Quem sou eu

Minha foto
No blogue escrevo meus próprios textos (contos, crônicas, poemas, prosa poética) e também sobre os mais variados assuntos: literatura, cinema, viagens, gastronomia, amenidades, humanidades, música. Tudo que me toca. E que possa tocar os leitores.

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Dica gastronômica: Ritz, mas uma ressalva: Rebeca, a mulher inesquecível

Há cerca de 20 anos frequento o restaurante Ritz da Alameda Franca.
Exatamente 20 anos. Eu estava recém-separada, dura até o osso e minha irmã mais nova, que apelidamos em casa de Mary (já que ela é muito chique) trabalhava já para pagar suas despesas paralelas à faculdade. Ela é 10 anos mais nova que eu. Pois neste trabalho, ela recebia uns tíquetes que eram aceitos em todos os bares, restaurantes e lanchonetes legais de São Paulo. Então ela me convidava uma ou duas vezes por semana, e saíamos para comer e conversar.
E foi assim que conheci o menu do descolado Ritz!
Na primeira vez que fomos lá, nos sentamos no balcão à espera de uma mesa e pedimos vinho! Nossa! Aquilo para mim, naquela época de vacas macérrimas, era um banquete de deuses...
Me lembro que nessa época, apesar da diferença grande de idade, eu e minha irmã éramos muito parceiras: eu era uma grande amiga para ela, mas era também meio mãe, e ela fazia as vezes de irmã mais nova, porém, naqueles momentos dos tíquetes, por exemplo, era uma pequena mãe que via minhas difculdades financeiras e se interpunha me dando algum amparo.
Pois bem, estávamos lá, matracando como duas irmãs costumam fazer, já na segunda taça de vermelho, e rindo bastante, e a mesa nada de vir... Minha irmã é muito bonita, chama muito a atenção, e, além disso, é taurina, sabe se produzir, então, todos os olhares vão para ela. Sei que o rapaz que estava no bar era belíssimo, mas de uma beleza delicada, parecia um quadro de algum pintor italiano renaacentista. Tinha feições claras e delicadas, cabelos encaracolados e o corpo magro e pequeno. Eu o achei muito bonito.
Ela contou os tíquetes, precavida que é, e ficaríamos só na 2a taça. Não pedimos mais nada no bar. Mas, de repente, vimos duas taças surgirem diantes de nós, plenas de um líquido vermelho e sedutor, nos chamando para um duelo!
Prontamente falamos ao barman: "Então, este vinho não é nosso... desculpe, a gente não pediu." (Afinal, estávamos com os tíquetes 'no osso'. Ele sorriu para nós e me disse: "Presente da casa. Vocês são irmãs, não são? Tô vendo vocês rirem aí há uma hora, conversarem, cochicharem, achei muito bonitinho. Resolvi que vocês mereciam mais uma taça!" E sorriu com uns dentes lindos e brancos que Deus lhe deu.
Passei a frequentar o Ritz a partir desse dia.

Bom, agora vem a ressalva*.
Nas últimas semanas tenho ido almoçar lá nos finais de semana.
Um sagitariano que se preze tem a tradição de repetir o prato num restaurante quando vai lá. Eu repito sempre o penne mediterrâneo no Ritz, há vinte anos. Como não repetir? Tomates frescos, assim como o manjericão em meio a uma massa gostosa e quentinha. Azeitonas graúdas pretas. Nham!
Pois ontem fui ao Ritz, esperei no bar minha mesa, tudo nos conformes. Lindo!

Na imagem, cena do filme de Alfred Hitchcok, Rebecca, a mulher inesquecível, baseado no romancede Daphne du Maurier. Em primeiro plano a atriz Joan Fontaine.

