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No blogue escrevo meus próprios textos (contos, crônicas, poemas, prosa poética) e também sobre os mais variados assuntos: literatura, cinema, viagens, gastronomia, amenidades, humanidades, música. Tudo que me toca. E que possa tocar os leitores.

sábado, 29 de outubro de 2011

Antropofágico, ma non troppo

Canibalismo atinge corpo e sentidos, impossível deter, impossível agora voltar atrás.
As cores sanguíneas, o atropelo brutal, as marcas roxas da barbárie e da intempérie e do terror. O grito e a fúria (Edward Münch nos olhos, nos sentidos).
Garras em vez de mãos, pinças no lugar de unhas, alicates simulando coxas e braços, a voz provoca uma espécie de dor, de ira de titãs, de clamor mudo na garganta, desesperado para sair, mas impelido por uma lâmina a ficar ali estagnado como uma água de sarjeta. Tudo é tortura, marcas, feridas a sangrar. Os dentes arrancam ainda o que sobra de carne sadia nessa pele que sadicamente deseja mais desse infortúnio cruel. Dói e sangra esse ato canibal. Mas se quer mais. Por quê?
A dor, a dor que desde Sade justifica o prazer. Prazer sórdido, incompreensível, cheio de marcas e cicatrizes. Feliz em seu autossacrifício.
Mas dentro do que resta da carne, dentro do que resta do sentimento, fica um ponto intangível por esse ritual: uma antropofilia delicada que não sangra, não falece. Está ali, a vigiar corações e mentes, cuidando da humanidade e do mundo.

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