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No blogue escrevo meus próprios textos (contos, crônicas, poemas, prosa poética) e também sobre os mais variados assuntos: literatura, cinema, viagens, gastronomia, amenidades, humanidades, música. Tudo que me toca. E que possa tocar os leitores.

sábado, 15 de outubro de 2011

Sua marca

Foram anos. Durante muitos anos ele a vira frequentar os mesmos lugares que ele. A distância, observava seu jeito distraído, de pessoa que fica pensando e que está ali com um objetivo e não tem muito tempo a perder olhando ao redor. Em geral, ela vinha acompanhada, na maior parte das vezes de namorados, raras vezes vinha sozinha.
Com o passar do tempo, foram tantas as vezes que a viu, que ele afeiçou-se àqueles olhos conhecidos. Muitas vezes, ele tentava se aproximar, mas por ela estar sempre acompanhada isso tornava difícil qualquer approach. Durante uma fase, percebeu que ela passou a frequentar os lugares sozinha, e que parecia um tanto triste, melancólica. Imaginou que acabara de terminar um romance. Passou a observar mais de perto aqueles olhos escuros e melancólicos que iam longe. Tentou algumas vezes cruzar com mais firmeza o olhar com o dela, mas ela era meio distraída mesmo, como fazer, meu deus?? Difícil!
Ele passou a dar voltas ao redor, aí, quando ela se sentia com a atenção tomada, ele encarava seu olhar, então ela começou a perceber sua presença.
A partir disso, inúmeras vezes vezes eles cruzaram olhares, mas ele nunca teve a coragem de abordá-la e perguntar seu nome, o que fazia, que tipo de filme gostava, qual livro gostava de ler, qual era sua viagem preferida... nunca. Foram anos nesse embaço.
Ela, por sua vez, percebeu tudo, mas achou que talvez não fosse a hora. Deixou a vida correr como correm as águas do rio. Um dia, essa história desembocaria no mar.
Pois passou o tempo, e durante 3 anos não se viram mais. Ele a esqueceu, ela o esqueceu. Ela estava muito ocupada tecendo um grande amor; ele estava muito ocupado impregnando da loucura seus dias.
Pois o grande amor dela passou desta melhor, e ela passou a mostrar seu rosto de novo na multidão. Ele continuava nos mesmos lugares.
Eis que numa noite de estrelas e garoa seus olhares se cruzaram sob o firmamento. Ela estava ocupada, mas ele resolveu esperar. Como se fosse outra pessoa, e não aquele homem tímido e claudicante e inseguro do passado, no fim de tudo ele se aproximou, perguntou enfim: seu nome, o que ela fazia, de que tipo de filme ela gostava, que tipo de livro ela lia, que tipo de viagens ela gostava de fazer. Ela disse tudo que podia sobre si. E se lembrou das vezes anteriores em que se encontraram, mas que ele não havia se aproximado dela, ela não havia entendido por quê.
Saíram dali. Garoava agora. Beijaram-se com a fúria dos titãs recuperando o tempo. E as mãos percorreram tudo, para além do possível. Ele a jogou sobre o capô de um carro. Ela trançou as pernas atrás de seus quadris. De saia, ficou fácil rasgar a calcinha frágil de renda que ela vestia. Na rua, tudo tem de ser rápido. Penetrou-a com a força do sentimento de todo aquele tempo suspenso do passado, como para compensar todos aqueles anos de olhares trocados sem consequências imediatas.
Ejaculou rápido, um carro vinha ao longe com seus faróis assustadores, podia ser um meganha... Receio: tentou sair de dentro dela, mas ela, com a força das coxas que só as mulheres têm, o deteve um pouco ainda dentro de si. Beijou sem pressa sua boca deliciosa, suave, de dentes delicados, brancos e bonitos. Alisou os cabelos em desalinho, mirou-lhe os olhos, como se fosse a última vez. Desfez a pressão de suas coxas.
Ela saiu sem calcinha, entrou num bar, se arranjou. Para fechar, um conhaque, que ninguém é de ferro nesta vida de sexo sobre capôs numa metrópole cheia de faróis e perigos e meganhas e bandidos.
Entre beijos de quem não quer se despedir, despediram-se, ficaram de se ver.
Mas entre receios e faróis, ele deixara nela sua marca: 9 meses depois nasceu Vitória, metáfora da coragem de seu pai.

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