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No blogue escrevo meus próprios textos (contos, crônicas, poemas, prosa poética) e também sobre os mais variados assuntos: literatura, cinema, viagens, gastronomia, amenidades, humanidades, música. Tudo que me toca. E que possa tocar os leitores.

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Um outro olhar da Paulista

É plena segunda-feira, mas por ter trabalhado no fim de semana, meu dou o luxo de "me montar" e ir a um compromisso na avenida-corredor-financeiro do nosso país.
Mas, para nós, paulistanos, a Paulista tem vários significados além de artéria econômica: cinema, espaços culturais, cafés, restaurantes, tudo em meio àquelas caixas de concreto ornadas de vidros espelhados, que esquentam muito no calor e esfriam muito no inverno.
Num dia lindo de sol e céu azul como hoje, a Paulista é uma praia para nós, desprovidos de lugares abertos para caminhar, exceto pelos parques e alguns raros outros. (É por isso que escrevo tanto sobre o Rio de Janeiro, e gosto tanto dessa cidade.)
Pois me encaminhei a meu destino, em plena segunda-feira. Como me esperavam, não quis me atrasar. Fiz um caminho mais curto e saí mais cedo, sabia que o trânsito poderia estar caótico.
Pois que cheguei na hora, até um pouco adiantada, então resolvi dar uma caminhada por minha velha conhecida. Estacionei e fui caminhando e vendo e observando as pessoas, o trânsito, o comportamento, pois eu já tinha entregado meu trabalho, estava livre e tinha tempo para isso.
As pessoas andam num passo acelerado, quase correm, e não se olham, sequer quando param para atravessar a rua e esperar o farol abrir para elas. Estão com o rosto tenso, parecem preocupadas com algo que ainda falta fazer e não vai dar tempo. (Deve ser esse meu rosto quando saio para almoçar todos os dias...) As mulheres atam a mão e o braço fortemente à bolsa e vez por outra espiam à direita e à esquerda, olhando para trás, imagino que para ver se há alguém suspeito, querendo roubar seus pertences ou sua bolsa. Uma tensão constante no ar.
Os homens são mais relaxados. (Acho que é porque não carregam bolsas e seus milhões de pertences internos...)
Os idosos são um caso à parte. Eles são os únicos a caminhar devagar, sem pressa, a olhar ao redor com calma, a observar. Num tempo diferente dos adultos, crianças e jovens, sim, porque as crianças hoje são chamadas à roda-viva do estresse também, com seus afazeres e agenda diária que os pais lhes impõem.
Uma moça passa com um cachorrinho. Ela anda apressada, o cachorrinho está passeando (ou sendo passeado, não sei...), mas tem que correr, porque ela tem muita pressa. Ele não consegue acompanhar o passo da moça, então acaba sendo arrastado pela coleira... Passeio micado para ele e para ela, imagino.
Vejo uma mãe passar com um carrinho de bebê. Ela vai para uma sombra e tira de uma bolsa uma mamadeira com água. Num ritmo que só mães em licença-maternidade têm. Degavar, ela pega o bebê no colo, dá a água sem pressa, limpa a boquinha com cuidado com uma fralda limpíssima. Volta tudo para a bolsa. Volta o bebê para o carrinho. Em velocidade 0,5, volta a seu passeio com seu "milagre da natureza".
Isso me fez lembrar de quando minha filha Isadora nasceu. Eu fazia a mesma coisa. Até ela fazer uns dois anos, apesar de meus inúmeros afazeres de faculdade, trabalhos freelancer, eu me permitia dar dois passeios com ela no dia (às vezes era possível apenas um, paciência). Quando ela começou a caminhar, lá íamos nós, ela sempre levava uma bonequinha, e íamos conversando a linguagem dos bebês... Confesso que ter visto essa cena me trouxe uma saudade imensa da minha filha nessa idade tenra e deliciosa das crianças, quando elas são absolutamente próximas de nós, as mães, tão próximas que nós não sabemos onde terminamos e onde elas começam, se um dia nos desgrudaremos e seremos nós mesmas de novo... hoje eu sei.
Bom, a mamãe se foi. Olho o relógio do celular! Toca minha campainha interna: Ben! Estou atrasada! Esse é meu normal... Portanto, não causarei surpresa nem espanto nem raiva. Mas são só 5 minutos.
Corro até meu compromisso. Ufa! Cheguei apenas 8 minutos atrasada.
Mas acabo de pensar que nesse trajeto, eu acabei me tornando exatamente as pessoas que vinha observando: corri, não olhei ninguém, sequer no farol, não olhei o entorno. Eu me tornei o autômato que vinha descrevendo.
Cheguei à seguinte conclusão: as pessoas, como eu, estão sempre atrasadas... Talvez seja isso. (Prefiro acreditar nisso.)
Bem, compromisso finito, o dia continua lindo, caminho um tanto para pegar o carro. Paro num café, está lotado, as mesas são na calçada. As pessoas parecem felizes com esse calor que surgiu.
E a Paulista parece mais uma praia, com gente alegre, amigos tomando chopp, cerveja, bebidas geladas, todos tirando a gravata, o paletó. As mulheres de vestido.
Sem dúvida, é impossível passar incólume a essa imagem da Paulista: cheia de pessoas, vestidos, sandálias, cores, sorrisos, ela deixa de ser o corredor de concreto e dinheiro a que estamos acostumados.



Um comentário:

  1. Adorei o texto! Pude ver, através do seu olhar, toda essa riqueza de percepção, todas essas nuances que formam o ser humano. Afinal, somos todos um pouco disso tudo: seres apressados, mães com tempo de sobra, mães sem tempo algum, mulheres de vestido... E é bom também ver no outro coisas que estão em você. beijo grande.

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