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No blogue escrevo meus próprios textos (contos, crônicas, poemas, prosa poética) e também sobre os mais variados assuntos: literatura, cinema, viagens, gastronomia, amenidades, humanidades, música. Tudo que me toca. E que possa tocar os leitores.

domingo, 30 de outubro de 2011

Na quietude da minha cidade

É domingo. O corpo está meio combalido dos excessos da sexta e do sábado. Não só o corpo, mas os sentidos de modo geral.
Estar solteira "fresca" numa cidade cheia de novidades como São Paulo, a minha Sâo Paulo, é um oceano de possibibilidades, cruzamento de probabilidades e hipóteses e surpresas!
Por vezes também é o silêncio de certa solidão, típica da escolha de quem quer permanecer nesse estado. Estou gostando. Acho que nunca gostei tanto. A maturidade me trouxe uma leveza para viver esse estado civil de forma mais solta, despretensiosa, sem esperar nada e ao mesmo tempo sem ter muros de cidadela, que medieval não quero ser mais.
A vida é um rio, cheio de curvas, leitos morosos e preguiçosos de retidão, de repente, desníveis agitados, pororocas que chacoalham nossa mansidão. Basta seguir o curso. A água do rio nos levará. E há de se ter o que se merece, e os outros hão de nos ter, se nos merecerem. Assim é. Eu nunca vi falhar essa lei do Universo. Uma orquestração fina que aprendi a ouvir com o coração, não com a razão.
Mas é domingo, e o rio corre hoje devagar. Choveu e o céu ficou inglês, chumbo, como gosto. Como sempre, tenho trabalho a fazer, e me dedico a isso algumas horas, apesar da minha ressaquinha e sono atrasado. Fim de tarde, garoa fina. Olho aqui de cima de minha janela-cinema. Lá embaixo posso ver a quietude da minha cidade: poucos carros, quase ninguém nas ruas de meu bairro. As árvores do parque estão quietas, como numa prece, recebem a chuva em gotas preciosas e agradecem por mais este dia.
O horizonte negro. Na esquina, vejo o asfalto brilhar por causa da água da chuva, e as faixas de pedestres de um cruzamento formam o desenho de um boneco branco esmagado por um rolo compressor contra o asfalto. Seus braços feitos de tiras brancas gritam comandos: siga por aqui, por ali; venha para cá; para lá.
O farol vermelho espelha-se numa poça d'água, os carros param. Na quietude da cidade, posso ver nesta encruzilhada, não galinhas pretas, velas vermelhas, cachaças nem charutos baratos nem pretos velhos em roupas brancas a sussurrar mandingas. Vejo sim sinais semióticos a comandar no silêncio, a dominar a cena como imperadores despóticos. A faixa branca ordena, e os pedestres atravessam, com calma, num tempo que não lhes pertence, nem a mim. Tempo que desconhecemos e que, a qualquer curva do leito, pode nos surpreender. Como na doce quietude de um domingo.

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