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No blogue escrevo meus próprios textos (contos, crônicas, poemas, prosa poética) e também sobre os mais variados assuntos: literatura, cinema, viagens, gastronomia, amenidades, humanidades, música. Tudo que me toca. E que possa tocar os leitores.

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

"Aquela mulher"... era eu

Quem quiser ouvir a música "Aquela mulher", de Chico Buarque de Holanda, clique no link do youtube:
http://www.youtube.com/watch?v=CQyBNfxEc2c

Uma dupla apaixonada tem sempre lá sua caixa de Pandora do bem. E atire a primeira pedra quem não tiver!
São objetos comuns, mas que marcaram um evento importante para ambos, músicas que lhes pertence (somente a eles!), lugares que frequentam como se fossem seus, só seus (!), uma rua em que algo incomum aconteceu e sempre que se passa ali uma emoção alfineta o coração para sempre, mesmo que não se esteja mais junto com esta pessoa, e já se esteja noutra faz tempo.
Em uma de minhas relações amorosas, a mais importante delas, eu diria, houve tanta intensidade, tanta química, tanta física, tanto percurso, tantos objetos, que a caixa de Pandora virou um grande baú para mim e para ele.
Viajamos o mundo, pisamos em vários continentes, portanto são várias as fotos, e são várias as lembranças, e presentes de cada cidade que visitamos juntos. E há as brincadeiras que só os dois sabem o que significa, isto é coisa de casal, de "pareja", como se diz em espanhol. Que também colocamos lá no baú de Pandora do bem.
E há os objetos comprados juntos para decorar a casa um do outro. E os livros presenteados, e os CDs, DVDs, e outros brinquedos de namorados. E São Paulo é um território imenso, e as ruas têm pontos como se fossem alfinetes num mapa da prefeitura. "Aqui nós dançamos juntos um jazz. Ali você me deu a mão e eu girei. Nesta lixeira, nos aproximamos para nos esconder e dar um beijo. Atrás desta banca de jornal você me roubou um beijo de cinema. Naquela rua da zona sul, que tem nome de rio, namoramos irresponsavelmente no carro (delícia...). Uma espécie de mapa cartográfico-amoroso. Este mapa amoroso constituiria um verbete do livro Fragmentos de um discurso amoroso, de Roland Barthes. Estivesse o grande escritor francês vivo, eu o convenceria a lançar nova edição atualizada e incluir este verbete: MAPA AMOROSO.
E há os quadros e esculturas nos museus. Que sempre nos lembram o ex-amado ou a ex-amada. Ele/ela gosta deste estilo, deste pintor, desta escola, deste tipo de luz e sombra. E há muitas outras coisas. Mas há algo mais forte que nós, que é a música.
Os namorados, os casados, ou seja lá o que for, têm sempre uma música que os liga fortemente no início de tudo. Quando escavadeiras fazem buracos no estômago, sirenes ensurdecem os ouvidos, não sabemos se telefonamos ou não, se marcamos dois encontros seguidos ou não, se devemos dormir juntos ou não, mas queremos estar 24 horas com aquele ser que nos arrebatou por completo, por quem nos apaixonamos e que está apaixonado por nós. O corpo emagrece, perdemos o apetite, há uma adrenalina constante correndo, e o coração dispara quando, no encontro, vemos aquela figura bela se aproximando. Quando ela nos abraça, é como se abraçássemos o mundo e o tempo se torna ficção, e tudo congela ao redor...
Pois a nossa música no início era "Aquela mulher", de Chico Buarque de Holanda. Na verdade, essa música ele adorava colocar no café da manhã em sua casa, depois de nossas noites tórridas de apaixonados. Mais calmos na manhã, irônico, e cínico, ele acompanhava cantando bem baixinho e olhando encantado, apaixonado, para mim: "se você quer mesmo saber porque ela ficou comigo eu digo que não sei..." [e ria, o riso da superioridade da conquista masculina contra um rival invisível e, neste caso, inexistente. Apenas em sua imaginação havia um séquito de pretendentes meus, que ele derrubara com seu charme e destreza na arte da sedução!] "se ela tem seu endereço, ou se lembra de você, confesso que não perguntei... que noites de alucinação, passo dentro daquela mulher... com outros ela diz que sempre se exibiu e até fingiu sentir prazer, mas nunca soube antes de mim, que o amor vai longe assim........... não foi você quem quis saber... [e assumia um riso cínico, irônico, superior, imaginando mil homens derrotados em armaduras numa arena, os cavalos caídos, sangrando, ao redor, e ele, o vencedor, ali, com seu prêmio, sua conquista, algo medieval e grandioso].
Eu ria, apaixonada, encantada que estava com aquele homem que conseguira enfim derrubar minhas resistências e minha barreira em relação ao amor. Por fim, sem eu perceber, ele me pegara numa curva do rio, quando vi, não havia mais volta. O jeito foi me apaixonar e amar perdidamente. Uma das melhores coisas que fiz. Então, ao concluir sua música de cavaleiro medieval, eu agia como uma donzela que baixava os portões do castelo para que o vencedor entrasse e me tomasse, e me dominasse, e me consumisse. Carne, paixão, sentimentos. Tudo!
"(...) Servir a quem vence, o vencedor" (Camões)
Porque, afinal de contas, "Aquela mulher" era eu...

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