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No blogue escrevo meus próprios textos (contos, crônicas, poemas, prosa poética) e também sobre os mais variados assuntos: literatura, cinema, viagens, gastronomia, amenidades, humanidades, música. Tudo que me toca. E que possa tocar os leitores.

domingo, 2 de outubro de 2011

Meia-noite em Paris, em companhia francesa

Eu disse: "Vamos assistir ao filme do Woody Allen, Meia-noite em Paris. É lindo, você então que morou em Paris vai adorar... aquelas cenas de uma Paris belle époque, os escritores, os artistas, os pintores, um tempo adorável... aquele céu escuro pontuado de luzes e o rio Sena e as pontes. Vamos! Eu prefiro que ir ao Jazz."
Houve certa resistência, percebi, mas uma mulher sempre acaba conseguindo o que quer, usando os mais contundentes artifícios -- e se possível até os mais baixos, se ela quiser muito.
Eu já tinha ido neste ano assistir ao filme do Woody, e tinha adorado. Aquele cenário de sonho de uma Paris encantada, parada lá atrás na época do Bateau Lavoire, onde moravam os pintores e artistas, dos escritores americanos que viviam em Paris, de Dalí, Picasso, Josephine Baker, dos surrealistas e das belas mulheres, artistas ou não que viveram ali.
Eu insisti, porque sabia que alguém que vivera em Paris tantos anos, e que "vivera" Paris de verdade, e que gosta tanto de literatura e livros e arte não passaria incólume por um filme assim. Marcamos e nos encontramos lá. Como combinamos um horário muito antes da sessão de cinema, acabamos indo tomar algo antes, porque seria péssimo esperar duas horas no apertado anexo do Espaço Unibanco.
Um mojito sempre me deixa mais solta, e acabei contando minhas aventuras em Cuba, coisa que jamais conto a ninguém! E também a invasão do meu quarto em Nova Délhi (eu dormindo sem roupa, porque fazia muito calor. Uma confusão do hotel trouxe de madrugada um casal de malas e cuia para o meu quarto. Eu acordei, sem roupa, e o casal de Singapura estava lá, em frente da minha cama. Luz acesa, o funcionário do hotel com a chave na mão e a outra mão no interruptor, o olhar congelado em mim. O marido congelado também e a mulher chocada, empurrando para fora marido, malas, funcionário, e eu em vão tentando me cobrir com um frágil lençol e perguntando aos berros o que estava acontecendo!!... patético.) Sou muito fechada e discreta, amoitada mesmo, como dizem, mas um mojito tem poderes mágicos e afrodisíacos em mim... Portanto, o mundo se tornou mais lindo e aquele rum com soda e folhas de hortelã me deixaram com os sentidos mais antenados e aguçados para ver novamente, e agora sim de verdade, Meia-noite em Paris. Assim... como se fosse um preâmbulo para tudo que viria.
Pois às 20h, quando me sentei na poltrona, eu já era outra Sandra, não a mesma comportada e delicada que assistira ao filme meses antes. Os canais estavam abertos, estava solta, nada de tensão, e eu queria entrar dentro da tela e "ser" a selvagem Josephine Baker... O humor woodalliano me tocou mais forte desta vez e eu ri, despretensiosa. A literatura me emocionou mais, pudera, eu estava sentada ao lado de quem sabe e gosta, isso faz a diferança. Queria ler de novo: Suave é a noite, de Fitzgerald. Por quem os sinos dobram, de Hemingway, ouvir Cole Porter e Josephine Baker mais vezes, olhar mais meus livros da obra de Matisse...
E, como eu previra, Meia-noite em Paris atingiu diretamente os sentidos e sentimentos do passaporte francês à minha esquerda (eu sabia!). É impossível alguém sensível e repleto de conhecimento não se emocionar ao flanar novamente naquelas cenas às margens do Sena, na companhia de Scott Fitzgerald, Dalí, Gertrud Stein, Picasso, Cole Porter e toda uma prole criativa de uma época bela e de ebulição cultural -- na verdade, a beleza de um passado ao qual não pertencemos e não temos mais acesso, exceto por relatos e livros e obras. E é impossível não de reapaixonar por Paris, a cidade-luz. Sempre.
Moral da história: quando uma mulher quiser mudar seu roteiro, simplesmente aceite, não titubeie. Ela definitivamente sabe o que está fazendo. Que o diga Amélia, da ópera Amélia vai ao baile, do italiano Gian Carlo Menotti. (Quando uma mulher quer ir ao baile, ela simplemente vai, não importam os meios. Não ouse tentar dissuadi-la)

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