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No blogue escrevo meus próprios textos (contos, crônicas, poemas, prosa poética) e também sobre os mais variados assuntos: literatura, cinema, viagens, gastronomia, amenidades, humanidades, música. Tudo que me toca. E que possa tocar os leitores.

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

A vida como ela é

Passam os dias, as semanas, os meses. Vou desaprendendo os pontos da memória que aprendi com você.
As cenas que faziam falta já não fazem tanto, e me vejo doendo por ser tão cínica a ponto de me repreender: como posso esquecer e não sentir falta das pequenas coisas que me rodeavam como círculo de giz e faziam a minha vida mais doce, mais clara e jovem? Um ponto de felicidade no Universo, um ponto de orgasmo-felicidade uterina, coisa de mulher-felina que quer mais, mais, muito mais da vida.
Atiro uma pedra no oceano e quero que ela volte para mim. Um presente, um som, um jato sonoro, como colocar uma concha no ouvido. Sons marinhos. Bichos estranhos, cracas, escamas. Ferrugem e baús. A minha memória já me escapa, e me dói a ideia de ser enguia, escorregadia, lisa, fugidia, e aos poucos não ser mais sua, não ser mais sua, não ser mais sua, não ser mais sua, não ser mais sua, não ser mais, não ser... estranha dor de quem quer superar, mas quer manter. Ambiguidade humana e de mulher.
A lógica da minha mente me empurra para a frente, sempre. Mas o calor do meu coração dá um passo para trás. Lesmas no jardim, albatroz em pleno ar. Sou rasgada por essas duas imagens dicotômicas. Sylvia Plath, Baudelaire, me corrompem imagens distorcidas, diversas.
Como a vida não é o que sempre queremos, o telefone toca.. ring ring. Corro. Meu coração dispara, acelera, pula e salta feito criança. Tenho 18 anos e um sentimento de marés. Alô! -- Ainda não é você. Será um dia?
O tempo passa como uma barcaça lenta e o sentimento de maré virou brisa serena. O telefone toca. Ring... ring... ring... ring.... ring.... vou devagar atender. Digo um alô preguiçoso... Do outro lado da linha ouço as palavras mágicas que despertam a fera, a felina. O tigre em mim abocanha com fé e presas e fome a felicidade-uterina. Não há mais tempo a perder. Meu coração dispara, não tenho mais 18 anos, mas tudo oxigena em mim. Surfo nas marés que formam ondas altas. Recupero a memória dos anos e de tudo em segundos.
Assim é a vida. As ondas vêm apenas quando querem, a seu bel prazer. Há que se ter paciência de monge e esperar.

("Palavra de lesma numa lâmina de grama?" -- em um poema de S. Plath)
("Suas asas de gigante impedem-no de andar" - no poema "Albatroz", de Charles Baudelaire)

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