Pois eis que chego à mesa que adoro, que fica ao lado da janela, e quem me atende é uma tal de Rebeca, a mulher inesquecível, como no romance de Daphne du Maurier, que foi transformado em filme por nosso querido Alfred Hitchcock.
Inesquecível, Rebeca, seu mau atendimento. Eu que frequento o Ritz há vinte anos, jamais fiz uma reclamação, jamais precisei chamar duas vezes alguém para atender minha mesa, jamais esperei para ter uma informação sobre meu prato. Demorou para ter registrado meu pedido, tive então que pedir a Guilherme, o simpático garçom que atende lá fora e faz gol lá dentro também, e ele anotou meu pedido prontamente, em segundos; Rebeca, aprenda com ele.
Tentei em vão pedir um suco. Mas Rebeca, com seus olhos azuis (verdes?) muito cool, e seus cabelos loiros, está sempre muito distante dos clientes. Por que ela trabalha num restaurante então? Talvez ela devesse ter outra profissão, já que considera estar acima do céu e da terra e com seu jeito distante não enxergar quando as pessoas na mesa a chamam, apenas, para pedir um suco.
Bem, começo a ficar com fome, o que é mau sinal, porque raramente sinto fome de estar faminta... e começo a ficar a irritada, o que significa que o prato está demorando demais para vir, e ninguém veio me dizer por quê. (Poxa isso nunca aconteceu aqui, estranho o fato...) Aceno várias vezes para Rebeca, a mulher inesquecível e inatingível, mas ela está acima de tudo, então não vê, e vira de costas e vai embora, e fico a ver navios com minha irritação subindo pelas peredes... tento chamar outro garçom, mas parece que há um movimento estranho, algo parece ter acontecido ou dado errado.
Chamo então o simpático que cuida da lista de espera das mesas e de outras coisas. Ele vem prontamente, é um querido, assim como Guilherme. Sabem trabalhar, e são educados; não é preciso ser "servil" para demonstrar educação, adoro isso nas pessoas. Pergunto o que acontece, porque estamos famintos... se me disserem o que aconteceu, eu peço uma entrada, pronto!
Ele me explica que o elevador "teve um problema" ao transportar alguns pratos prontos, e a cozinha teve de refazer todos (os pobres cozinheiros e ajudantes, tenho compaixão deles, pois isso vai gerar um retrabalho e uma confusão na vida daqueles lá dentro que não são vistos, não são elogiados como mereceriam, e ganham pouco pelo belo trabalho que chega à mesa, como meu delicioso penne mediterrâneo. Aproveito aqui para parabenizar à equipe da cozinha do Ritz, vocês são tudo! Vocês deveriam ser vistos por nós! POis vocês sim fazem um excelente trabalho, ao contrário de... Rebeca, a inesquecível, que desfila seus olhos azuis (ou verdes?) do alto, e considera que seu trabalho é apenas circular entre mesas). Digo então a ele que entendo, que apenas precisava saber o que estava acontecendo e se ele pode providenciar uma entrada, pois estamos famintos.
Mas, em dois minutos, A inesquecível vem com nosso prato, e uma força oculta dentro de mim, assim que ela os coloca sobre a mesa, me faz dizer a ela o quanto é incompetente, que está sempre aérea e não vê quando chamamos, que ficamos sem informação pela demora, que ela atende mau, que deveria ser mais atenta -- eu já fui garçonete em uma situação quando era jovem, portanto, não estou falando sem experiência. Ela é ruinzinha mesmo. Ela retruca, com um olhar superior e soberbo, dizendo que outros garçons me atenderam, que ela não sabia do elevador etc. etc. num ar se superioridade irritante. Eu corto, dizendo que vou almoçar e não quero discussão. Rebeca, a inesquecível é obrigada a dizer Bom apetite e se retirar. (Detesto fazer isso, cortar alguém me apoderando de uma posição -- no caso, o fato de ser a cliente e me imbuir de razão --, mas achei que ela, na sua soberba, merecia, por isso minha raiva me impulsionou para a beira desse abismo mortal que é o lado sombrio do ser humano.)
Em pouco tempo, passou o nervosismo e almocei em paz, e Rebeca passou a ser apenas um borrão que passava à minha esquerda por vezes para servir outras mesas. Claro que ela se esqueceu de colocar à mesa os temperos para a salada de meu acompanhante, e tive de pedir a um terceiro garçom com o qual ela conversava num canto do restaurante, distraída; o outro garçom, atento, me viu acenar, claro. Este é outro detalhe bem interessante para quem quiser contratar um dia Rebeca, a inesquecível; saladas não precisam de azeite nem de outro tempero. Não. Você aprecia sua salada pura, talvez apenas com sal se houver na sua mesa... Não tem outra opção se for atendido por Rebeca.
Mas Guilherme, o simpático e bonito e educado e o também bonito e educadíssimo da lista das mesas (de quem não sei o nome, sorry) mandaram superbem assumindo o comando do navio que Rebeca quase afundou ali naquela mesa. Portanto, continuo voltando ao Ritz, e pedirei claro penne mediterrâneo...
Resultado: meu acompanhante pagou a conta, mas pedi a ele para pagar sem os 10% para a inesquecível Rebeca, pois como pagar por um serviço que ela não fez? E deixamos os 10% para Guilherme, que foi quem realmente nos atendeu fazendo gol lá dentro do restaurante e cabeceando lá fora na calçada...
Mas a ressalva é: caros leitores, vão ao Ritz, conheçam o Ritz, vocês vão certamente adorar. Mas, assim como eu, fujam, mas fujam com fé da mesa atendida pela bela porém péssima, aérea, destituída de conhecimento de seu métier e sem vontade Rebecca, a inesquecível.

** Neste post aproveito: 1. para lembrar que a equipe da cozinha existe e que é dela que se faz a fama dos restaurantes. No caso do Ritz, todos os pratos que experimento são deliciosos, parabéns a ela. 2. agradeço a Guilherme e ao simpático da lista de espera (desculpe, não sei seu nome...) a educação e o ótimo atendimento nas vezes em que fui aí.

Ritz
Alameda Franca 1.088

Um comentário:

  1. nao acredito que voce perdeu um tempao da sua vida fazendo esse texto pra tentar humilhar uma garconete obviamente linda (se nao fosse pq vc falaria tanto de seus olhos e cabelos e postura?) que te incomodou. vai arranja o que fazer, querida sandra.

    ResponderExcluir