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No blogue escrevo meus próprios textos (contos, crônicas, poemas, prosa poética) e também sobre os mais variados assuntos: literatura, cinema, viagens, gastronomia, amenidades, humanidades, música. Tudo que me toca. E que possa tocar os leitores.

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Meu inferno astral 5, Satyrianas, os pavões, Mr. Hyde, e "A malvada" (ou All about Eve)

Ontem foi domingo, dia de garçonete novamente no Parlapas, no evento Satyrianas, junto com meu amigo e escudeiro Leo! Foi bem sussa e trabalhei superpouco. Como choveu, houve pouca demanda no nosso balcão improvisado na entrada do bar.
Meu amigo Leo é um menino jovem, mas culto e pleno de histórias. Sempre que nos encontramos há assunto pra uma noite, tamanha é sua cultura e sua vontade de conhecer mais. Portanto, é sempre um prazer estar com ele, sobretudo porque ele é superesperto, e em qualquer emergência dá jeito em qualquer coisa bem rápido. Nos demos superbem ali no trabalho de atendentes de balcão de bebidas.
Bem, agora, volto à minha vida normal dos livros. Que esta vida conheço bem. E sei lidar com seus incêndios.
Mas o que vou falar hoje aqui é sobre uma espécie de fauna. Mas não uma fauna de bichinhos bacanas, delicados, às vezes em perigo de extinção. Não. Estes, ao contrário, crescem em progressão geométrica e, assim como a ditadura, tomam nosso jardim e nossa casa. Um perigo!
Um deles são os pavões, não os animais, mas certos seres humanos que enxergam apenas o próprio umbigo e no ápice do orgasmo de vê-lo assim tão lindo abrem sua cauda maravilhosa e colorida...
Vou dar um exemplo para esclarecer: um homem solteiro conhece uma mulher solteira. A partir disso passam a se ver com alguma regularidade, mas com certo distanciamento de ambos. Tudo se resume a: jantares, vinhos, conversa, troca de livros, algum carinho depois, e até logo de Cinderela, adiós! Ele se incumbe dos telefonemas, porque ela não tem nenhuma tem paciência de ficar telefonando para marcar os tais dos encontros, nem ficar fazendo "H" e salamaleques. Então, ele mesmo toma conta desta parte, e há alguma regularidade desses encontros que, para ela, nada significam além de: jantar, conversa, vinho, livros, algum carinho, boa-noite, Cinderela, adiós! nada, nadinha. É tudo muito monótono para que ela queira que se transforme em alguma coisa.
Pronto. Parecia resolvido. Mas nesse meio tempo ela conheceu outras pessoas, já que era livre (e ele certamente deve ter conhecido. Isso não era nenhum problema. Não havia nada contratado verbalmente nem tacitamente). Ela passou a encontrar outras pessoas também. Então, algumas vezes deixou de ir a esses "jantares" e ele também deixou de marcar algumas vezes os tais encontros. Para ela estava claro que havia aí um distanciamento de algo que era superficial, nem era preciso dizer nada. Ia ser um desligamento natural de algo que estava pra lá de desligado já.
Mas o pavão ficou lá com seus botões pensando com seu umbigo... Abriu seu leque e teve que abrir seu também seu coração e dizer depois de semanas sem se falarem (ela já nem se lembrava mais dele!) que sentia muito, mas não queria "compromisso"! (Meu deus, que compromisso? Onde? Com quem? Quando?) Quer dizer, o sumiço dela já deveria ter sinalizado que ela não estava mais nem aí pra ele, mas o umbigo do "pavão" não o deixou enxergar isso. Imagine, ele deve se imaginar o Alain Delon no auge, gatésimo, na época do belíssimo Acossado. Hello! Então, sua cauda teve de se abrir e ele teve que abrir seus pensamentos e dizer da sua aflição...
Essas pessoas merecem o quê? (Eu sei: terapia.) Mas como terapia demora a fazer efeito nesse tipo de gente que enxerga apenas a si mesmo, o que se deve devolver como resposta? Bem, ela respondeu argumentando com a verdade dos fatos, pontuando com a sua ausência já havia tanto tempo, será que ele não havia percebido? (E o pavão fechou zangado sua cauda! Não era para terminar a brincadeira assim!)
Bem, caro leitor, terminado o estudo dos pavões.
Agora vamos para o estudo de outro espécime da fauna: os Mr. Hydes.

Na imagem: Frederick March e Mirian Hopkins, no filme O médico e o monstro, de 1931, um dos clássicos do diretor Rouben Mamoulian -- que confesso é um dos meus preferidos porque considero mais noir. (Mas há ainda a versão de 1941 (tenho ambas em DVD), estrelado pelo maravilhoso Spencer Tracy e a belíssima Ingrid Bergman, versão que também concorre bem com esta a de 1931.)

Certos seres humanos imaginam que os outros seres humanos não têm percepção das coisas. Pois é. Às vezes, por certos momentos, realmente, cochilamos, mas logo nossa inteligência e instinto puro de sobrevivência resgatam nossa sanidade.
Bem, apesar de uma boa trégua, infelizmente tenho de avisar à sociedade que Mr. Hyde está à solta novamente e tenta fazer seus estragos nos subterrâneos. Mas com muita pesquisa de laboratório descobri uma fórmula Tabajara de proteção que tem dado supercerto. Você muda de lugar para não ser visto, mas se ainda assim for visto por ele, você recua de modo a deixar claro que não quer contato físico nem verbal. Mas, se ainda assim, isso não for suficiente (Mr. Hyde é insistente, e lembrem-se, perturbado e atormentado e adora atormentar), é só fugir para um local onde haja luz, lá ele não conseguirá lhe atacar, porque ele apenas circula pelos becos e meandros e lugares obscuros da cidade.
Portanto, cidadãos de bem, como Mr. Hyde está à solta, por estes dias, protejam-se passeando apenas por lugares iluminados. Nada de passar por vielas, becos, namorar em ruas escuras. Deixem passar a fúria da fera. E a sociedade poderá voltar ao normal. Pronto! Falei!
Mas como ainda acho que não disse tudo que poderia sobre esse tipo de fauna, ainda digo: uma mulher não é muito areia para seu caminhãozinho... Não. No meu caso eu seria areia de todas as praias para sua pequena bicicleta infantil tipo pequeno pônei: o metal seria corroído rapidamente pela abrazão, aros, guidão, garupa, banco, corpo da bicicletinha, tudo... só sobrariam os pneus, ainda assim, inúteis e um tanto carcomidos.
E é aqui, caro leitor, que entra a referência ao clássico do cinema de 1950, um dos meus preferidos por sinal, A malvada, com Bette Daves e Anne Baxter: parafraseando Mae West, quando sou generosa sou ótima, mas quando sou má, ah... aí posso ser excelente e vil, como Eve.

Caros leitores, o veneno utilizado neste texto teve o patrocínio de TTTRIM... ;-)

* A frase original creditada à atriz norte-americana Mae West: "Quando sou boa, sou ótima, mas quando sou má, sou melhor ainda..."

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