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No blogue escrevo meus próprios textos (contos, crônicas, poemas, prosa poética) e também sobre os mais variados assuntos: literatura, cinema, viagens, gastronomia, amenidades, humanidades, música. Tudo que me toca. E que possa tocar os leitores.

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Resposta a "Carta encontrada numa garrafa" (postagem de 20.9.2011)

Querido,

Passeio sobre uma areia branca, como aquela em que costumávamos caminhar, meio desgarrados, mas ligados, naquelas praias de uma geografia abençoada. Estou absorta, como em geral costumo estar. Pensando, pensando. Que gosto muito de pensar! E quando penso, vou compondo tudo. E também penso no que sinto, no passado, no futuro, e nas coisas do mundo, e na geografia, e nas pessoas.
Estou absorta, mas não tão absorta a ponto de não ver que sobre a areia branquíssima deste lugar lindo jaz uma.. uma... garrafa. Sim! Uma garrafa.
Caminho mais rápido e me aproximo deste ponto, único ponto que macula a areia branquíssima deste santuário. Penso em carregá-la até o fim de meu caminho e jogá-la fora. Mas observando melhor, vejo que a garrafa bem tampada e vedada contém algo dentro dela. Fico com medo de abrir, que tenho medo das coisas que desconheço, você sabe. Olho a garrafa de todos os ângulos. Limpo com a ponta da camiseta branca a maresia, a nata de mar que se formou ao redor dela para ver melhor seu conteúdo. Há algo que parece um papel lá dentro.
Resolvo então abrir e ter acesso a esse segredo dos mares.
Aberta, ela cospe o papel amassado e úmido. Um cheiro de mar e de conchas e de peixes elétricos e de lobos-marinhos e sereias invade meus sentidos. Um vento forte e sou possuída por um encantamento marinho. O vento cessa.
Abro a carta, na verdade, a desamasso.
Leio suas ternas e amadas palavras, surpresas-palavras-marinhas, e a água salgada que vertemos pelos olhos sobre aquele papel já molhado pelo mar vai borrando o doce do seu escrever.
Vou chegando às últimas linhas. O papel não resiste a tanto sal, água, intempéries, sol, sofrimento, distância, ventos rascantes. Ele se desintegra em minhas mãos. Funde-se aos grãos de areia branca.
Agora, exatamente agora, não tenho mais nada, exceto suas surpresas-palavras-marinhas, que me encantaram como feitiço do mar, e me fizeram sentir viva como uma sereia, desejada pelo pescador que ela escolheu para si.
Você disse em sua carta: "Eu diria que é muito, se se tem a esperança e o futuro como âncora dentro de nós". Eu tenho mais: eu tenho um oceano de combinações de palavras-marinhas, marinhas-surpresas, marinhas-palavras para brincar enquanto te espero nessas areias de sonho. A esperança, sim, será minha companheira.

Sua querida

2 comentários:

  1. San,

    A lembrança do “cheiro de pólvora que me acompanhou até em casa”... não me deixou ver – é que havia uma certa embriaguês provocada pela imensidão do mar. E, embora houvesse paz e quietude, não dava pra negar a extremada exigência no controle da quilha... era preciso cortar aquelas ondas, continuar... continuar...

    O mar, às vezes, sabe fazer silêncio. Dia desses, embriagado de saudade, escrevi pra ela:

    “Senhora... o mar castigou o penhasco. Sem dó!”.

    P.S.: O mar respeita as garrafas deixadas aos seus cuidados.

    Xico Santos, 24.09.2011

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  2. Xiqueto, pirata dos 7 mares, entende de galeões... e de garrafas que são carregadas pelas ondas...

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