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No blogue escrevo meus próprios textos (contos, crônicas, poemas, prosa poética) e também sobre os mais variados assuntos: literatura, cinema, viagens, gastronomia, amenidades, humanidades, música. Tudo que me toca. E que possa tocar os leitores.

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Quando o passado bate à sua porta

Quem acredita que o passado não vem atrás de nós trazendo em mãos sua fatura, como aqueles cobradores que antigamente vinham de porta em porta queimando o filme dos que deviam, engana-se redondamente.
O passado nos procura ou por vezes nos persegue, como uma fera que caça sua presa na floresta, e felinamente se arrasta, em silêncio, para capturá-la.
Você mal se dá conta e vupt, o passado está ali, cara a cara, sentado junto com você numa mesa de bar, copo de um conhaque barato numa das mãos, e o indicador da outra lhe apontando seus erros e omissões... ou seus acertos e atos bem-sucedidos. Depende do tipo de passado que o atropela pelo caminho...
Um dia dobrei uma esquina, caminhando rápido, que esse é meu jeito... Lépida e sem olhar para os lados. Vou caminhando e pensando... Pois dobrei uma esquina qualquer. Quando dei por mim, vi dois olhos felinos a me espreitar, o corpo se arquear de um jeito que só os felinos têm quando vão dar aquele bote fatal, e vupt! O passado me pegou de jeito num cruzamento! Pode isso? Eu, uma mulher tão prevenida e autocontrolada nas minhas emoções? Que acho que tenho tudo acionado por controle remoto: ligo e desligo, distancio, esfrio, recuo para não sofrer, afasto, dou marcha à ré quando vejo que o contexto vai ser um sorvedouro e vou me perder ali...
Horas depois, sentada numa mesa de bar, eu e meu passado frente a frente, o seu indicador só me apontava acertos. O tipo de passado que me encontrou era um passado suave. E só obtive flores. Ufa!
Mas, meus amigos, cuidado! O passado está sempre à espreita. A qualquer momento ele pode bater à sua porta, ou lhe pegar de jeito numa esquina ou num semáforo qualquer. Esteja preparado!

(* Dica para as meninas: se estiver de écharpe, salto alto e batom, melhor. Nunca se sabe que tipo de passado você vai encontrar! E, em alguns casos, é sempre bom fazer uma boa presença.)
;-)

2 comentários:

  1. “[...]
    É que aquele homem sempre tivera uma tendência a cair na profundidade, o que um dia ainda poderia levá-lo a um abismo: por isso sabiamente tomou a precaução de abster-se. Sua contenção, à crosta facilmente quebrável da profundidade, lhe deu o prazer da contenção. Sempre fora um equilíbrio difícil, o seu, o de não cair na voracidade com que vagas e vagas o esperavam. Todo um passado estava apenas a um passo da extrema cautela com que aquele homem procurava se manter apenas vivo, e nada mais – assim como o animal brilha apenas nos olhos, mantendo atrás de si a vasta alma intocada de um animal. Então, sem tocá-la, ele se dispôs a esperar impassível que a coisa passasse. [...]”

    (Clarice Lispector, A maçã no escuro). Esperando ser perdoado por citar-me, xico santos.

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  2. Você quer que eu "sangre", eu sei... Difícil.
    Beijos
    Tuntum

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