores, não eram meras sobremesas, meros doces. Imaginem os doces mais bonitos, mais bem ornados, decorados. Os chocolates mais deliciosos em forma de um laço, as tortinhas com as frutas mais delicadas em cascata. Uma parte era destinada aos doces típicos orientais, mas a maior parte da área era preenchida por confeitaria francesa. Eu havia estudado um ano antes em Paris, e tudo que havia visto lá nas vitrines daquelas patisseries maravilhosas, estava vendo agora ali, naquele andar bem abaixo da terra, que me causava certo medo por causa dos terremotos, os dishins que eles tanto mencionam, mas que é um lugar de sonho para quem gosta de açúcar.
No Japão provei diversos tipos de saquê. Mas claro que sei que não conheci a mínima parte do que a culinária japonesa pode oferecer. Mas saboreei tudo que pude, sorvendo cada detalhe. Tanto que, ao voltar do Japão, depois de um mês, eu tinha cerca de 5 quilos a mais na balança.
Ao longo dos anos, volta e meia vou a um restaurante japonês, mas é totalmente diferente do que experimentei por lá, claro...
Recentemente, nos últimos anos, não tenho frequentado restaurantes japoneses, por razões que a própria razão desconhece... mas penso que está no momento de voltar a exercer o doce prazer da comida japonesa.
Sincronicamente, eis que me surge às mãos um trabalho em um livro de culinária japonesa. São receitas do proprietário-chef de um restaurante descolado que, de tão estrelado, abriu algumas filiais ao redor do mundo, mas poucas, porque o olho do dono está em tudo nessa empreitada, inclusive nesse livro. As reservas são muito disputadas e nada menos do que Robert de Niro faz parte da lenda do império que se ergueu ao redor da alta culinária empreendida nesse restaurante.
Trabalhar em algo assim é prazer... Primeiro, concluí ao longo do trabalho que realmente sou quase vegetariana. Só me apetecem as saladas, os grelhados de legumes e de alguns peixes (só alguns, sobretudos os peixes de carne branca), os salteados, os assados que levam muitos legumes. Nada de frituras ou carne de porco ou carnes vermelhas. Estou vegetariana mesmo.
As receitas parecem deliciosas e, para quem gosta e está acostumado a cozinhar digamos "alta" culinária não será difícil seguir os passos descritos com simplicidade e praticidade pelo mestre. Para mim, que sou mais leiga em cozinha, talvez os peixes tenham que vir cortados para facilitar, por exemplo. Mas preparar a receita não seria um problema.
Mas o que mais me chamou a atenção foi o capítulo destinado aos coquetéis -- os drinks! Sim. Eu me senti numa banheira de espuma, e como se um garçom fosse me servindo cada um dos coquetéis descritos ali. Parecem tão originais, tão maravilhosos, tão cheios de propriedade e deliciosos que eu que não sou adepta de drinks fiquei com água na boca para provar cada um deles...
Não vou adiantar aqui quais são eles, pois o livro ainda está em produção, mas sem dúvida a editora deverá colocar alguns no site para o leitores mais apressados.... Assim que for lançado o livro, indicarei aqui no blogue para que vocês possam ser Tom Cruise por um dia e fazer seu Cock-tail. Adoro esta palavra em inglês...
As pessoas às vezes me perguntam se não me canso de trabalhar nessa área, a de livros. Como eu poderia?... Um dia estou entre drinques e coquetéis, disputando reservas em um restaurante japonês descolado. No outro estou em uma cidade do mundo, trabalhando em um guia de viagem. Um dia, fone nos ouvidos, sigo as legendas de um vídeo histórico sobre a construção de Brasília: minha missão era acertar as legendas escritas de acordo com a narração. Foi incrível! Aquela voz dos narradores dos anos 60 nos ouvidos, aquela linguagem que me lembrou a infância. Certa vez, me vi entre dois tomos de Os miseráveis, de Victor Hugo... O livro de Godard. Fico feliz de pensar que participei da publicação dos manuscritos de Ana Cristina Cesar. Em outro momento, posso estar trabalhando em um livro infantil, ou um livro didático qualquer. Depois, pode vir um crème de la crème: uma revista de arte e literatura, por exemplo (é raro, mas acontece). E nos píncaros, quando tudo dá certo, posso estar perdida num livro de fotos, de arquitetura, ou num livro de arte, num livro de aquarelas, num livro de literatura, ou ainda num guia de alguma exposição ou de uma mostra de cinema...
Posso me queixar do meu trabalho?
Quando se tem prazer e se ganha para isso, posso dizer que isso é tirar a sorte grande. Como diria Moreira da Silva: "Etelvina, acertei no milhar". E lembrar Moreira da Silva me fez lembrar a Lapa, que me fez lembrar o Rio... e suas praias.

Um comentário:

  1. Querida amiga, adorei o post, que viagem gostosa! E partilho da sua opinião: você tirou a sorte grande! Seu trabalho é memorável e eu também tenho a minha sorte de poder usufruir dele, por meio dos seus livros! Quando sair esse livro das receitas japonesas, conte pra gente, fiquei curiosíssima! beijo grande.

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