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No blogue escrevo meus próprios textos (contos, crônicas, poemas, prosa poética) e também sobre os mais variados assuntos: literatura, cinema, viagens, gastronomia, amenidades, humanidades, música. Tudo que me toca. E que possa tocar os leitores.

sábado, 12 de novembro de 2011

Meu inferno astral 3, os miosótis e "nem sempre sou da minha opinião"

Uma sagitariana, ou vamos dizer assim, eu, muda muito de ideia. Ou como diria Paul Valery: "Nem sempre sou da minha opinião". Trago isso como uma máxima, porque aprendi ao longo da vida, por inúmeras razões, alegres e tristes, que não devemos nos levar muito a sério.
Não somos nada. Estamos, isto sim. Pois apenas passamos por este território. Como uma pluma que ao vento passa por nossos olhos suavemente, e podemos vê-la ir-se, dando um adeus delicado, sem grandes tristezas, para partir para outros lugares e ser pluma a outros olhos, e ali, ela será outra, talvez tenha outro nome, não pluma, mas plumme, se chegar ao territõrio francês, por exemplo. Pronto, ela já não é mais! Está!
Enquanto escrevo vou ouvindo a melodia de que mais gosto: "In a sentimenta mood", quem quiser ler acompanhado por ela, é só clicar: http://www.youtube.com/watch?v=sR13ECD71xU
É uma melodia de pluma que passa, e fica.
Continuando... Portanto, como me imagino pluma deslizando no ar sobre território mundano, sei que "estou" várias coisas. Num lugar estou Tuntum querida e amada; noutro, estou configurada de outra forma e devo ser detestada por, talvez, boas razões do meu "detestador"; em outros, estou amada por homens sutis, que sensíveis me enxergam como vaso de cristal, e chegam lá no meu território mais sagrado, onde quase ninguém ainda chegou, e talvez por isso estes homens tenham aquela visão do paraíso de que fala Sergio Buarque de Holanda, porque a mulher "(...) é um livro místico /e somente a alguns a que tal graça se consente /É dado lê-la (...)" [trecho do poema de John Donne, "Elegia", trad. de Augusto de Campos]. Às vezes, estou pedra, opaca, e não posso ser amada, porque não posso mostrar o que tenho. Então, eles sofrem, ou eu sofro, ou sofremos juntos. Assim é. E não se pode fazer nada. "Estamos" fodidos ambos.
E como somos plumas deslizantes nesta vida, ora penso uma coisa, ora penso outra.
Hoje acordei pensando que fui injusta. Eu ganhei muitas flores, rosas, flores do campo, tulipas, minirrosas, arranjos em formatos os mais variados, enfim. Ingrata, rançosa, mimada, manhosa. Teu nome: mulher.
Portanto, decidi vir a público e me desculpar por esta ingratidão cibernética. Bits e Bytes destruindo momentos que foram importantes e que minha sanha enxergou nublado. Fui acarinhada sim com muitas flores.
E puxei fundo o fio de Ariadne na memória. Ganhei flores de todos os meus amados, em diversas ocasiões. Por que fui tão mimada ontem escrevendo tamanho despautério?
Porque estou no inferno astral! Só pode ser isso! E confesso: um pouquinho de TPM acompanhando esse ranço todo... :-(
E percorrendo minha memória com a ajuda de Ariadne e seu fio mágico, cheguei ao meu casamento. Eu tinha 20 anos, fazia a faculdade de medicina, estava apaixonada por ele, aquele homem 12 anos mais velho que eu que me desvendava o mundo e que me admirava como se eu tivesse 30 e soubesse de tudo! Ele considerava que eu já era uma mulher... Engraçado. Apaixonados, nos casamos e vivemos juntos 8 anos. No início, líamos juntos Fernando Pessoa, e ele ouvia pacientemente meus poemas daquela fase... Me lembro bem: aos dois meses de namoro ele me deu uma joia que guardo até hoje. Devia estar muito apaixonado... Mas flores... não me lembro. Ele não era do tipo romântico, era do tipo prático: "Sandra, vou te dar um computador de presente"; "Sandra, li na Folha que foi lançado O perfeito cozinheiro das almas deste mundo [livro fac-símile do diário da garçonnière de Oswald de Andrade e amigos]. Vou comprar pra você". Ele pedia para um office-boy ir lá comprar e me trazia de noite. Dizia: "Olha aí, comprei". Eu recebia, e não dizia nada, porque esse era seu jeito de me dizer: eu amo você.
No entanto, Ariadne me leva no recôndito mais profundo da minha caixa: foi este homem que me deu não uma flor, mas um jardim, que cultivo diariamente há 24 anos: minha filha Isadora. Ela é um imenso jardim de miosótis, flor que também se chama amor-perfeito. Como pude me esquecer disso? O grande amor da minha vida foi ele, com sua generosidade, quem me presenteou.
Nem sempre sou da minha opinião, como Paulo Valery. Ainda bem!
Estou desculpada?

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