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No blogue escrevo meus próprios textos (contos, crônicas, poemas, prosa poética) e também sobre os mais variados assuntos: literatura, cinema, viagens, gastronomia, amenidades, humanidades, música. Tudo que me toca. E que possa tocar os leitores.

domingo, 6 de novembro de 2011

Madrugada

É madrugada de segunda-feira. Saio de um bar um pouco perdida. As ruas estão vazias. Eu estou vazia. Meu coração está vazio. Um vácuo toma conta de mim. Atravesso os faróis no sinal vermelho. Tenho medo de vacilar. Passo em frente do famoso Love story, até ali as coisas estão calmas. Estou cheia de vinho e de culpa e de medo. Como nos rituais religiosos que via quando criança. Sigo pelas piores ruas do Centro, e os travestis sequer olham para mim. Não querem meu sangue. Não querem meu corpo nem meu vil metal nem meu sexo. Sigo impávida debaixo da decadência cujo nome é Minhocão, e me sinto suja, suja como as prostitutas que não conseguem sequer chegar ali.
Quero água benta, sal, benzedeiras e aquelas beatas que oravam em tom baixo nas igrejas de minha infância. Quando estive em Madri, ano passado, ouvi as carmelitas descalças, num claustro, rezarem, no escuro, suas ave-marias, às centenas... Tétrico.
Para me purificar, quero ouvir o som de minha mãe rezando o responso de Santo Antônio, para trazer as coisas perdidas. O som da ave-maria às seis da tarde. O pai-nosso entoado às centenas naquelas procissões em vilas italianas.
Uma prece, uma oração, uma espécie de proteção. Tudo, tudo para espantar e levar para longe esse mau agouro que aterra meu coração.
Mas... sinto em minha camiseta um leve perfume, delicado. Alguém ao se despedir me abraçou mais forte e deixou seu aroma gravado em mim.
Não só as orações podem ser uma espécie de proteção, não para mim, uma mulher que respeita as forças da natureza, seus aromas, uma espécie de sinal que devo seguir.

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